Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Foto da capa: A colônia Nova Friburgo, em 1823, que abrigou colonos suíços.
Nesta edição, vou ceder esse espaço ao jornalista, escritor e historiador cantagalense, Acácio Ferreira Dias. Em seu livro, Terra de Cantagalo, Volume II, no capítulo A Princesa Isabel, filha do Imperador Pedro II, de passagem por Cantagalo, a 2 de junho de 1868: o historiador traz uma narrativa nua e crua do escritor José Soares de Souza sobre essa histórica visita. A princesa (Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon e Bragança) era casada com o conde D’Eu. Um casal com algumas contradições. Mas vamos ao que interessa…
A 2 de junho de 1868, acompanhados de um grande cortejo de 300 cavaleiros (os cavalos ficaram hospedados no Pasto dos Reis). Depois de duas horas de viagem, os príncipes entram em Cantagalo.
A impressão de Dona Isabel não é boa. Escreve ela: “A cidade não é bonita e muito mal colocada, esta pode-se dizer é um buraco”. Talvez esqueceram-se de lhe dizer que, no passado, era o esconderijo de um garimpeiro famoso: Manuel Henriques, o Manuel Luva.
“A rua principal chama-se Direita e, como todas as ruas direitas, é torta…”. Humor sarcástico.
“Num largo, situa-se a Igreja, onde vão rezar”. É verdade, a Igreja é um templo de orações. E se hospedam em casa também de propriedade do barão de Nova Friburgo, que a prepara suntuosamente (é o Palacete do Gavião). Escreve então a princesa: “É um bom velho o Nova Friburgo e toda a família também muito boa e muito agradável”. O Conde de Nova Friburgo, idoso, foi quem deu a Cantagalo riqueza e desenvolvimento socioeconômico. Um empreendedor à frente de seu tempo. A princesa não sabia nada sobre o conde. Foi muito mal-informada.
O barão contava 73 anos. Sua esposa e prima, Laura Clementina da Silva Pinto, nascida em 1808, era um pouco mais nova, estava com 60 anos. A família resume-se em dois únicos filhos, Antonio e Bernardo.
O primeiro, Antonio Clemente Pinto, nasce em 1830 e falece em 1898. Casa-se com Maria Fernandes Chaves. Na época já possuía o título de barão de São Clemente, elevado a visconde e, mais tarde, a Conde. O casal tem dois filhos, um dos quais, Antonio Clemente Pinto, nascido em 1860 e falecido 1912, casado com Georgina Darrigue de Faro, e agraciado com o título de segundo barão de São Clemente, em 1885.
Bernardo Clemente Pinto Sobrinho, o segundo filho, nasce em 1835 e falece em 1914. Casa-se com Ambrosina Leitão da Cunha e recebe o título de segundo barão de Nova Friburgo, em 1873. Elevam-no a visconde e mais tarde a conde.
Na noite desse dia 2 de junho de 1868, Cantagalo apresenta aspecto festivo e grande animação, segundo o comentário da princesa.
O dono do hotel Leuenroth chama-lhe a atenção para um par constante, que não perde valsas e polcas.
Trata-se de um senhor Perdigão, minúsculo, de estatura reduzida, cuja dama é a irmã do presidente da Câmara, o vereador Sauerbronn, portanto descendente do pastor Sauerbronn, chefe espiritual dos colonos alemães, vindos para o Brasil em 1823, pelo navio I, Argo. Tem ela grande estatura, “uma mulheraça”, na expressão da princesa. O contraste do casal provoca admiração.
Ainda no baile, dona Isabel conhece um suíço, dr. Beuclair, que tem um irmão, herói de aventura sem precedentes, ocorrida em 1860. Enlouquecendo, joga-se de grande altura na cachoeira Ronca Pau e nada sofre. Pelo contrário, o choque devolve-lhe a razão, segundo a tradição oral.
No dia 4 de junho partem de Cantagalo às 9h da manhã, acompanhados dos dois filhos do barão de Nova Friburgo: o barão de São Clemente e Bernardo Clemente Pinto.
Almoçam junto à cascata do Ronca Pau, belíssimo local. Depois passam pela freguesia de Santa Rita (Euclidelândia), “muito mal situada”, conforme o relato da época, sendo recebidos pelo vigário, bom homem, instruído, cumpridor de seus deveres, mas sem papas na língua.
Vão dormir na fazenda de Areias, também propriedade do barão de Nova Friburgo. De noite, assistem, nas senzalas, a batuque, fado, lundu, e outras danças folclóricas, por conta dos escravos que muito os divertiu, registra a princesa. A princesa ainda não demonstrava, na prática, muito interesse pela abolição da escravatura.
Na manhã do dia 5, seguem para outra fazenda, Itaoca, também em Boa Sorte, a fim de partilhar emoções de uma derrubada (corte de árvores).
O almoço é em Areias. Acompanham, então, a faina habitual da fazenda, nas várias ocupações com o café, antes de ensacá-lo, e, na seção de pesagem, aproveitam a oportunidade, para obterem 4 arroubas e 20 libras, a princesa; e o conde d’Eu 4 arrobas e 25 libras, presentes dos proprietários.
Numa caçada de capivaras, consomem a tarde desse dia, e atrasam a partida a pedido dos campistas, pois dali iriam visitar o município de Campos que solicita a chegada dos príncipes a 10 de junho. Assim, todo o dia 6, ainda permanecem em Areias e também no dia seguinte. Têm dois almoços, nessa etapa; um na casa do Pires Veloso, onde se acha a mãe de Capanema, outro na mansão do capitão Lontra. E às 3 da tarde chegam à aldeia da Pedra, sendo hospedados por Antonio Faro. Da casa se descortina linda vista do rio Paraíba.
Pela manhã já se encontram a caminho. Almoçam na fazenda da Boia e vão dormir na fazenda da Pureza, do Fonseca Marinho, bela propriedade, situada às margens do rio Paraíba do Sul.
Finalmente, chegam a São Fidélis (ainda pertencente ao município de Campos), no dia 10. Visitam a Igreja em muito mau estado de conservação. “Bem reparada, bem caiada, poderá ser uma bela igreja”.
Referem-se, depois, às curiosas e antigas pinturas do templo e informam que lhes mostraram as caixas dos ossos dos freis Angelo, Vitório, João e Tomás. Os vapores procedentes de Campos, que vêm buscar os príncipes, trazem numerosa comitiva, citando dona Isabel os membros das famílias Pinheiro, Neto Cruz, Itabapoana, Caldas Viana, Alves Montenegro, etc. Ao meio-dia partem de São Fidélis para Campos onde pretendem chegar às 4 horas.
A viagem dos condes d’Eu continua até a segunda quinzena do mês de julho, regressando por Quissamã, Macaé, Araruama, Rio Bonito e Itaboraí para o Rio de Janeiro.
É sempre bom conhecer as filigranas da História, o que pensam “nos bastidores” aqueles personagens que pululam em nossos livros de estudo. Como agiam no dia a dia os imperadores, príncipes e princesas, conde e barões, que não eram seres extraordinários, mas simples mortais como nós. Com muito mais regalias e rapapés, é verdade…
2 Comentários
E a falta de conhecimento histórico resultou na trocaca do nome ” Pasto dos Reis” para ” Passos dos Reis”!
E a falta de conhecimento histórico resultou na troca do nome ” Pasto dos Reis” para ” Passos dos Reis”!