Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
EDUCAR É DESCOBRIR
QUE PONTOS FORTES SÃO MEUS
CAPAZES DE SEDUZIR
ATÉ MESMO O OLHAR DE DEUS! ¹
Ao longo de nossas vidas, na escola, no lar, no trabalho ou nos templos, sempre fomos chamados a corrigir nossas falhas, nossos erros, omissões, culpas e pecados.
Ouvimos de nossos pais – e repetimos com os nossos filhos e estes, seguramente, com os nossos netos (e assim por diante) – que não somos bons em matemática, ou que somos um fracasso em gramática, ou que não somos responsáveis, ou somos moleques etc. etc.
Na escola não é diferente. A escola pouco mudou nestes últimos séculos. Dificilmente os pais ou responsáveis são chamados ao gabinete do diretor, ou pelo professor, ou ao setor de orientação educacional (o SOE), ou similar, para receber parabéns pelo bom desempenho do educando, em alguma disciplina ou atividade ou, até mesmo, em comportamento, em sociabilidade. Todos nós, quando chamados a ir a qualquer desses serviços burocratizados da escola, ficamos apreensivos e pensamos: “o que será que o nosso filho aprontou?”. E, geralmente, recebemos advertências do tipo “seu filho não tem feito todos os deveres de casa”, ou “seu filho está dispersivo”, ou “seu filho não gosta de matemática”. Seu filho isso, seu filho aquilo… Conheço o caso de pais que foram chamados à direção de uma creche (isso mesmo: creche!) porque o filho deles, com três anos de idade – pasmem! – não ia para a sala de aula, quando todos iam, convocados pela “professora”. Não gostava de ficar no presídio, que é a sala de aula, preferia estar nas áreas externas, no parquinho, pulando, correndo. Vivendo! Isso não é normal! Os pais foram aconselhados a procurar um psicólogo para identificar alguma “síndrome” ou a famosa terapia de apoio…
Há milênios procuram focalizar, identificar e fortalecer os nossos erros, as nossas limitações, os nossos pontos fracos, massacrando a nossa autoestima, amortecendo valores latentes, superiores. Essa é a regra geral. Há exceções excelentes, mas são poucas entre milhares de instituições educacionais públicas ou da livre iniciativa.
Enquanto essas escolas põem pra baixo a autoestima de crianças, jovens e adolescentes, surgem terapeutas holistas ou psicólogos que se dispõem a realizar transformações revolucionárias em nós, adultos, fortalecendo a nossa autoestima, chamando-nos às realizações positivas e ao desenvolvimento dos valores amortecidos por uma pedagogia de pontos fracos.
Seria bom para todos – escola, família, empregadores, sociedade, enfim – que os educadores, em todas as instâncias da educação formal e informal, despertassem para a necessidade da identificação, focalização e desenvolvimento dos pontos fortes das crianças, jovens e adolescentes. Que se preocupassem menos com os pontos fracos e se ocupassem mais das potencialidades do educando. Em vez de aulas de recuperação, aulas e atividades de reforço dos pontos fortes. Ao darem atenção às manifestações dos poderes latentes da alma, que são os pontos fortes, os educadores estariam contribuindo para o despertar e o desabrochar de valores superiores, que poderão auxiliar na melhoria do desempenho do educando nos chamados pontos fracos. Ao priorizarmos os pontos fortes, fortalecemos a autoestima do educando. Proporcionamos-lhe confiança e entusiasmo, para o crescimento em áreas onde o seu desempenho não é considerado suficiente para alcançar os mínimos exigidos pela administração escolar, a família, os empregadores e a sociedade.
Qual estudante não se sente fortalecido para prosseguir em sua rica história educacional, quando seus méritos são reconhecidos pela escola ou em qualquer ambiente em que ele atue. O mesmo em relação ao educador. Qual escola celebra as realizações positivas de seus educandos e educadores, publicamente? Sempre há exceções…
Devemos entender, ainda, que ninguém é bom em todas as disciplinas, em todas as áreas do conhecimento humano. No atual estágio de desenvolvimento do ser humano, possuímos limitações e não conseguimos ser bons em tudo. Isso não é bom nem é ruim. É um fato.
Seria importante que mestres e pais atuassem, no processo educacional, mais como despertadores de capacidades e habilidades, estimuladores, orientadores, parceiros e menos como apenas professores. Trabalhassem, assim, para o desabrochar da sabedoria que existe em nós, ainda mais latente para determinadas áreas ou carreiras, graças ao Criador de tudo e de todos: Deus. E essa não deve ser ação isolada. Deve impregnar as famílias e as organizações da sociedade e do Estado.
Peter Drucker, o guru das ciências gerenciais, afirmava que “encontrar os pontos fortes do estudante e focalizá-los na realização é a melhor definição de professor e de ensinar”.
Pestalozzi, o extraordinário educador suíço, dizia que tudo que o educando faz com prazer, qualquer ação que aumente a confiança em si mesmo, desperta nele os poderes latentes e o encoraja na realização de suas aspirações, levando-o a sentir e a dizer: “eu posso!”. Pestalozzi pregava o desenvolvimento harmônico de todas as faculdades do indivíduo.
Pedro de Camargo, notável educador paulista, mais conhecido pelo pseudônimo de Vinícius, entendia por educação “o desenvolvimento dos poderes psíquicos ou anímicos que todos possuímos em estado latente”. Defende a educação integral do ser humano, possível tendo o amor na base e o desenvolvimento dos pontos fortes nas ações educativas diárias, permanentes.
O fortalecimento da autoestima deve ser o objetivo da escola, da família e das organizações religiosas e socioeconômicas. Se a escola começar, pode provocar uma verdadeira revolução pedagógica, com reflexos positivos nos demais setores da sociedade, na vida de cada um. E assim, desencadear um processo educacional irreversível. A escola, assim, ficará à frente da história e, não, a seu reboque, como sempre esteve.
Educar deve ser mesmo uma revolução: não só descobrir pontos fracos ou fortes, mas que cada um de nós foi criado para ser visto como único, incomparável, irrepetível, não há outro igual. Não há formas como nas fábricas. Fomos criados com um ponto fortíssimo: para amar e ser amados!
¹ Ângela Araújo de Souza
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.