“Símbolos da pátria (2)”, por Dr Júlio Carvalho

No dia 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas, sentindo que seria deposto da Presidência do Brasil pela segunda vez, suicidou-se com um tiro no precórdio, no Palácio do Catete, sede do governo federal. O Brasil entrou em choque emocional. Vargas cometera suicídio, cumprindo o que prometera dias antes: “daqui só sairei morto”. Nem todos cumprem suas promessas!

Soldados cantando o hino nacional
Soldados cantando o hino nacional

As forças armadas entraram de prontidão. Em Cantagalo, tudo foi diferente. O sargento retirou o ferrolho de todos os fuzis, colocou-os em um caixote de madeira e entregou à guarda da polícia militar. Até hoje não entendi.

No Tiro de Guerra 119, aprendemos que dois grandes símbolos da Pátria são o hino e a bandeira, que deverão ser respeitados e venerados, sempre que presentes. Aprendemos que durante a execução do hino nacional, todos deverão permanecer de pé, em posição de sentido; os fardados em continência e os civis com a mão direita aberta sobre o lado esquerdo do peito. Se a bandeira estiver hasteada, todos voltados para a mesma.

No dia do juramento à bandeira, por esquecimento, o sargento determinou que o pelotão da bandeira saísse para a rua, com a guarda sem estar devidamente armada, com as baionetas caladas. Foi vigorosamente advertido pelo coronel presente ao ato, diante de todas as autoridades.

Nossa bandeira é repleta de simbolismo, não só na frase que nela existe, mas também em suas cores e nas estrelas que possui, cada um representando um estado do nosso Brasil. Não foram colocadas aleatoriamente, mas representam as constelações visíveis no hemisfério sul.

Final da Copa do Mundo de 1950
Final da Copa do Mundo de 1950

Aprendi durante toda minha vida que a bandeira nacional não pode ser maculada. Certa vez, na minha infância, a torcida da Argentina, num ato agressivo e anticívico, queimou uma bandeira brasileira, o que gerou protesto no nosso país.

Em 1950, no jogo em que a seleção brasileira perdeu, no Maracanã, a Copa do Mundo para o Uruguai por 2×1, um amigo meu de Cantagalo, cujo nome não citarei, permaneceu sentado durante a execução do hino nacional brasileira. Não sabe de onde, levou um pescoção, permanecendo uma semana com torcicolo.

Na Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, no dia seguinte em que perdemos de 7x da seleção da Alemanha, encontrei jogada no chão, do lado de dentro do portão de nossa casa, uma pequena bandeira do Brasil. Ação de algum torcedor desesperado, que confunde a seleção com a pátria. Apanhei aquele símbolo desprezado e, até hoje, o mantenho em uma das janelas da residência.

Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.

Hoje, vejo nosso símbolo maior adulterado de vários modos, com acréscimo de emblemas de clubes esportivos, de símbolos religiosos e, pior ainda, com distintivos partidários e retratos de políticos. Outrora, tudo que maculasse a bandeira nacional era considerado crime.

Os dois maiores símbolos do Brasil foram criados em momento de sublime inspiração patriótica e não podem ser sequestrados por partidos políticos ou ideologias como propriedades.

Eles representam todos os brasileiros natos ou naturalizados, sem distinção de credos, raças, sexo, pois representam, antes de tudo, o nosso BRASIL.

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

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