“Seo Falcão: um líder natural”, por Celso Frauches

“ ‘Uma flor pra outra flor’,
Diz seo Falcão à Mabília…
E assim cresceu o amor
Que gerou linda família”.

(Angela Araújo)

 

Era assim nosso personagem da semana – José Marinho Falcão, seo Falcão –, a gentileza em pessoa. Sempre voltava de suas caminhadas trazendo para a esposa – Mabília Pereira – a flor mais bela que encontrasse.

Antiga Estação de Leopoldina, em Cantagalo
Antiga Estação de Leopoldina, em Cantagalo

Quase sempre, fora desses momentos, podíamos ver o seo Falcão caminhar pela cidade, com as mãos para trás, tendo a esposa apoiada em seu braço, distribuindo simpatia, alegria e o seu “alto astral”. As caminhadas às vezes chegavam a Cordeiro.

Seo Falcão fez carreira na Estrada de Ferro Leopoldina, a partir de 1920. Segundo seu filho Aluízio, ele atuou nas estações de Monnerat, Itaocara, Bom Jardim, Gavião, Murineli, Euclidelândia e Cantagalo. Nestas duas últimas como Chefe de Estação, o mais elevado cargo da carreira de ferroviário.

José Marinho Falcão nasceu em 1901, na cidade de Duas Barras. Em 1927, casou-se com a sua amada, Mabília Pereira, na Igreja de Nossa Senhora da Piedade, em Cordeiro. Eles formavam um casal por todos admirado. Transbordavam harmonia, simpatia, amor.

O casal gerou sete filhos: Luiz Carlos, o Calufa (1928), José (Zezito, 1929), nascidos na Fazenda Gavião; Maria Anita (1932), Fernando (1934), Maria Lygia (1936) e Aluízio (1939) em Euclidelândia. Generosamente ainda adotaram um sobrinho órfão, Rui (1930). Todos nascidos em nosso município.

Seo Falcão era apaixonado pelo futebol. Quando foi Chefe da Estação de Euclidelândia, ali fundou o Santa Rita Futebol Clube, do qual participava ativamente.

Entre os afazeres extra-Leopoldina, jogava como zagueiro central. Dizem que não era um craque, “mas dava conta do recado”.

Em Cantagalo, foi fundador do Ferroviário FC, ao lado de outros colegas da Leopoldina. A camisa era vermelha, a cor do América, em homenagem ao Dr. Carvalho, que torcia por este clube, e o brasão tinha o formato do seu querido Botafogo. Seo Falcão e o Dr. Carvalho Jr. eram amigos fraternos. Quando a diretoria do Cantagalense FC numa reunião propôs a fusão com o Ferroviário, que passaria a ser o Cantagalo EC, ele foi contra e abandonou a reunião. Mais tarde, foi elemento relevante na criação do Flamenguinho, incluindo a aquisição de vários títulos de sócio- proprietário para presentear os filhos.

O advogado José Luciano Falcão, seu neto, filho do Zezito, tem histórias que marcaram a sua memória afetiva. Em visita ao Instituto Mão de Luva, contou-nos do seu relacionamento na infância e na adolescência com o seu avô, já na fase de desativação das linhas férreas de Portela a Niterói e Rio de Janeiro. Lembrou-se de que o avô contava que foi quem trouxe para Cantagalo a primeira bola de futebol, aquelas rústicas, costuradas com couro. Diz que, por diversas vezes, ao visitar seu avô, encontrava-o com a TV e o rádio ligados, além de estar com o jornal do dia aberto também. Acompanhava as notícias e artigos em várias mídias daqueles tempos.

Conta-nos o Luciano que o avô, quando residia em Euclidelândia, apreciava jogar “peladas” em Boa Sorte, para aonde ia aos domingos. Dona Mabília não gostava, pois passava o sábado sozinha. Num domingo mais sofrido, quando o marido chegou, ela pegou as chuteiras dele e jogou-as nas chamas do fogão a lenha… Seo Falcão demorou a comprar uma nova.

Apaixonado pelo Botafogo, seo Falcão cuidava do campo do Ferroviário, depois Cantagalo EC. Quando o time do Botafogo veio à nossa cidade jogar contra o Cantagalo EC, na festa dos Carecas, em 1953, ele caprichou, para ver os seus craques preferidos. Essa partida marcou a estreia do grande Garrincha pelo Botafogo, que a venceu por 5 x 1. Osmar fez o “gol de honra” do Cantagalo.

O meu querido amigo e irmão Júlio, colega desta página do JR, também tem histórias sobre o seo Falcão. Quando o Dr. Carvalho Jr. estava bem doente, seo Falcão e dona Mabília foram visitá-lo. O Júlio perguntou ao pai se o casal poderia entrar. Imediatamente, ele autorizou. Quando entraram no quarto, o Dr. Carvalho falou em alto e bom som: “Mabília, que saudades daquele feijão com angu que você fazia! Era uma delícia!”. O casal se abraçou e começou a chorar, no que foi seguido pelo caridoso médico.

Quando vereador, Júlio deu a uma das ruas do bairro Passos dos Reis, o nome de José Marinho Falcão. Uma via tranquila na qual, talvez, o nosso homenageado desta semana gostaria de morar.

Rua José Marinho Falcão
Rua José Marinho Falcão

Seo Falcão era um líder natural. Os seus colegas de trabalho, sob sua chefia, tinham um chefe enérgico, rigoroso, disciplinador, mas ao mesmo tempo um defensor deles. Aposentado, recebia os colegas em sua casa na antiga Rua do Rosário. Ouvia as queixas, os pleitos e, sempre que justos, recebiam o seu apoio. Redigia cartas para defender as causas dos ferroviários que com ele trabalharam. Às vezes, formavam-se filas na porta de sua residência.

Ainda tenho outras boas histórias contadas por Luciano, Aluízio, Dr. Júlio e outros parentes e amigos. Mas o espaço é limitado. Espero ter traduzido um pouco da história de um cantagalense de Duas Barras: José Marinho Falcão, seo Falcão.

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

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