“São Jorge e o sincretismo religioso”, por Dr Júlio Carvalho

No calendário da Igreja Católica, o dia 23 de abril é dedicado a São Jorge. Relata a história que São Jorge nasceu na Capadócia, região que, atualmente, pertence à Turquia, no ano de 275. Era filho de militar, morto em combate; sendo criado por sua mãe, Policromia, mulher de cultura e de recursos financeiros, na cidade de Lida (Palestina), hoje, Lod (Israel).

A devoção a São Jorge é mundial, nas Igrejas Católica, Ortodoxa, Anglicana e religiões afro-brasileiras. É o padroeiro de diversos países: Inglaterra, Geórgia, Lituânia, Sérvia, Montenegro e Etiópia. É, também, padroeiro menor de Portugal. Do mesmo modo, é o padroeiro de várias cidades: Londres, Barcelona, Gênova, Régio da Calábria, Ferrara, Friburgo, Moscou e Beirute. No Oriente, é considerado o grande mártir. Uma vez adulto, Jorge optou pela vida militar, ingressando no exército romano.

Por sua dedicação e habilidade, não demorou a ser promovido a capitão; antes dos 30 anos de idade era tribuno militar e conde, sendo encarregado como guarda pessoal do imperador Diocleciano, em Nicomédia. É relatado que, ao receber a herança materna, a distribuiu entre as pessoas carentes, causando surpresa à sociedade da época.

Em 303, o imperador Diocleciano determinou que fossem presos todos os militares que professassem a fé católica, considerada uma ameaça para o império romano; ao mesmo tempo, eram terríveis as perseguições aos cristãos. Jorge argumentou junto ao imperador o absurdo daquela lei. Diocleciano tentou suborná-lo, oferecendo-lhe terras, riquezas e escravos; diante da firmeza de Jorge pela sua religião, o imperador determinou que ele fosse torturado de diversos modos e várias vezes. Permanecendo firme na fé, Diocleciano determinou que o mesmo fosse degolado, em 23 de abril de 303.

São Jorge foi sepultado na cidade de Lida (hoje, Lod, em Israel). Posteriormente, o imperador Constantino, convertido ao cristianismo, mandou construir, no local, uma grandiosa capela dedicada ao santo. A sua crença difundiu-se rapidamente pelo oriente médio. Na Europa, a devoção a São Jorge é muito antiga, havendo igrejas construídas na França desde a época do rei Clóvis e da rainha Clotilde.

São Pedro Damião, em uma das festas de São Jorge, assim se pronunciou: “De uma milícia transportou-se totalmente para outra, porque do ofício de tribuno terreno que exercia, passou para a profissão da milícia cristã; como verdadeiro soldado valente, distribuiu todos os seus bens aos pobres, lançou fora a carga das posses das terras e, assim, livre e desembaraçado, cingiu-se com a couraça da fé, mergulhou o ardente guerreiro de Cristo no mais denso da luta”.

Acredita-se que a devoção a São Jorge na Inglaterra foi trazida pelos soldados ingleses que participaram das cruzadas contra os muçulmanos para retomada da Terra Santa.

Em Portugal, Dom Nuno Alvares Pereira considerava fundamental a influência de São Jorge na vitória de Aljubarrota, conseguida pelos portugueses. O rei de Portugal, D. João I, era devoto de São Jorge, determinando que o santo passasse a padroeiro de seu país.

No Brasil, São Jorge é padroeiro de diversas cidades e da Cavalaria do Exército Brasileiro. Em maio de 2019, foi oficializado como padroeiro do Estado do Rio de Janeiro, ao lado de São Sebastião.

Em nosso país, o sincretismo religioso identifica algumas entidades religiosas de origem africana com santos católicos. Para os umbandistas, Ogum, entidade guerreira, que se veste de vermelho e branco, é São Jorge.

No dia 23 de abril de cada ano, a igreja de São Jorge, no centro do Rio de Janeiro, próximo à Praça da República, fica repleta de devotos, muitos vestidos de vermelho e branco, principalmente as crianças, havendo na igreja diversas missas durante o dia.

Quando eu era muito pequeno, minha babá, uma doce afro-brasileira de nome Telva, nas noites de lua cheia, mostrava as sombras lunares dizendo-me que era São Jorge a cavalo, com sua espada, para nos proteger. E eu acreditava piamente. Que doce é a nossa infância!

Conta uma lenda que, no norte da África, na Líbia, São Jorge enfrentou um dragão que iria matar uma jovem princesa. Arrastou a fera até a capital do reino, onde lhe cortou a cabeça e todos se converteram ao cristianismo. O dragão da imagem do santo guerreiro simboliza as heresias e os crimes e pecados da humanidade.

Com a vida repleta de verdades e de lendas, o importante é que o santo militar é venerado pelos fiéis de diversas igrejas e crenças por todo o planeta; que ele transmita a firmeza de sua fé para cada um dos seus devotos, é o que desejo.

E salve o nosso Santo Guerreiro!

 

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.
Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

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