Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Na minha infância, em Cantagalo, dia seis de janeiro era uma data festiva. Da zona rural, vinham as folias de reis, com seus uniformes vistosos e com suas músicas típicas, corriam a cidade, paravam defronte algumas casas em que os moradores estavam à janela; a bandeira era entregue ao chefe da casa que permanecia com ela durante algum tempo, enquanto a folia cantava algumas músicas. Depois, a bandeira era devolvida à folia e as pessoas amarravam alguma cédula monetária a fitas que pendiam da bandeira, enquanto a folia seguia em frente.
Com o dinheiro arrecadado e com a doação de alimentos e de animais, que alguns faziam, era realizado o grande almoço para os membros da folia de reis e de convidados.
Quando as folias passavam diante da igreja católica, entravam para visitar o presépio, ocasião em que cantavam várias músicas em louvor ao Menino Jesus; nessa ocasião os palhaços ficavam do lado de fora, pois se dizia representarem os demônios. Por falar em palhaços, na minha infância, tinha muito medo dos mesmos; que só passou no dia em que meu pai me levou perto de um deles e pediu que retirasse a máscara de couro de bode, então, vi que era um homem e não o diabo como falavam.
No calendário litúrgico, era o dia da Epifania de Jesus, dia da manifestação de Jesus a todos os povos do mundo. Os israelitas deixavam de ser o povo eleito de Deus, lugar que passaria a ser de toda humanidade. A data marca a visita dos Reis Magos ao Menino Deus, não mais na gruta, mas em alguma casa de Belém que abrigava a Sagrada Família.
No Evangelho de Lucas, na gruta de Belém, o Menino Jesus recebeu a visita dos pastores de ovelhas, lembrando que Jesus viera para o povo judeu, que não O aceitou (Lc 2,16-19).
Em Mateus (Mt 2,1-12), o Menino Jesus recebe a visita de alguns magos; não é dito quantos são. A tradição passou a citar três reis magos vindos do oriente, embora alguns falem em quatro e outros admitam até doze magos, comparando-os ao número das tribos de Israel ou aos apóstolos; provavelmente eram astrólogos da região da Mesopotâmia, que viviam analisando o céu e vendo a estrela guia que anunciava o nascimento do Rei da Humanidade a seguiram até Belém.
São Beda, monge beneditino da Inglaterra e doutor da Igreja Católica, autor de várias obras de caráter religioso, escreveu sobre os Magos o seguinte; “Belchior era velho de setenta anos, de cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era moço de vinte anos, robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio. E Baltazar era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz”.
Com isso, talvez, quisesse mostrar que todas as idades e todos os povos buscavam o Menino Jesus, como Salvador da Humanidade.
Outra tradição diz que Baltazar, Gaspar e Melchior, ou Belchior, representam a Europa, a Ásia e a África (nessa época a América e a Oceania ainda não eram conhecidas), numa demonstração de que Jesus veio para toda humanidade, não apenas para Israel.
Consta, ainda, que os magos ofereceram ao Menino Jesus ouro, simbolizando sua realeza, incenso, lembrando sua divindade, e mirra alertando que ele era humano.
Na catedral de Colônia, na Alemanha, estão guardadas prováveis relíquias ósseas dos magos, trazidas do oriente por Santa Helena, mãe do imperador Constantino, que se converteu ao catolicismo, declarando a Igreja de Cristo a religião oficial do Império Romano, depois de 300 anos de atrozes perseguições que originaram os primeiros mártires e santos do catolicismo.
Em sua homilia do último dia seis, o Papa Francisco disse que nosso caminho ao encontro da fé está apoiado em um tripé: a inquietação que se interroga, o risco da caminhada e a adoração do Cristo, seguindo o mesmo caminho dos Magos.
A festa da Epifania representa a abertura do Reino de Deus para todos os povos, representados pelas pessoas de boa vontade.
Em alguns momentos, fico a pensar: os Magos, que eram estrangeiros, enfrentaram os riscos de uma longa viagem em busca do Rei da Humanidade, pensando encontrar um trono suntuoso. Depois de todos os riscos, encontram um recém-nascido no colo da mãe; deveriam ter ficado decepcionados. Pelo contrário, ajoelharam-se, adoraram e deram presentes.
Enquanto isso, Herodes procura matar o Menino Jesus, comprovando o que encontramos na Bíblia:
“Veio um homem, enviado por Deus, seu nome era João. Ele veio como testemunha, a fim de dar testemunho da luz, para que pudessem crer, por meio dele. Não era ele a luz, mas veio dar testemunho da luz. Esta era a luz verdadeira, que vindo ao mundo a todos ilumina. Ela estava no mundo, e o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não a reconheceu. Ela veio para o que era seu, mas os seus não a acolheram. A quantos, porém, a acolheram, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus: são os que creem no seu nome. Estes foram gerados não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo. 1, 6-13).