“Símbolos da pátria”, por Dr Júlio Carvalho

O ginásio Euclides da Cunha funcionava no centro da cidade, em um antigo sobrado, onde se encontra, atualmente, o Banco do Brasil. Às 7h30 da manhã, a “alunada” começava a se concentrar na Praça dos Melros, fazendo mais barulho que as negras aves canoras que construíam seus ninhos nas copas das centenárias palmeiras do nosso jardim.

Às 7h45, soava a campainhas dos estabelecimentos de ensino e os alunos se perfilavam no pátio atrás do velho prédio, turmas separadas, masculinas e femininas, do primeiro ao quarto ano; os mais altos na frente e os baixinhos no final das filas.

Seu Soares, com a cabeça calva, ou o Ewandro, colocados no patamar mais elevado da pequena escada de quatro degraus, comanda a entrada para as salas de aula, chamando cada turma de acordo com as séries. Primeiro entravam as meninas, depois os meninos. Todos devidamente uniformizados.

Colégio Euclides da Cunha - CNEC - Cantagalo - 1963
Colégio Euclides da Cunha – CNEC – Cantagalo – 1963

Em alguns dias, a Profª. Maria de Lourdes Dietrich aparecia na parte mais elevada da escada e regia o Hino Nacional, cantado por todos, em posição de sentido.

Quando veio morar em Cantagalo o Profº. Mario de Moraes Teixeira, que gostava de ser chamado de Tenente Mário, pois era reserva do exército brasileiro, em determinadas datas ocupava o patamar elevado para falar sobre a importância da efeméride. Certa vez, a oratória cívica foi depois das aulas, sob um sal escaldante, e um dos colegas, não resistindo ao calor, caiu desmaiado.

O tenente disse: “coloquem ele na sombra e deem-lhe um pouco d’agua; no exército é assim!’’. Foi motivo de muito riso.

Nos desfiles de 7 de setembro, os alunos de porte atlético eram escolhidos para condução da bandeira nacional; cinco outros formavam a guarda do nosso auriverde pendão. Todos com luvas brancas. Era um motivo de honra e muito respeito.

Aos 19 anos, em 1954, fui prestar o serviço militar na extinto Tiro de Guerra 119, situado no prédio onde se encontra, hoje, a biblioteca Acácio Ferreira Dias, sob o comando do zeloso sargento Waldir Benício de Almeida, que cursava o 2º ano do curso científico. Depois, foi transferido para uma cidade do interior de São Paulo, onde se formou como odontólogo, passando para o corpo de saúde do Exército Nacional, Trabalhando na cidade de Petrópolis. Cidadão de valor!

Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.

Durante dez meses fizemos inúmeros tipos de treinamentos: morros, brejos, cercas, marchas de 7, 14 e 21 Km, bastante ginástica, corridas, saltos em altura e distância, e tiros ao alvo com velhos fuzis que ainda funcionavam, onde está situada, atualmente, a Quinta dos Lontras.

Na turma havia um grande número de companheiros da zona rural, a maioria, todos analfabetos. O sargento Waldir escalou meu amigo Geraldo Arruda Figueiredo para alfabetizá-los. Com uma paciência de Jó, meu amigo cumpriu a nobre missão e, no final do ano, todos liam e escreviam. Bendita missão!

Havia, também, aulas teóricas ministradas pelo sargento Waldir; além de um manual para estudos diversos sobre a importância das forças armadas e do exército, como guardião das riquezas do país, dos nossos limites, da ordem interna e da Constituição.

Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.

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