“Ouro Negro”, por Dr Júlio Carvalho

O petróleo de tamanha importância no mundo de hoje, extraído do subsolo ou do pré-sal, foi motivo de discórdia e de guerras geradas pela ambição humana, fazendo a riqueza de nobres de alguns países do oriente médio.

Durante muitos anos, dizia-se que o Brasil não possuía petróleo e nosso governo chegou ao ponto de contratar técnicos suspeitos que negavam a existência do mesmo no Brasil. Enquanto isso, missionários católicos de origem francesa, que trabalharam na Amazônia, declaravam em alguns livros sobre nosso país que os caboclos do Acre acendiam seus lampiões com óleo colhido nos charcos daquela região nacional.

Monteiro Lobato, grande escritor patrício, defendia a existência de petróleo no recôncavo baiano, e foi combatido tenazmente. Na ditadura de Getúlio Vargas (1937-45), era crime dizer que o Brasil possuía petróleo, sendo classificados como comunistas os que assim procediam.

Monumento ao maestro, compositor e jornalista Joaquim Naegele na praça Papa João XXIII, em Cantagalo
Monumento ao maestro, compositor e jornalista Joaquim Naegele na praça Papa João XXIII, em Cantagalo

Nosso conterrâneo, o extraordinário maestro e compositor Joaquim Naegele, participando da campanha “O Petróleo é Nosso”, na cidade do Rio de Janeiro, foi preso, e no presídio escreveu, em papel de embrulhar pão, dois belíssimos dobrados: “A Voz do Cárcere” e o “Ouro Negro”.

Certa vez, na festa de Boa Sorte, nosso simpático 5º distrito, durante uma retreta com a histórica Campesina Friburguense, aproximei-me do coreto e pedi ao maestro que executasse o Ouro Negro para que meu saudoso pai pudesse ouvir. Ele me disse que não seria possível, uma vez que lá estava a banda de aprendizes, que não teriam condição de executar o Ouro Negro em virtude da complexidade da parte dos clarinetes. O mesmo acontece com o dobrado Janjão. Assim era o Joaquim Naegele, grande maestro e compositor cantagalense, que mereceu o nome numa rua do centro de Cantagalo e um busto de bronze na Praça João XXIII. Seus dobrados exigem muito dos clarinetistas, é preciso muita execução!

Mas voltando ao petróleo: ontem, estava sem inspiração para preparar o artigo para o Jornal da Região, compromisso que assumi com os amigos Célio e Sra. Isanete. Pensava em um tema, mas a ideia não evoluía. Cheguei à conclusão que era melhor não tentar pois o corpo estava em Cantagalo, mas o espírito em Montevideo, a bela capital do simpático Uruguai, que visitei há cerca de quarenta anos; riquíssima em monumentos de bronze e com a fachada do prédio do legislativo federal revestido de granitos de várias nuances, trazidos de diversos pontos do pais para simbolizar a unidade nacional. Infelizmente, no sábado 27/11, um escorregão colocou tudo a perder, o tri continental foi para São Paulo!

No dia 03 de outubro de 1953, o mesmo Getúlio Vargas, que na ditadura prendera tanta gente que defendia “O Petróleo é Nosso”, criou a Petrobrás, a Companhia de Petróleo do Brasil, garantindo o monopólio estatal na área do petróleo. A Lei 2004 foi assinada por Vargas e pelos dez ministros do seu governo.

Getúlio Vargas (1930)
Getúlio Vargas (1930)

No período da ditadura, Vargas havia criado a Companhia Siderúrgica Nacional. Em 1953, criava a Petrobrás, estabelecendo, desse modo as duas grandes colunas para o progresso do nosso Brasil, que tantos tentam passar para mãos alienígenas.

Deixando de lado o nacionalismo, volto para a motivação que deu origem a esse artigo. Na noite de sábado, li um interessante artigo da lavra do presidente da Petrobrás, general Joaquim Luna e Silva, no qual declara que o Plano Estratégico para o período de 2022 a 2026 está baseado no investimento com visão de futuro e retorno para a sociedade.

Entre as ótimas notícias do artigo, diz que a Petrobrás, depois de sete anos, venceu o seu maior endividamento, de cerca de US$ 160 bilhões, o que permite que os investimentos passem de US$ 68 bilhões. E que os investimentos trarão maior desenvolvimento para municípios, estados e União.

Fala, também, que o pré-sal deverá ser desenvolvido com urgência, pois a transição para fontes de energias renováveis é uma realidade. Chegará o momento em que os combustíveis fósseis serão abandonados em virtude de seu poder poluente e por serem dotados de substâncias cancerígenas.

Relata a importância dos dividendos pagos por nossa petrolífera, uma das maiores do mundo; a contribuição da Petrobrás com tributos pagos à União e aos estados e municípios chegou a R$ 220 bilhões só em 2021.

Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.

Outro aspecto muitíssimo importante do artigo se refere ao preço da gasolina. Declara que de cada R$ 6,75 pago por um litro de gasolina nas bombas somente R$ 2,33 vão para os cofres da Petrobrás. Sempre soube que no preço de cada litro de gasolina havia um monte de penduricalhos beneficiando outros setores da atividade humana, o que é um erro, uma vez que os preços elevados da gasolina e do diesel aumentarão o custo de vida, uma vez que somos carentes de ferrovias, dependendo quase todo transporte dos veículos movidos por derivados do petróleo.

Quase no final do artigo, o Presidente da Petrobrás diz que, em 2021, nossa petrolífera diminuiu o preço da gasolina quatro vezes e aumentou em onze vezes, enquanto nas bombas o aumento ocorreu 34 vezes; que para a Petrobrás o aumento nas bombas é de R$ 0,98, enquanto para o consumidor foi de R$ 2,24 por litro. Portanto, o aumento no preço dos combustíveis não está dentro da Petrobrás, finalizou o General.

Acreditei no que li, pois um General não tem necessidade de mentir para a opinião pública, a formação de um militar não aconselha nem permite tal conduta.

É hora de desatrelar do preço dos combustíveis os penduricalhos que a demagogia embutiu através do tempo!

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

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