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Quem se dedica ao estudo da história cantagalense, logo verifica que a evolução do lugar foi marcada por quatro ciclos econômicos perfeitamente definidos: o do ouro, o do café, o da pecuária e o do cimento. O primeiro, embora importante, porque motivou a ocupação da área, foi fugaz e enganador, ensejando o desencanto de muitos povoadores iniciais. O terceiro e o quarto foram notáveis e até decisivos para o progresso do lugar, mas deixam de ser aqui considerados, porque não foram específicos da área ou se manifestaram em épocas mais recentes.
Neste espaço, vamos ventilar apenas o ciclo do café, que foi o mais importante de todos e o que mais projeção deu à cidade de Cantagalo.
Depois de haverem inundado os morros do Rio de Janeiro (enfeitando, inclusive, o brasão de armas do Império), os cafeeiros subiram a serra de Friburgo e invadiram os antigos sertões do Macacu com uma fúria inaudita. Os primeiros exemplares entraram na região em princípios do século XIX, certamente como espécimes exóticas de viveiros preparatórios de futuras lavouras, espalhando-se rapidamente nos anos subsequentes. Quando John Mawe visitou a área, em 1809, já encontrou muitas plantações de vulto, como a do tenente Joaquim José Soares, nas “Lavrinhas, e a do açoriano Manoel José Pereira, na fazenda “Rancharia” (hoje Monnerat), onde havia “cinco mil pés de café em pleno crescimento”.
Mas a grande expansão do café ocorreu mesmo a partir de 1820, com a chegada do português Antônio Clemente Pinto (futuro barão de Nova Friburgo) como simples sesmeiro. Segundo consta, ele começou a epopeia na fazenda de “Areias”, em Boa Sorte, plantando, ali, as primeiras lavouras, que acabaram se estendendo às demais propriedades que foi adquirindo nos anos seguintes, como “São Clemente”, “Boa Sorte”, “Laranjeiras” e outras desse porte (há quem diga, certamente com algum exagero, que chegou a possuir, na região, 21 fazendas), acabando por construir numa delas (“Gavião”) a mais suntuosa sede rural do Brasil-Império.
Seguindo os passos do notável empresário luso, muitos outros fazendeiros também plantaram imensos cafezais, derrubando matas e lançando bases de grandes fazendas, que acabaram bordando toda a região. E, assim, o grande município de Cantagalo, que cerca de um século antes era mero sertão inculto, habitado só por “índios brabos”, transformou-se na meca do café e terra de opulentos barões, haja vista que a região chegou a possuir cerca de 20 titulares do Império!
O fato é que, em meados do século XIX, o município desbancou Vassouras, antes “rainha do café”, e a então Província do Rio de Janeiro, graças à produção de Cantagalo, suplantou a de São Paulo e a de Minas, assumindo a liderança da produção de café em todo o território nacional. Segundo Roberto Simonsen, a Província Fluminense, então batida por elas, disparou na frente, com 77,12% da produção brasileira, contra 13,82% de São Paulo e 7,63% de Minas Gerais. Em 1860, essa porcentagem subiu para 81,57%, num total de 8.746.361 arrobas.
Em razão desse avanço, a sociedade cresceu (a despeito do regime escravocrata, que também aumentou), com a elevação da vila à condição de cidade, em 1857; introdução da ferrovia, em 1876; novos jornais, teatro (1878); um grandioso templo católico (1876); vários colégios e empresas de expressão. Em suma: o lugar acabou alcançando grande projeção, sobretudo na Europa, de onde vieram príncipes, cientistas e viajantes só para conhecê-lo. Alguns dos seus habitantes chegaram a angariar fama até no exterior, como o conde de São Clemente, que recebeu comendas de vários países, tal a importância do ciclo do café na história cantagalense.
*Clélio Erthal é desembargador federal aposentado, pesquisador, escritor e autor de vários livros sobre a história dos municípios da região.