Superthal e Caravana da Coca-Cola fazem noite mágica em Bom Jardim
Sebastião A. B. de Carvalho era cantagalense honorário, nascido em Ipanema, no Rio de Janeiro, em 13 de janeiro de 1938, filho do jornalista Antônio Ferreira de Carvalho. Seu pai criou em Cantagalo o periódico O Novo Cantagalo, do qual Sebastião era redator-chefe, aos 21 anos de idade. Mais tarde, o jornal mudou o nome para Cantagalo Novo.
Era sociólogo, graduado em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia N. S. Medianeira, em 1965. Foi professor de Estudos Sociais e Inglês em diversos colégios de Niterói. Aposentou-se em 1986. Por algum tempo, foi telegrafista dos Correios. Em setembro de 2005, foi eleito e empossado como membro do Cenáculo Fluminense de História e Letras.
Criou o Centro de Estudos e Pesquisas Euclides da Cunha com um grupo de jovens interessados em pesquisar e estudar tudo sobre a história de Cantagalo.
Além dos estudos euclidianos, o grupo descobriu várias grutas em Cantagalo e em Bom Jardim, no distrito de São José, conhecida com o nome de Mão de Luva. Em Boa Sorte, a Novo Tempo, nome por ele escolhido.
Há exatos 33 anos, Sebastião publicou o livro “O Tesouro de Cantagalo — A fascinante história de Manoel Henriques, o Mão de Luva nos Sertões de Macacu” (Niterói–RJ: edição do Autor, 1991). Para escrever e publicar o livro, Sebastião baseou-se em documentos existentes na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, e nos arquivos do Estado de Minas Gerais, assim como fez Rodrigo Leonardo de Sousa Oliveira, em sua dissertação de mestrado, aprovada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
No livro “Mão de Luva e as Novas Minas de Cantagalo: ouro, indígenas e conflitos na capitania do Rio de Janeiro”, organizado por Sheila de Castro Faria e Anderson José Machado de Oliveira (Cantagalo–RJ: Cantagalo, 2024), Rodrigo escreve o capítulo sobre Manuel Henriques: “O bando de Mão de Luva e o contrabando de ouro nos Sertões de Macacu (século XVIII)”, baseado em sua pesquisa da dissertação.
Sebastião Carvalho, no pioneiro estudo sobre o verdadeiro Mão de Luva, afirma, categoricamente, que ele era brasileiro, branco, nascido e batizado na freguesia de Ouro Branco, na capitania de Minas Gerais. Sua família era católica. Na mesma Igreja, casou-se, em 1775, com a viúva Maria de Souza, que possuía um filho. Esse enteado acompanhou Manuel Henriques no desbravamento dos “Certões ocupados por índios bravos”. Antes de desbravar os caminhos para os “Certões”, Manuel Henriques residia no Arraial de Nossa Senhora da Conceição do Guarapiranga, hoje município de Piranga, localizado a 169 km de Belo Horizonte, na Zona da Mata Mineira. Faz divisa com os municípios de Mariana, Ouro Preto, Senhora de Oliveira, Catas Altas da Noruega, Porto Firme, Lamim, Presidente Bernardes, Guaraciaba e Diogo de Vasconcelos. A distância entre Piranga e Cantagalo é de 254 km.
A minha IA calcula que a velocidade média de um cavalo é cerca de 6-7 km/h em passo e pode chegar a 20-30 km/h em galope, mas claro que não pode ser mantida por muito tempo. Se imaginarmos uma velocidade média de 7 km/h, sem considerar pausas ou variações de terreno, a viagem de 254 km levaria de 36 a 37 h, aproximadamente. Considerando pausas para descanso e alimentação do cavalo e do cavaleiro, essa viagem poderia facilmente levar uma semana ou mais.
No dia em que Cantagalo completou 200 anos de emancipação político-administrativa, Sebastião Carvalho entregou ao prefeito Saulo Gouvea (PT) um documento, fruto de suas pesquisas, com duas sugestões: a criação do Dia do Desbravador de Cantagalo, em homenagem a Mão de Luva, e a alteração do histórico do município, publicado no site oficial da Prefeitura (www.cantagalo.rj.gov.br), retirando a parte romanceada e lendária da história para deixar apenas a versão apurada por historiadores e pesquisadores, especialmente em relação ao desbravador Manoel Henriques, o Mão de Luva, primeiro a chegar à região. A sugestão não foi atendida até hoje.
O que é, no mínimo, estranho é que a Câmara Municipal e a Prefeitura de Cantagalo continuam com estórias da carochinha. Nas escolas municipais, o fundador de Cantagalo é o Duque de Santo Tirso, um personagem que só existiu na fértil criação romântica do historiador Acácio Ferreira Dias.
Sebastião foi ignorado também pelos organizadores e escritores do recente lançamento da Editora Cantagalo. É ignorado pela academia, pelas autoridades cantagalenses, pela Secretaria de Educação, que orienta os professores das escolas que funcionam no município.
É um ser invisível.
Menos para a atual secretária de Cultura, Andréia Reis. Ela já reconhece Mão de Luva na versão verdadeira de Sebastião Carvalho e, com o apoio do prefeito Guga de Paula, deve tornar Sebastião visível por meio de ações concretas até dezembro próximo.