“Outros pedaços de mim…”, por Celso Frauches

Rua Chapot Prevost, antiga Rua Direita, no Centro de Cantagalo

Rua Chapot Prevost, antiga Rua Direita, no Centro de Cantagalo

Oh, que saudades que tenho
Da aurora de minha vida,
Da minha infância querida,
Que os anos não trazem mais!

Meus oito anos – Casimiro de Abreu

É muito bom relembrar a infância, a adolescência, às margens do Paraíba, no Cantagalo dos velhos tempos.

Eu saí da Fazenda da Serra, no distrito de São Sebastião do Paraíba, em setembro de 1947. Meus pais vieram para a cidade de Cantagalo, tendo por objetivo a continuidade de meus estudos primários. Era tempo do exame de admissão ao curso ginasial, no Ginásio Municipal Euclides da Cunha.

Ao mudarmos para a cidade, meu pai foi nomeado secretário da Prefeitura Municipal de Cantagalo, um cargo de confiança. Era prefeito Joaquim da Costa Sobrinho, substituído, sucessivamente, pelo coronel Manoel Marcelino de Paula, Walter Vieitas, depois deputado estadual, e Lacordaire Figueiredo Vilela.

Lembro-me da posse do prefeito Costa Sobrinho. Foi a primeira vez que vi e bebi champanhe, isso aos onze anos de idade! E não era Sidra Cereser… É difícil esquecer o borbulhar do champanhe até hoje!

Meu pai não encontrou uma casa para alugar. Fomos morar, de favor, na casa do Martinho e da Nila Caruso, sobrinha de Tereza Caruso Frauches, dona Terezinha, como era conhecida, segunda esposa de meu avô Américo Fernandes Frauches. O casal era proprietário do cinema local, que ficava ao lado do prédio onde fomos morar, no segundo andar da conhecida Loja Richa. Entre os prédios havia um corredor, para chegar à calçada. Eu assistia a todos os filmes “de graça”, às vezes mais de uma vez. Naqueles tempos, sem televisão, um filme ficava em cartaz mais de um dia, caso fosse sucesso, como os filmes de Tarzan, dos super-heróis e dos musicais e comédias de Hollywood.

Uma vez, atrasado para o início da sessão de cinema, às 20h, saí correndo, em disparada, pelo corredor e não consegui “frear” quando cheguei à calçada. Dei uma trombada violenta na professora Amélia Thomaz que, com razão, ficou bastante irritada. Além do que ela já era. Mais tarde seria minha intrigante professora da Português, no curso científico. Ela parecia ter prazer em pronunciar o meu sobrenome – Frauches – como “Frocho” –, mesmo que no diário de classe o nome estivesse corretamente escrito! Na adolescência isso me chateava um pouco. Mas ficava admirado como uma professora tratava os seus discípulos dessa forma jocosa. Hoje seria bullying escolar. Por causa da trombada no Cine Elias? Mais tarde, adulto, isso foi irrelevante e passei a admirar a escritora e poeta Amélia Tomás.

Para acesso ao curso ginasial, que corresponde à segunda fase do atual ensino fundamental, a fim de continuar os meus estudos, tive que cursar a pré-admissão, com a professora Dulce Lutterbach, esposa do professor Sylvio Lutterbach, ao final de 1947, pais do colega e amigo Haroldo e tios do primo Pedro Sylvio.

Passei no exame de admissão e ingressei no curso ginasial.

No ginásio fiz boas amizades. Algumas permanecem até hoje, embora a maioria já tenha retornado aos laboratórios da natureza. Está entre nós o meu querido amigo e colega de coluna neste JR, Júlio Marcos de Souza Carvalho. Os outros dois – o médico João Nicolau Guzzo e o jurista Geraldo Arruda Figueredo – nos deixaram. Fizeram a viagem de volta mais cedo.

De outros não tenho notícias. Júlio formou-se em medicina, trabalhou, com sucesso, em Cantagalo, por muitos anos, e está na ativa até hoje. Geraldo bacharelou-se em direito, profissão na qual também atuou de forma competente, chegando a ocupar o cargo de Procurador Geral do Estado do Rio.

E o Celso? Essa estória é para outros pedaços de mim, a ser contada, talvez, pela minha amada Angela.

É, o poeta tem razão:

“Como são belos os dias
Do despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor…” (Casimiro de Abreu)

 

Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.
Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.

 

Foto de capa: Rua Chapot Prevost, antiga Rua Direita, no Centro de Cantagalo

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