Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Nos 87 anos de vida que Deus me concedeu, tive a oportunidade de presenciar inúmeros acontecimentos marcantes da nossa história, conhecendo, ao mesmo tempo, seres humanos maravilhosos e outros que envergonharam a espécie humana. Estes, felizmente, minoria.
Aos 10 anos, tive a ventura de ver terminar a segunda guerra mundial, depois de sete anos de lutas e destruição de oitenta milhões de vidas humanas em todos os continentes. Guerra construída pelo fanatismo de um líder que se considerava membro de uma raça pura, coisa que a ciência já demonstrou não existir.
Lembro-me da chegada dos cantagalenses membros da F.E.B. na estação da Leopoldina; foguetes, palmas e vivas para aqueles que retornavam, depois de expor suas vidas em defesa da liberdade e da democracia.
No almoço realizado no salão nobre do Fórum de Cantagalo, que sediava os grandes acontecimentos sociais de nossa terra, que a insensibilidade de uma juíza transformou em vários cubículos destinados a setores da justiça.
Nesse dia histórico, foi sorteado um expedicionário para ser homenageado por cada autoridade presente ao acontecimento. O afro-brasileiro José Raimundo caiu para meu pai, na época Prefeito Municipal; ao se abraçarem no centro do salão, ambos choraram de emoção, lembraram-se provavelmente do tempo em que José Raimundo, muito jovem, era o ponta direita do Ferroviário F.C., que meu pai ajudara fundar e era o presidente. O esporte cria união e amizades!
Durante o conflito mundial, ocorreu em Cantagalo um fato pouco comentado. Algumas pessoas que não gostavam do Padre Crescêncio Lanciotti, que era italiano, criaram uma falsa história de que o vigário instalara na torre da igreja uma estação de rádio amador, enviando notícias para a Itália, o que permitia que navios comerciais brasileiros fossem torpedeados por submarinos nazistas. Em determinado momento, o clima ficou tão tenso que o Bispo de Niterói levou o padre para a capital do estado.
Acalmados os ânimos, o Padre Crescêncio retornou a Cantagalo, sendo recebido com verdadeira consagração popular defronte ao prédio da Câmara Municipal; enquanto a população o aplaudia, foguetes espocavam no ar e a Sociedade Musical XV de Novembro executava várias músicas do seu repertório.
Da Câmara Municipal, a população caminhou até a igreja, onde alguns oradores saudaram o retorno do vigário que aqui permaneceu durante quase 45 anos, lutando pela Igreja e pelas causas cantagalenses, como educação, saúde, fábricas de cimento, etc.
Em 1950, aos 15 anos, vi o Brasil perder a Copa do Mundo, dentro do Maracanã, para o Uruguai por 2 x 1. Consternação geral. Ninguém acreditava. Em compensação, lembro-me das vitórias na Suécia, no Chile e do tri no México.
Na política, vi Getúlio Vargas criar as Leis Trabalhistas, concedendo ao trabalhador patrício dignidade e cidadania. Antes, nosso trabalhador era um animal de carga, depois que perdia a força física e envelhecia terminava na casa de algum parente ou num asilo criado por instituições religiosas.
Vi Getúlio Vargas criar a Companhia Siderúrgica Nacional e a Petrobrás como bases sólidas para nosso desenvolvimento industrial. Infelizmente, a CSN foi privatizada no governo de Fernando Henrique.
Assisti JK construir Brasília, no sertão brasileiro, em cinco anos. Os adversários diziam que a construção da nova capital quebraria o Brasil, todavia, quando a Capital da Esperança foi inaugurada, a dívida brasileira correspondia a Cr$. 0,50 para cada brasileiro. E agora?
Vi, nesse período, a criação das industrias automobilística e naval. Vi nascer no brasileiro um otimismo jamais existente.
Vi João Goulart, eleito pelo povo, ser deposto pelos militares e se refugiar no Uruguai.
Vi os 21 anos dos governos de chumbo dos militares, com intensa censura sobre as artes e a cultura. Além de outros males jamais ocorridos no Brasil.
Assisti à redemocratização brasileira com a eleição de Tancredo Neves, que jamais tomou posse como presidente da república brasileira.
Vi a chegada do Partido dos Trabalhadores à Presidência da República. A melhoria dos salários dos trabalhadores e a criação da Bolsa Família, com a retirada de milhões de brasileiros do nível de pobreza.
Agora, aos 87 anos, o que vejo?
- Evasão escolar entre 5 e 9 anos, 4,25% – igual a de 2012.
- Consumo das famílias, em queda, igualando o de 2015.
- Indústria – A produção industrial em queda, chegando ao nível de 2009.
- Nível de pobreza da população – 13% da população, no nível de 2009, o que corresponde a cerca de 27 milhões de pessoas.
- Fome – A Rede Penssan demonstrou que 33 milhões de brasileiros passam fome qualitativa ou quantitativa.
- P.I.B. – O Produto Interno Bruto sofreu queda acentuada, estando no nível de 2013.
- Desmatamento da Amazônia – Em 2021, mais de 13 mil km quadrados foram desmatados na Amazônia, atingindo a mesma área observada em 2013; associando-se a isso o garimpo ilegal e a invasão de reservas indígenas, com aumento da violência e do contrabando de ouro e de drogas.
- Inflação – Voltou com toda intensidade. Em maio, o acumulado de 12 meses atingiu a 11,73% no IPCA, segundo o IBGE; nível comparado ao de 2003. Enquanto isso os salários permanecem engessados e o brasileiro se alimenta pior, diminuindo sua resistência às doenças.
É profundamente triste ver tal situação socioeconômica do Brasil! A reação está em nossas mãos. É tempo de reagir! Reaja Brasil!
Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.