“Professor Baptista: educador de gerações – parte 2”, por Celso Frauches

O Prof. Baptista, o primeiro à esquerda, participa da inauguração do marco do centenário da cidade de Cantagalo, em 2 de outubro de 1957, tendo ao lado o juiz da Comarca, Dr. Felisberto de Ribeiro Monteiro Neto.

 

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Desejando descansar de tanto labor”, voltou para São José do Ribeirão, mas não foi fazer o repouso esperado. As famílias Erthal e Monnerat insistiram para que ele fundasse um novo colégio. Daí surgiu o Colégio Moderno. Mas esse nome se confundia com o do Colégio Modelo. Aconselhado pelo dr. Péricles Corrêa da Rocha, mudou o nome para Colégio Euclides da Cunha, com externato e internato, com alunos de Cantagalo, Nova Friburgo, Cordeiro. Segundo ele, o “colégio progrediu muito”. Anexo ao “Euclides da Cunha”, fundou a Escola de Instrução Militar (EIM), tendo por objetivo o encaminhamento dos jovens aos corpos militares locais, com atividades que envolviam marchas, uso de armamento e formações militares.

 

Solenidade de formatura da primeira turma do curso primário do "Collegio Euclydes da Cunha" e da Escola de Instrução Militar (EIM), no palacete do Gavião, em 1930. O prof. Baptista está de terno preto, sentado; o de terno branco é o Cel. Marcelino de Paula, então prefeito de Cantagalo.
Solenidade de formatura da primeira turma do curso primário do “Collegio Euclydes da Cunha” e da Escola de Instrução Militar (EIM), no palacete do Gavião, em 1930. O prof. Baptista está de terno preto, sentado; o de terno branco é o Cel. Marcelino de Paula, então prefeito de Cantagalo.

 

Em 1927, a convite de Hugo Horácio Sardemberg, transferiu o Colégio Euclides da Cunha para Cantagalo, instalado no Palacete do Gavião, junto com a Escola de Instrução Militar. Nessa época, Henrique Luiz Frauches, meu pai, foi matriculado para o curso primário, aos dezessete anos de idade. Bem mais tarde, meu pai foi aluno do professor Baptista, no Colégio Euclides da Cunha, no prédio que funcionava na Praça 15 de Novembro, onde hoje está localizada a agência do Banco do Brasil. No curso ginasial e no técnico em contabilidade. Até 1938, o colégio ministrou educação para centenas de estudantes, assim como a EIM, que encaminhou centenas de reservistas ao Exército. Tendo em vista a proibição da EIM funcionar anexa a escolas, o professor Batista fundou a Associação Comercial e Agrícola de Cantagalo para abrigar a referida escola, da qual foi secretário por meio século. Por solicitação da diretoria da Associação, encerrou as atividades do Colégio Euclides da Cunha para criar o Ginásio Municipal Euclides da Cunha, sob a gestão do prefeito Acácio Ferreira Dias, na Era Vargas, entre 1930/1935. Acácio foi substituído pelo prefeito José Py e este por Antônio Pinto, que não quis continuar mantendo o “Euclides da Cunha”. O nosso irrequieto professor vendeu-o para a firma Bittencourt de Campos, do qual ainda foi diretor por dois anos, ficando apenas como professor.

 

Nota do 25º aniversário de magistério do professor Baptista, em 12 de abril de 1930
Nota do 25º aniversário de magistério do professor Baptista, em 12 de abril de 1930

 

Desiludido com os caminhos tomados pela Prefeitura em relação ao ginásio, transferiu-se para Nova Friburgo, em 1946, após a segunda guerra mundial (com minúscula; as guerras não merecem maiúsculas). Foi lecionar no Colégio Modelo e na Faculdade de Comércio. Lá permaneceu por um ano, quando faleceu sua esposa Guiomar. 1949 assinala seu retorno a Cantagalo. A direção do ginásio estava nas mãos de monsenhor Aquiles Mello, e professor Baptista aceitou lecionar latim, ciências e francês. Em seguida, substitui o Monsenhor. Com a venda do Ginásio ao professor Messias de Moraes Teixeira, voltou a trabalhar no ginásio, agora lecionando francês, matemática, latim e ciências. Participou da fundação da primeira Escola Normal de Cantagalo. O ginásio foi vendido à Diocese de Niterói, sob a direção da professora Maria de Lourdes Dietrich Gonçalves e, mais tarde, João Gonçalves Ferreira Neto. Mas o agora Colégio Euclides da Cunha foi vendido à Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG), passando para Campanha Nacional de Escolas Comunitárias (CNEC), Setor Cantagalo. O professor Baptista foi junto, trabalhando sob a direção do juiz, Dr. Felisberto Ribeiro Monteiro Neto, Maria de Lourdes Dietrich Gonçalves e Ewandro do Valle Moreira.

 

Decreto de 25 de outubro de 1950, nomeando como "Vieira Baptista" a escola da comunidade de "Córrego de Santo Antônio"
Decreto de 25 de outubro de 1950, nomeando como “Vieira Baptista” a escola da comunidade de “Córrego de Santo Antônio”

 

Em 1968, era vice-presidente da CNEC-Cantagalo e ainda exercia as funções de contador. Formado como contador pela Academia de Comércio do Rio de Janeiro, nessa condição, trabalhou para o Colégio Cordeirense, e as firmas Tinoco Alves, Farmácia Hul, de propriedade de Aristão Jaccoud; em Cantagalo para a Casa Golineli, Felipe João, Figueira Filho Ltda. É um dos fundadores do Banco Agrícola de Cantagalo, do qual foi presidente por dez anos. Todavia, não abandonou o magistério, continuando a ministrar o curso primário noturno para adultos, o atual EJA (Educação de Jovens e Adultos).

Em vida, o professor Baptista recebeu várias homenagens de seus discípulos, de colegas do magistério, de autoridades e empresários. Posso destacar: é nome de uma escola pública em Barra Alegre (1948), por indicação do vereador Raul Emerich; em 1952, seus ex-alunos e alunos, sob a liderança da professora Maria de Lourdes Dietrich Gonçalves, ergueram o seu busto, na Praça João XXIII, sendo orador oficial o dr. Álvaro Santos, com discursos de diversos alunos e colegas. Constou dessa homenagem uma partida de futebol, cabendo a ele dar o “pontapé” inicial, um desfile de alunos do Colégio Euclides da Cunha e de um grupo de escoteiros de Cordeiro, sob o comando do Cabo Paulo, e um baile na sede social do Cantagalo Esporte Clube. Mas as homenagens continuaram: o prefeito João Carlos Burguês de Abreu deu o nome de Professor Manoel Vieira Baptista a uma escola municipal; dos seus alunos do Colégio Brasil, recebeu um cartão de prata, como honra ao mérito.

 

Nota de 29 de junho de 1952, congratulando o professor Baptista e o Dr Herculano Mafra
Nota de 29 de junho de 1952, congratulando o professor Baptista e o Dr Herculano Mafra

 

O professor Baptista, hospitalizado desde 13 de julho de 1975, de estreitamento do esôfago, veio a falecer no dia 16 do mesmo mês e ano, às 9h30, na residência de seu genro, Manoel Machado. Foi velado no Colégio Cenecista Euclides da Cunha, por iniciativa do diretor, professor Evandro do Valle Moreira, e sepultado no cemitério de Cantagalo, aos 87 anos, dos quais 70 foram dedicados ao magistério. Sem pompa. As autoridades, seus ex-alunos, na grande maioria, não prestaram a última homenagem ao educador de gerações de cantagalenses e da região serrana. Sua filha, Guiomar Vieira Baptista Machado, contudo, insatisfeita com esse descaso, tempos depois resolveu transferir os restos mortais do professor Baptista para o cemitério de Cordeiro, sepultado na mesma tumba em que estão sua filha Guiomar, e a mãe dele, Catarina.

Um dos jornais da época registra esse momento triste para os alunos, parentes, amigos e colegas do venerável mestre: “Quantos de nós terão passado por suas hábeis mãos de mestre que tudo dá e em troca pede apenas dedicação?!… Quantos de nós terão visto aquele homem de pouca estatura, vergado pelos 87 anos que lhe pesavam menos que o compromisso em chegar ao Colégio Cantagalo, com passos já meio trôpegos, mas confiantes no dever cotidiano a cumprir?!… Quantos jovens serão mais velhos do que aquele velho jovem?!”.

 

O Prof. Baptista, o primeiro à esquerda, participa da inauguração do marco do centenário da cidade de Cantagalo, em 2 de outubro de 1957, tendo ao lado o juiz da Comarca, Dr. Felisberto de Ribeiro Monteiro Neto.
O Prof. Baptista, o primeiro à esquerda, participa da inauguração do marco do centenário da cidade de Cantagalo, em 2 de outubro de 1957, tendo ao lado o juiz da Comarca, Dr. Felisberto de Ribeiro Monteiro Neto.

 

O periódico Notícia Fluminense registra em manchete interna (19/8/1975, p. 7) “MORREU O PROFESSOR BAPTISTA”, mas lamenta a ausência das autoridades ao sepultamento, ao seu velório, que deveria ser na Câmara Municipal, com todas as honras, incluindo o luto oficial por três dias. E conclui a matéria: “O professor Baptista foi sempre humilde e simples e soube engrandecer todos os lugares por onde andou, sempre derramando o bem, O DOM QUE DEUS LHE DEU”.

Com ou sem homenagens póstumas, graças à iniciativa da sua amiga e colega, professora Maria de Lourdes Dietrich Gonçalves, seu busto foi esculpido e colocado na Praça João XXIII, numa linda cerimônia, que permanece até hoje na memória de quem viu e participou do evento, que contou até com o canto do Hino da França, a Marselhesa, pelos alunos, em homenagem ao antigo professor de francês, o sempre amado PROFESSOR MANOEL VIEIRA BAPTISTA, cantagalense de coração, mas sobretudo educador de gerações.

 

Fonte: Acervo de Meinardo Baptista Machado, neto do professor Baptista, contendo autobiografia e jornais da época noticiando as homenagens e a morte do mestre.

 

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.

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