“Perda de Amigos & reencontros”, por Celso Frauches

O encontro, na Vila Pitta – da esquerda para direita: Celso, Geraldo e Júlio

 

Fiquei sem inspiração esta semana. Perdi um Amigo, com A maiúsculo. Já escrevi sobre ele neste espaço que o amigo Célio disponibiliza fraternalmente. Creio que pelo menos alguns leitores já sabem de quem estou falando: DOUTOR GERALDO ARRUDA FIGUEREDO. Cantagalense da gema, de alma, de coração.

O poeta Milton Nascimento em versos imortais diz que “Amigo é coisa para se guardar / Debaixo de sete chaves” e que “Amigo é coisa para se guardar / No lado esquerdo do peito”. Amigo para mim não é “coisa”; não pode ser. É gente como a gente, que luta no dia a dia, sofre, ama, ri, chora, vence obstáculos com denodo, persistência, disciplina; faz, realiza, promove, entrega; tem um lar, uma família amorosa e unida. Como o GERALDO.

Mas há outro Amigo desolado, triste. É o colega de coluna, o DOUTOR JÚLIO MARCOS DE SOUZA CARVALHO, o “doutor Júlio”, tão conhecido da maioria dos nascidos no Hospital de Cantagalo, durante a sua atuação como obstetra, sob suas generosas e competentes mãos.

Éramos conhecidos – eu, GERALDO, JOÃOZINHO e JÚLIO – desde a 1ª série do curso Ginasial, no Ginásio Euclides da Cunha, que ficava na Rua Nilo Peçanha, a “rua do Pinto e Palma”. E ficamos Amigos.

Corria o ano de 1948, quando iniciamos nossos estudos básicos e nossa grande Amizade que perdurou por 75 anos e que foi interrompida no fatídico dia 7 de abril de 2023, Sexta-feira Santa, com o falecimento de GERALDO. Justamente no dia em que os cristãos reverenciam a crucificação e morte de JESUS. Que trágica coincidência!

Nascemos e moramos em Cantagalo, depois fomos residir em Niterói. A partir de 1987, tomamos rumos diferentes. Ele sempre em Niterói, eu em Brasília, Marília (SP), Brasília novamente e, agora, Cantagalo, mas sempre estivemos em contato. Alguns desses momentos foram vividos nos fraternos encontros do “Amigos de Cantagalo”, organizado pelo presidente do Grêmio dos Amigos de Cantagalo, Edmo Japor, tendo o GERALDO com idealizador e fundador, junto a outros companheiros. No início de 2022, ele nos visitou em Cantagalo. Ficou na casa dele, na Vila Pitta, em frente à casa de Angela, minha muito amada esposa, especialmente para termos momentos – ele, Júlio e eu – de papos intermináveis. No dia seguinte, retornou ao seu lar, para ficar ao lado da amada esposa, seu amor desde a juventude. Para a eternidade.

 

Na mesma reunião anual do Grêmio dos Amigos de Cantagalo, em Niterói, da esquerda à direita: Celso, Geraldo, Edinho, Edmo, Widomar e Bibinho (1993)
Reunião do Grêmio dos Amigos de Cantagalo, Niterói, 1993. Da esquerda à direita: Celso, Geraldo, Edinho, Edmo, Widomar e Bibinho.

 

O Instituto Mão de Luva tem a honra e a alegria de contar com uma live (link aqui), ou uma conversa entre amigos, no Museu de Imagem e Som (MISC). Eu, ele e Júlio batemos um papo recordando momentos bons da vida e de nossa bela amizade.

GERALDO, repito sempre, é um ser especial. Sim, É, porque ele continua vivendo para a eternidade naquele lugar reservado para os que amam e creem em DEUS e em seu Filho Amado, JESUS CRISTO. Nós quatro – ele, Joãozinho, Júlio e eu – sempre tivemos uma amizade que não reconhece tempo, espaço ou qualquer obstáculo. Às vezes, sem nos falar por algum período, um alô ao telefone não revelava, nem revela, o tempo sem comunicação verbal; parece que foi ontem. E o papo corria tranquilo.

Geraldo nasceu em Cantagalo, em 11 de fevereiro de 1935. É filho de Elvira Arruda Figueredo e de Bertholino Cannes de Figueredo. Em nossa cidade, viveu a infância, a adolescência e parte da juventude até os dezoito anos. O local em que funcionava a “venda de seo Bertolino”, como chamávamos o comércio do pai dele, ainda está quase intacto, na Av. Rodolfo Albino. O Joãozinho, o Júlio e eu sempre estávamos por lá durante os estudos, no antigo Colégio Euclides da Cunha, no qual GERALDO diplomou-se como Técnico de Contabilidade. Casou-se com o seu único amor: Neuza Bastos Figueredo e geraram três filhos: Letícia, Fernando Luiz e Geraldo, órfãos do esposo e pai exemplar, digno, íntegro.

 

Geraldo, em foto recente, em Niterói, em um evento jurídico
Geraldo, em foto recente, em Niterói, em um evento jurídico

 

Como jurista reconhecido e reverenciado, ocupou vários cargos importantes e que muito falam de sua competência. Chegou ao topo da carreira, tendo exercido os cargos de Procurador-Chefe da Procuradoria de Assuntos Regionais, Procurador-Chefe da Procuradoria Judicial, Assessor do Gabinete do Procurador Geral do Estado, Subprocurador-Geral do Estado e, coroando a sua exitosa carreira, Procurador-Geral do Estado. Por diversas vezes integrou o Conselho da Procuradoria Geral do Estado. Foi Presidente do Conselho, Vice-Presidente e Diretor da Associação dos Procuradores do Estado do Novo Estado do Rio de Janeiro – APERJ. Como advogado militante, era especialista nas áreas cível, comercial e família. Foi, também, advogado da Companhia Auxiliar das Empresas Elétricas Brasileiras – CAEEB, tendo prestado consultoria jurídica em assuntos ligados à concessão de serviços públicos de energia elétrica. Mas não se abalou com o sucesso profissional, conservou sempre seu jeito humilde de ser.

Mas não é só. Ele tem duas naturalidades: cantagalense e niteroiense. Cantagalense pelo nascimento e niteroiense pelo Decreto Legislativo nº 119/2000, “pelos relevantes serviços prestados à nossa Cidade”. Foi aos municípios de Niterói e Rio de Janeiro que ele ofereceu o melhor de seu talento.

Quem quiser ter um exemplo de homem íntegro, correto, fiel na família, no trabalho, em todas as atividades que exerceu durante sua longa vida de 88 anos, encontra em DR. GERALDO DE ARRUDA FIGUEIREDO a sua plenitude. Para nós, seus amigos de uma vida toda, ele deixa uma doce, imensa e dolorida saudade. De um antigo quarteto – JOÃO GUZZO, GERALDO, JÚLIO e CELSO – ficou uma dupla. Por enquanto. E um vazio no coração, que é onde ele habitou por tanto tempo e continuará. Onde estiver.

Não tenho vontade de escrever mais nada…

Qualquer dia, AMIGO, a gente vai se encontrar”…

 

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.

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