“Os tempos da Prefeitura de Cantagalo – parte 1”, por Celso Frauches

No primeiro mandato de Henrique Frauches como prefeito de Cantagalo, pelo antigo Partido Social Democrático (PSD), liderado pelo coronel Marcelino de Paula, iniciado em fevereiro de 1955, não participei, exceto por um curto período, para o planejamento e a organização dos festejos do centenário de Cantagalo como cidade, em 2 de outubro de 1957.

Tinha criado, em Niterói, capital do antigo Estado do Rio de Janeiro, com alguns amigos, destacando-se o Geraldo Arruda Figueredo, o Casemiro e o Dr. Lizt Sá Vieira, o Grêmio dos Amigos de Cantagalo (GAC) e, nessa condição, é que participei dos festejos referidos. Não me envolvi com a administração da Prefeitura.

Procurava, apenas, noticiar os eventos do município, nos periódicos da então capital fluminense, nos jornais que colaborava, mencionados em outro artigo neste JR.

Ao terminar o seu mandato, Henrique desligou-se do PSD e da política cantagalense e mudou-se para Niterói. Saí da Pensão de Dona Irene, onde residi entre 1955 e 1960, e fui morar com meus pais num apartamento que adquirimos no bairro Vital Brasil, em frente à casa do deputado Walter Vieitas. Henrique deu a entrada e eu fiquei responsável pelo pagamento das prestações.

Meu pai assumiu o cargo de técnico em contabilidade da Legião Brasileira de Assistência (LBA), seção fluminense, com sede em Niterói. A LDB acabou sendo extinta pelo famoso Collor, quando assumiu o cargo de presidente da República, com a fama de “caçador der marajás”, de triste memória.

Em 1962, meu pai passou a receber apelos de lideranças políticas cantagalenses para ser candidato a prefeito, em oposição ao PSD, que dominava a política do município há décadas.

No início ele resistiu. Negou-se a dialogar sobre o assunto. Mas a pressão foi aumentando e o “vírus da política” voltou a envolver sua vida.

Lembro-me da visita de algumas lideranças, em nosso apartamento no Vital Brasil, como o Manoel Losada, o Joel Naegele, o Cidinho Richa, e outros cujos nomes me fogem à memória, de diversos partidos da oposição (PTB, PRP, UDN), com insistentes apelos a Henrique para que ele aceitasse a candidatura. E o argumento era sempre o mesmo: “O senhor é o único candidato que pode derrotar o PSD em Cantagalo”.

Meu pai, numa longa conversa comigo e minha mãe, Telva, disse que poderia aceitar ser candidato a prefeito de Cantagalo desde que, caso eleito, eu fosse ajudá-lo na Prefeitura, pois ele já não tinha as mesmas condições físicas do primeiro mandato.

Após consultar os meus superiores na Alerj, com a ajuda do primo e amigo Douglas, recebi o sinal verde para ficar à disposição da Prefeitura de Cantagalo, caso meu pai fosse eleito.

Disse-lhe, então, que poderia ficar à disposição da Prefeitura, no período 1963/1966, na hipótese dele ser eleito prefeito.

Lembro-me que minha mãe foi contra a candidatura de meu pai. Não queria voltar a Cantagalo para “ficar viúva de político vivo”, como dizia dona Mora, esposa de Ulysses Guimarães. Realmente, o prefeito de uma cidade pequena não tinha horário de trabalho. Quando ele foi prefeito, às vezes era acordado de madrugada para resolver problemas de internação de doentes, pessoas que foram presas e coisas similares. Diversas vezes ele mesmo dirigia o jipe, o único veículo da Prefeitura à disposição do prefeito, para levar pessoas doentes a Bom Jardim ou Nova Friburgo. No seu segundo mandato, presenciei essa cena inúmeras vezes. O quarto de meu pai era de frente para a rua. As pessoas batiam na janela e ele tinha que levantar e verificar o que estava acontecendo, qual a necessidade da pessoa ou das pessoas, sendo eleitor dele ou não. Ele não discriminava ninguém. Atendia a todos igualmente. Era prefeito do povo, do município e não dos partidos que o elegeram.

Para obter competências e habilidades para o exercício do cargo de secretário da Prefeitura de Cantagalo, fiz, pelo Ibam, o curso de Administração Municipal. Ali fiz amigos e parceiros para o meu futuro na administração de Cantagalo.

Infelizmente, minha mãe nos deixou ao final do primeiro ano de mandato de meu pai, em dezembro de 1963. Adoeceu e, em uma semana, Henrique teve que levá-la para ser hospitalizada em Nova Friburgo. Mas ela não estava suportando o sacrifício da viagem. Meu pai teve de interná-la no Hospital de Bom Jardim. Ali, já noite, aplicaram-lhe sedativo para as fortes dores abdominais que sentia. Dormiu e não mais acordou. Os dias que se seguiram foram de dor e sofrimento para meu pai e para mim. Eu não me esquecia da insistência dela para que meu pai não voltasse à Prefeitura.

Participei, quanto pude, da campanha de Henrique. Ele foi registrado pelo Partido de Representação Popular (PRP), presidido pelo Cidinho Richa. O PRP foi um partido político criado, em 1945, por Plínio Salgado (1895-1975), em substituição à Ação Integralista Brasileira (AIB), partido de extrema-direita. A professora Amélia Thomaz era um de seus discípulos. Mas o Cidinho não tinha nada de fascista. Era uma liderança política democrática, séria, responsável e compromissada com o desenvolvimento de Cantagalo. A sua amizade com meu pai foi decisiva para que este aceitasse o registro pelo PRP, à época, o único partido de oposição ao PSD, em Cantagalo, devidamente legalizado perante a Justiça Eleitoral.

A volta de Henrique a Cantagalo, após a eleição, foi algo inesquecível para mim. Foi uma recepção que eu jamais havia presenciado a um político eleito para a Prefeitura de Cantagalo. Foi proclamado eleito, pelo juiz Flávio Luiz Pinaud, com 2.028 (45%) dos 4.487 votos válidos, em 24 de novembro de 1962. Tomou posse no cargo em 3 de fevereiro de 1963.

Assumi, a partir dessa data, o cargo de secretário da Prefeitura. Naqueles tempos havia somente um secretário, sem secretária e sem automóvel. O prefeito cuidava da política, da gestão e das demais atividades inerentes ao cargo. A mim cabia gerenciar a parte administrativo-financeira.

Para auxiliar-me nessas tarefas consegui reunir uma pequena equipe, competente e compromissada com o êxito de nossa administração. Nas finanças e contabilidade, Niltz Nara e Noé Vila Nova; na tesouraria seo Juvenal Goulart e Lecy Torres; como auxiliar, Carlos Teixeira, o Carlinhos ou Lalau e o Zé Caruso. Tio Acyr deu a sua competente colaboração na fiscalização de obras públicas e o Sylvio na área fiscal. Era uma equipe bem pequena, mas atuante.

Consegui uma parceria com o Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam), com sede no Rio de Janeiro, para modernizar a administração da Prefeitura. Essa parceria rendeu um novo Código de Posturas, Código Tributário e Fiscal, revisão fiscal dos valores tributários dos imóveis urbanos e rurais, defasados há décadas.

Elaboramos, com a participação do prefeito, um Plano de Emergência, com providências exclusivas da Prefeitura e a maioria dependendo do governo estadual. Esse plano está, na íntegra, no livro Henrique Frauches & Cantagalo: duas histórias que se cruzam.

Continua na próxima semana…

 

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.

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