Superthal e Caravana da Coca-Cola fazem noite mágica em Bom Jardim
“Estou de volta a Cantagalo, para viver os dias mais felizes da minha vida. Saí daqui em fevereiro de 1955, aos dezoito anos de idade, no dia em que meu pai, Henrique Luiz Frauches, assumiu o seu primeiro mandato como prefeito deste município (1955/1958). Voltei em 1963 para assumir o cargo de secretário da Prefeitura, no segundo mandato de Henrique (1963/1966). E somente em dezembro de 2020 voltei a residir aqui.
Não recusei um generoso convite do Célio, um incansável batalhador do jornalismo do interior, para assumir uma coluna semanal neste indispensável Jornal da Região. E aqui estou. Tenho o prazer de ser vizinho de coluna do meu grande amigo Júlio, o Dr. Júlio Marcos de Souza Carvalho, uma das personalidades mais marcantes da história cantagalense, ao lado de seu pai, Dr. Carvalho (Joaquim de Souza Carvalho Júnior).
Quando retornei à Cantagalo, em dezembro findo, resolvi ressuscitar um projeto que não tive condições de realizar entre 1963 e 1966, pelo exercício do envolvente cargo de secretário da Prefeitura, em época de vacas magras e muito trabalho. De volta, vim com esse projeto em mente. E após algumas semanas de atividades, consegui criar o Instituto Mão de Luva, que irá funcionar na Rua César Freijanes, 36, ao lado do Fórum.
Nos meus tempos de ginasial e científico, no Colégio Euclides da Cunha, em Cantagalo, na década de 50 do século passado, Mão de Luva era louvado em prosa e verso como um fidalgo português, exilado de Portugal.
Nas versões rocambolescas de então, aprendi que Mão de Luva, o ‘duque de Santo Tirso’, um nobre português de nome Manoel Henriques, teria sido condenado à pena de morte, por participar de uma conspiração contra o Rei D. José I, em 1758. Essa penalidade seria transformada em degredo para o Brasil, então colônia portuguesa, a pedido de D. Maria I, filha do rei D. José I. Haveria um romance oculto entre o duque e D. Maria I. Esta foi visitar o duque antes de sua partida para o Brasil e teria lhe dado um beijo na mão direita e uma luva como lembrança. Essa luva deveria ser usada na mão beijada, para preservar o ósculo apaixonado.
Essa lenda circula até os dias de hoje, ao final da segunda década do século 21. É ‘história oficial’, divulgada nas escolas, nos órgãos oficiais e na sociedade. Todavia, o jornalista, sociólogo e pesquisador Sebastião A. Bastos de Carvalho (1938/2020), apresentou outra versão no livro TESOURO DE CANTAGALO, cuja 1ª edição é de 1991, que foi lançado, em 2020, em uma 2ª edição revista e atualizada, pela editora Outra Margem, de Cantagalo, sob a liderança da viúva dele, a amiga Rosa Maria Werneck Rossi de Carvalho.
Sebastião nos apresenta o brasileiro Manoel Henriques, de Ouro Branco (MG), casado, pai de família. Um desbravador que fugia, com os irmãos, do pagamento do ‘quinto’, um tributo da Coroa Portuguesa sobre a produção da Colônia, no caso, o ouro. Conhecido como o ‘quinto dos infernos’, por ser considerado uma carga tributária escorchante. Um parêntesis: o quinto, àquela época, correspondia a 20% do PIB nacional. Hoje, os tributos da República equivalem a 40% do PIB…
Mão de luva, com o objetivo de explorar as famosas ‘Minas Novas de Macacu’ ou ‘Cantagalo’, liderou um grupo de colonos, vindo das Minas Gerais, para a exploração de ouro, radicando-se no local batizado, mais tarde, como Cantagalo. Isso por volta de 1765. Na realidade, eram colonos fugindo do controle da Coroa portuguesa sobre a exploração de minérios. No máximo, sonegadores de impostos. Fato corriqueiro nos dias de hoje. O pessoal de ‘colarinho branco’.
O Projeto Mão de Luva, sob a gestão do Instituto Mão de Luva ‒ https://www.maodeluva.net.br (em construção) ‒ tem por objetivo ser um instrumento de cultura, por meio de produção e difusão de textos, documentos impressos, vídeos e fotos para atualização da memória de Cantagalo e os personagens de sua história, aberto à contribuição de todas as pessoas que queiram colaborar com esses propósitos…
A história de Cantagalo ainda não foi contada integralmente. E muitos heróis permanecem ocultos.
Alea jacta est ‒ A sorte está lançada.”
Celso da Costa Frauches é professor, escritor, ex-secretário Municipal de Cantagaloe consultor especialista em legislação