Ah, Brasil! O País do carnaval, do samba no pé.
Essa festa, comemorada por pagãos e cristãos, expressa muito do nosso país. Pessoas do mundo inteiro viajam para curtir os blocos, desfiles e shows brasileiros, que eclodem em diversas partes do país.
Carnaval vem do latim “carnis levale”, ou seja, “retirar a carne”. Às vésperas da Quaresma, a fanfarra traz também a ideia de inversão do mundo: homens fantasiam-se de mulheres, mulheres de homens, o sensual se contrapõe às vestes tradicionais do dia a dia.
Muitos homens que, no cotidiano, comparecem com seus ternos monocromáticos e linguajar refinado, transformam-se em meio a cores e purpurina. Mulheres que, ao longo do ano, carregam a culpa do moralismo, deixam um pouco de lado a capa da censura.
Colocam-se as máscaras, e o baile tem início. Tudo é permitido ou… quase tudo. É o momento em que se pode expressar de forma mais livre, sem grandes reflexões sobre as consequências. Dizem até que são os poucos dias para se ser feliz.
No entanto, aos amantes do carnaval, será que as máscaras são postas ou, na verdade, retiradas?
Atribuem ao escritor da Metamorfose a célere frase: “Tive vergonha de mim quando percebi que a vida é uma festa de máscaras e participei com o meu próprio rosto.”
Todos nós representamos papéis ao longo de nossas vidas. Nossos ímpetos e desejos são freados por inúmeros fatores: religião, julgamento coletivo, moral, ética, pertencimento. Assim deve ser, em certa medida, pois existimos em sociedade. Para sobrevivermos, precisamos pensar de forma coletiva.
O carnaval tem algo a nos dizer. Em um mundo carregado de preconceitos e estereótipos, é desafiador sermos fiéis a nós mesmos. Não que desejemos viver cheios de purpurinas ou algo do tipo, mas pautamos pelo medo, muitas vezes, a performance da vida.
O desfile da realidade vai começar. Dá para ser autêntico? Não sei.
O instinto da autopreservação se faz presente. Tememos o imprevisível, e lançamos voos perto da terra, para enxergarmos o pouso. Como seres sociais, precisamos nos inserir, para sermos vistos e aceitos.
Todo carnaval tem seu fim, como dizem Los Hermanos. Até antes do derradeiro dia, o do passamento, que a coreografia de nossos íntimos seja em prol de liberdade, alegria, respeito ao próximo, paz interior e o que mais trouxer humanismo à marchinha de nossos corações.