“Os Clemente – Parte I”, por Celso Frauches

António Clemente Pinto, primeiro Barão de Nova Friburgo, nasceu na freguesia de Nossa Senhora de Aboadela (ex-Santa Maria de Bobadela), do vilarejo de Ovelha do Marão, Portugal, em 6 de janeiro de 1795. Filho de Luiza de Miranda e de Manoel José Clemente Pinto. Vieram para o Brasil com cinco filhos.

Chegou em 1821, onde passou a trabalhar em uma loja na cidade do Rio de Janeiro. Casou-se com Laura Clementina da Silva, e foram pais dos condes de Nova Friburgo, Bernardo Clemente Pinto Sobrinho, e de São Clemente, Antônio Clemente Pinto Filho.

 

 

A sua adaptação à vida luso-brasileira deu-se com a colaboração de João Rodrigues Pereira de Almeida.

Almeida (1774/1829), primeiro e único barão de Ubá, era negociante, traficante de escravos, senhor de engenho e banqueiro, além de exímio articulador político, proprietário da fazenda Ubá, às margens do rio Paraíba do Sul.

O arquiteto e pesquisador Luiz Fernando Dutra Folly, com vasta experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em paisagismo, história do paisagismo, patrimônio cultural, história dos jardins e história da arte, afirma sobre os Clemente Pinto:

Se voltarmos o nosso olhar para a época do Brasil Império e se tentarmos procurar nas famílias nobres brasileiras, um nobre que tenha um título de nobreza e que incorpore não a posição militar ou executiva que seus títulos desempenhavam, mas sim a grandiosidade de bens, de uma vida de verdadeiro senhor feudal, dificilmente encontraremos outra família como a dos Clemente Pinto. Os quatro nobres da família Clemente Pinto tiveram uma vida de verdadeiros senhores feudais, pois tinham na cidade de Nova Friburgo e redondezas, seu feudo, seu quintal, o seu jardim”.

Camila Dias Maduro, em Os jardins da Chácara do Challet – Uma análise da atuação de Glaziou em Nova Friburgo (Rio de Janeiro, v. IV, n.2, abr. 2009) (Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/jardins_glaziou.htm>), fala de histórias infundadas a respeito do rápido enriquecimento dos Clemente Pinto:

Uma delas fala da relação do português com o Barão de Ubá – este teria doado terras na região de Cantagalo para ele. Outra, mais curiosa ainda, fala sobre Clemente Pinto ter encontrado o tesouro de um lendário contrabandista de ouro das Minas Gerais (Manuel Henriques, o Mão de Luva), considerado o fundador de Cantagalo, que utilizava uma estrada alternativa que passava por Cantagalo e Friburgo para escoar os montantes para além-mar”.

E acentua: “Fato é que Clemente Pinto se tornou muito poderoso: mais de 20 fazendas no interior do estado do Rio foram construídas e administradas por ele e por seus herdeiros. Assim, o comércio de escravos e a plantação de café com mão de obra também escrava contribuíram para a manutenção do poder da família durante muito tempo”.

 

 

A fazenda de Areias, adquirida em 1840, passou ao conde de São Clemente, à baronesa de Rio Bonito e Antonio Clemente Pinto Neto (segundo barão de São Clemente, filho do barão de São Clemente, nasceu em Nova Friburgo, no dia 19 de março de 1860, faleceu em 13 de outubro de 1912; casado com Georgina Pereira de Faro, agraciado barão em 20 de julho de 1863); a fazenda Bemposta, adquirida em 1880; fazenda Boa Sorte, adquirida em 1818; fazenda Itaoca, que passou para o Conde de Nova Friburgo e deste para Maria José Clemente Pinto. Todas sediadas no distrito de Boa Sorte, onde está localizada a maioria das fazendas históricas de Cantagalo.

Outra “característica peculiar unicamente aos Clemente Pinto é a grande quantidade de títulos de nobreza distribuídos a membros de uma mesma família e na sequência linear genealógica. Além das alianças formadas através do casamento com nobres imperiais. No período republicano alguns remanescentes da família ainda se tornam grandes coronéis nas cercanias das Fazendas de Areias e Boa Sorte”. Com a construção da Estrada de Ferro Cantagalo, o barão de Nova Friburgo é um dos líderes da industrialização no antigo Estado do Rio de Janeiro, quando a capital era em Niterói. Um de seus companheiros foi Irineu Evangelista de Souza, barão de Mauá, o primeiro grande industrial do Brasil.

Construiu o palacete do Gavião e o palácio do Catete, no Rio de Janeiro, projetos do arquiteto alemão Gustave Waenheldt, sede do governo brasileiro, enquanto o Distrito Federal funcionou na Guanabara, à época conhecido como Palácio Nova Friburgo, e o Chalé do Parque São Clemente, sua residência em Nova Friburgo.

Por sua iniciativa, implantou o primeiro ramal da Ferrovia de Cantagalo, ligando Porto das Caixas − à época pertencente à vila de São João de Itaboraí − a Nova Friburgo.

Após sua morte, seus filhos prosseguiram com o projeto ferroviário, ligando Porto das Caixas até Niterói e depois até Cantagalo, passando por Nova Friburgo. Por fim, em 1882, a ferrovia atingiu a localidade de Itaocara, às margens do rio Paraíba do Sul.

Recebeu o baronato por decreto de 28 de março de 1854 e grandezas por decreto de 28 de abril de 1860. Era Grande do Império, um tratamento honorífico dos antigos “Grandes do Reino“. Foi reconhecido como Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa e de Cristo, além de Fidalgo Cavaleiro da Casa Imperial. Originalmente eram recompensa e reconhecimento por serviços grandiosos prestados à pátria.

 

 

Antônio Clemente Pinto Filho (1830/1898), primeiro barão, visconde e Conde de São Clemente, filho de Laura Clementina da Silva e de Antônio Clemente Pinto, nasceu no Brasil. Foi fazendeiro, negociante e veador, antigo título honorífico da Coroa Portuguesa, dado a quem exercia as funções de oficial-mor da Casa Real que servia junto à rainha ou imperatriz, no paço ou fora dele. Exerceu ainda algumas funções na diretoria de algumas instituições públicas e no Paço.

Casou-se com Maria José Rodrigues Fernandes Chaves. O casal teve três filhos: Alice Clemente Pinto (1864 – 1896), casada com o Conselheiro Rodolpho Epiphanio de Sousa Dantas, pais de Maria José de Souza Dantas, Ana Amália de Sousa Dantas, Clemente de Sousa Dantas, Otávio Clemente de Souza Dantas, Paulo Clemente de Souza Dantas e de Antônio Clemente Pinto Neto, 2º barão de São Clemente; Maria José Clemente Pinto e Antônio de São Clemente (1860/1912) que se tornou em 1885 o 2° Barão de São Clemente, casado com Georgina Daguirre de Faro, filha do Barão do Rio Bonito.

Foi diretor da Caixa Econômica e Monte de Socorro, criada em 12 de janeiro de 1861 por Dom Pedro II.

Após o falecimento dos pais, vendeu o prédio que viria a ser chamado de Palácio do Catete, para um grupo de investidores, que fundou a Companhia Grande Hotel Internacional, transformando o palácio em um hotel de luxo.

Foi agraciado grande dignitário da Imperial Ordem da Rosa e comendador da Imperial Ordem de Cristo e da Ordem de Cristo e da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.

 

CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA…

 

Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.
Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.

 

 

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Um Comentário

  • Vc teria mais informações sobre Alice casada com Rodolfo Dantas?

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