“Por que mulheres devem dialogar?”, por Amanda de Moraes

Sororidade

Uma palavra está na moda: sororidade. Ela estabelece uma definição para a união e apoio mútuo entre mulheres, em uma sociedade estruturalmente machista e misógina. Por causa disso, redes de apoio são fundamentais para elas.

Trago números e fatos. Até o final de 2022, de acordo com estudo realizado pelo Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), o Brasil tinha 11 milhões de mães solo, ou seja, que criam seus filhos sozinhas, sem o apoio do genitor. A maternidade, por si só, é um grande desafio para mulheres contemporâneas, que precisam conciliá-la com a vida profissional e pessoal, em meio a uma grande sobrecarga de tarefas. Apesar de termos avançado em muitos aspectos dos direitos das mulheres, o passado ainda faz sombra.

No trabalho, uma significativa porcentagem de mulheres recebe salário menor do que os homens, em cargos iguais. E, ainda há quem não as contrate porque engravidam. Realmente, a gravidez é algo que atrapalha o futuro da sociedade (contém ironia).

A representatividade das mulheres em cargos de liderança também reflete aspectos opacos da sociedade – mais de 60% desses postos são ocupados por homens.

Somado a essas questões, há forte pressão social por impor a mulheres determinadas condutas: vista-se daquela forma, seja elegante, sorria em baixo volume… Na internet, não falta marketing para que elas adquiram cursos sobre “como ser mulher”. Tudo dividido em 12 parcelas, de 15 reais, sobre a infalível fórmula para agradar a um homem.

Trabalhe, crie a criança, sustente a casa, constitua um lar acolhedor e, claro, esteja sempre bela e em forma. Ah, e não esqueçamos as inúmeras maneiras de violência que sofrem dentro dos próprios lares, cujas denúncias são desencorajadas, pois “os homens são assim mesmo” e “tem que se sacrificar pela família”.

Voltando ao apoio mútuo entre mulheres, que alguns chamam de “mi-mi-mi”. No âmbito pessoal, precisa-se de apoio emocional e escuta ativa (um ambiente seguro para que ela exerça o direito humano a confessar suas dores e glórias, sem que sofra algum tipo de repressão). É necessário falar sobre o cansaço, pressão social e a falta de liberdade que aprisiona, muitas vezes, de dentro para fora. Aqui, vale acrescentar o medo da solidão, que faz com que mulheres tentem se encaixar em relacionamentos que não as servem, machistas e opressores.

No ambiente corporativo, redes de suporte devem combater o assédio, a discriminação salarial e a falta de oportunidade de crescimento na carreira. Em uma sociedade marcada por desigualdade de gênero, a sororidade surge como uma resposta necessária, a partir da desconstrução da ideia de que mulheres são rivais e competidoras entre si. Ao se cooperarem, criam-se espaços de crescimento e valoração.

Em termos práticos e visuais. Você ou algum conhecido deve ter uma neta, ou uma filha querida. Muito querida, a ponto de os pais e a própria família investirem uma considerável parte do patrimônio, para que essa mulher tenha sucesso na vida. Sem sororidade e consciência sobre o patriarcado ainda reluzente no Brasil e em vários lugares do mundo, o caminho fica menos justo, longe do igualitário e dormente quanto à violência. Com sororidade, é possível que daqui a alguns anos, essa mesma neta apareça na sala de casa, empunhando um diploma ou uma promoção no trabalho (com o mesmo salário de um homem) e agradecendo: “Tive a sorte de ter sido criada em um ambiente que me acolheu, respeitou os meus limites e deu-me chance, em uma competição igualitária, sem me desfavorecer apenas porque sou mulher. Venci, porque vocês lutaram por mim.

 

Amanda de Moraes Estefan é advogada, no Rio de Janeiro, e sócia do escritório Mirza & Malan Advogados. Ela é neta do ex-prefeito de Trajano de Moraes, João de Moraes
Amanda de Moraes Estefan é advogada, no Rio de Janeiro, e sócia do escritório Mirza & Malan Advogados. Ela é neta do ex-prefeito de Trajano de Moraes, João de Moraes

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