“Seo Falcão: patrimônio de nossa história”, por Celso Frauches

No artigo da semana passada, focalizei o José Marinho Falcão, conhecido por seo Falcão. Não consegui encaixar no meu espaço nesta coluna todas as histórias que marcaram a vida deste bibarrense com alma de cantagalense. Como funcionário da Estrada de Ferro Leopoldina, ele trabalhou em nosso município nas estações do Gavião, Euclidelândia e Cantagalo. Nessas duas últimas, como Chefe de Estação, a mais elevada categoria profissional dos ferroviários de então.

Brasão da família Falcão
Brasão da família Falcão

Dos filhos de Mabília e José Marinho Falcão, nasceram nove netos e dezoito bisnetos. Zezito e sua esposa Terezinha Ornellas de Carvalho Falcao foram pais de Jussara, que casou com Damião de Souza Cunha; dessa união nasceram Daniel e André. José Luciano, casado com Maria Márcia Vianna Alves, pais de José Luciano Júnior, Márcio e Túlio. Jussiara, que do casamento com Hélvio Braz Matos Noronha, teve os filhos Ana Caroline, Daniele e Felipe. Jader, casado com Beatriz Lannes Lontra, gerou duas filhas, Laís e Lívia. Maria Anita, casada com Oswaldo Marques Machado, tem uma filha, Kilza. Fernando, que foi casado cm Manoelina Rodrigues Moreira, é pai de Fernando e de Suzana. Maria Lygia, minha colega do curso ginasial no Colégio Municipal Euclides da Cunha, casada com Célio Silva, tem um filho, Hekel. Aluízio Nivaldo, meu querido amigo, foi casado com Teresa Maria Figueira e tem a filha Juliana.

Suas histórias comoveram muitas pessoas. Algumas enriqueceram o conhecimento sobre o seo Falcão que eu conheci, contribuindo para a maior compreensão e admiração de um profissional e um ser humano dos mais ilustres na história de Cantagalo. Vou tentar contar algumas.

Seo Falcão participou da fundação do Flamenguinho. Era um dos mais entusiastas torcedores do clube. Quando podia, acompanhava a equipe nas partidas que realizava em nossa região, em especial quando na disputa de algum campeonato ou torneio.

Mapa ferroviário de Cantagalo
Mapa ferroviário de Cantagalo

O meu querido amigo Júlio (Dr. Júlio Carvalho), meu colega de página, contou-me um dos causos pouco conhecido. O Flamenguinho foi jogar, em Bom Jardim, uma partida com o Bandeirante FC. Chovia muito. O gramado estava alagado. Seo Falcão foi com a delegação, levando consigo outro torcedor, como eu, do Flamenguinho. O árbitro da Federação Fluminense, que residia no Rio de Janeiro, não pode vir. A partida caminhava para ser cancelada. Seo Falcão foi conversar com o presidente do Bandeirante. Disse-lhe que, com ele, veio um árbitro carioca, que poderia “apitar o jogo”. O presidente do Bandeirante concordou e a partida foi iniciada, sob a arbitragem do “árbitro carioca”, conhecido por Júlio Carvalho. Não era propriamente uma mentira, o amigo Júlio morava na cidade do Rio de Janeiro. Diz-me o Júlio que havia tanta água no gramado que, quando o Rubem Gualicho foi bater um pênalti para o Flamenguinho, a bola nem chegou ao goleiro, parou numa poça d’água. Final da partida: Flamenguinho 3×1. Seo Falcão voltou pra Cantagalo feliz da vida com essa conquista.

O nosso focalizado nesta semana era um piadista famoso. Sua neta Jussara diz que havia um caderno em que ele escrevia as piadas. Pena que foi perdido… Por outro lado, como um repentista no assunto, às vezes inventava uma piada pra ela contar aos colegas do banco em que trabalhava. O Luciano, outro neto, diz que, uma vez, o avô escreveu em folha um enorme A e lhe perguntou: “Que bicho você vê nesta folha?” Luciano respondeu de imediato: “Não vejo bicho nenhum. Só vejo a letra A!”. “Não“, disse ele, “veja o tamanho do á – tamanduá!”.

Homenagem do Instituto Mão de Luva (www.maodeluva.net.br), imaginando o nome de José Marinho Falcão na estação de Euclidelândia
Homenagem do Instituto Mão de Luva (www.maodeluva.net.br), imaginando o nome de José Marinho Falcão na estação de Euclidelândia

Na estação de Euclidelândia, onde foi chefe por vários anos, seo Falcão aplicou todo o seu conhecimento na profissão para organizar e gerir aquela unidade ferroviária. Firmou a sua liderança e competência gerencial. O prefeito Guga de Paula, recentemente, promoveu a recuperação do prédio dessa estação. Ali poderá ser um museu, incluindo documentos que relembrem seo Falcão. A proposta de Guga de Paula era dar a esse patrimônio histórico o nome de seu mais competente Chefe – José Marinho Falcão. Infelizmente, a Câmara Municipal optou por outro nome – Euclides da Cunha. Este cantagalense e escritor notável teve o reconhecimento de nosso município que deu ao distrito de Santa Rita do Rio Negro o nome de Euclidelândia. A empresa cimenteira, em cujas terras Euclides nasceu, tem preservada a sua primeira morada, de onde saiu para encantar o mundo com o seu estilo literário único, ao lado de causas à época desprezadas pelos poderes constituídos. Tem nome de rua em Cantagalo, busto na Praça João XXIII e um museu a ele dedicado – Casa Euclides da Cunha.

Registro histórico mostrando ainda as linhas da ferrovia
Registro histórico mostrando ainda as linhas da ferrovia

A homenagem a seo Falcão seria mais justa: um ferroviário de competência e liderança inegáveis ser reconhecido pelo Poder Público do Município ao qual dedicou os anos mais férteis de sua jornada. Faremos essa homenagem na versão online deste JR, um jornal a serviço de Cantagalo e região. José Marinho Falcão é um patrimônio de nossa história.

O colunista, médico e meu amigo Júlio me contou uma história interessante. Ele levava sempre ao seo Falcão os documentos médicos que o Dr. Carvalho, médico da “Leopoldina”, enviava ao Chefe da Estação sobre ferroviários. Numa dessas vezes, seo Falcão observou que havia uma verruga em um dos dedos do Júlio. Falou-lhe: “Seu pai, que é médico, não acabou com essa verruga, mas eu vou acabar”. Fez uma poção e deu ao meu amigo, dizendo-lhe para pingar uma gota todos os dias. Júlio levou o recipiente ao pai, perguntando-lhe se podia aplicar. Dr. Carvalho lhe disse: “Se o Falcão receitou, pode usar”. Ao final de uns quinze dias, a verruga sumiu. Era óleo de pinhão. Mais uma qualidade desconhecida de Seo Falcão.

A versão online do JR, referente ao artigo “Seo Falcão: um líder natural”, mereceu vários comentários de alguns familiares do nosso homenageado. Luciano Carvalho Falcão ressaltou a feliz escolha do “inesquecível Avô Falcão”. Suzana Falcão disse que o artigo “retratou vovô Falcão na íntegra”, com o qual ela teve feliz convívio. Juliana Falcão disse da sua emoção em “poder me inteirar e, também, recordar-me de histórias tão bonitas e ricas sobre esta amada e carismática personagem, meu querido e saudoso vovô Falcão”. Kilza Falcão afirma que conviveu com o avô por dezesseis anos e “sempre foi um exemplo na minha vida. Deixou muitas saudades”. Fernando Moreira Falcão ressaltou: “Convivi muito com meu querido Avô Falcão, sempre carinhoso, muito divertido com suas anedotas, charadas, dávamos muitas gargalhadas, os passeios eram ótimos. Tenho muitas recordações. E orgulho dele. Sempre com ensinamentos de honestidade, respeito, que o nosso direito termina quando o do outro começa. Saudades muitas…”.

 

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

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