“Sociólogo italiano”, por Dr Júlio Carvalho

Domenico de Masi

Domenico de Masi

Em certo fim de semana, há muito tempo, o caderno cultural do extinto Jornal do Brasil, apresentava o livro “O ócio criativo”. Li o comentário sobre o trabalho e achei interessante as ideias do autor, um sociólogo italiano da cidade de Nápoles, professor de Sociologia do Trabalho na Universidade Sapienza de Roma, onde foi reitor da faculdade de Ciências da Comunicação.

Além desse livro, escreveu outros trabalhos: “Uma simples revolução”, “O trabalho no século XXI” e “Alfabeto da sociedade desorientada”; todos relacionados ao trabalho e as modificações que poderiam ser realizadas pela sociedade.

Depois de ler o comentário sobre o livro “O ócio criativo”, resolvi comprá-lo: li com muita atenção e o considerei bastante interessante, embora não precisasse ser tão longo. Suas ideias sobre o trabalho são interessantíssimas e até revolucionárias, pois o autor considera que é necessário tempo livre, folgas, para que a mente descansada possa ser mais criativa e mais produtiva.

Defende, também, menos tempo de serviço, menos dias de trabalho durante a semana, como meio de descansar o espírito que se tornará mais criativo. Na época, o autor morava em um andar de um prédio e tinha o seu escritório em outro andar do mesmo imóvel, onde trabalhava, sendo sua atividade toda através da internet, só saindo para o trabalho pessoal quando era contratado para conferências presenciais.

O nome desse sociólogo italiano era Domenico de Masi, falecido no último dia 9, aos 85 anos de idade. Era possuidor de diversos conceitos inovadores. Dizia, por exemplo, que as mulheres seriam o centro do mundo: “em 2030 as mulheres viverão três anos a mais que os homens. Cerca de 60% dos estudantes universitários, graduados e mestrandos serão mulheres. Muitas têm e continuarão a ter filhos sem a necessidade de um marido, enquanto aos homens não será ainda possível procriar sem uma mulher. Por tudo isso, as mulheres serão o centro do sistema social”.

A parte inicial dessa opinião de Domenico de Masi já vi acontecer, pois, em 1961, ao ser diplomado médico pela Faculdade de Ciência Médica (RJ), nossa turma com 120 alunos só tinha 6 pessoas do sexo feminino. Hoje, elas formam maioria nas turmas de medicina. Quanto a segunda parte do conceito, creio que levará mais tempo para se tornar realidade, face aos conceitos machistas de nossa sociedade.

Domenico de Masi era grande admirador do Brasil; dizia que em virtude da nossa formação étnica e da participação de tantos povos diferentes na formação da nossa sociedade, o Brasil tem tudo para ser uma grande nação democrática e feliz. E eu digo Amém!

Amava a cidade do Rio de Janeiro e a comparava a Nápoles. Ao receber o título de cidadão honorário do Rio de Janeiro, assim se expressou: “Nápoles representa um modelo de cidade onde o espírito racional e cartesiano da metrópole convive com o emocionalismo caloroso da aldeia. Nápoles é o Rio de Janeiro da Europa, e o Rio é a Nápoles do Brasil”.

Domenico de Masi era amigo do presidente Lula, tendo visitado o líder trabalhista, em 2019, quando o mesmo se encontrava preso em Curitiba. Quando Lula foi à Itália, retribuiu a visita do amigo.

Ao saber do falecimento do sociólogo italiano, nosso Presidente assim se expressou nas suas redes sociais: “Intelectual incansável e homem público apaixonado, sempre foi um defensor das causas sociais, do avanço das conquistas humanas e de um mundo mais justo e solidário. De Masi sempre foi muito atento e carinhoso com o Brasil, algumas vezes visitou o país e sem nenhum medo de se posicionar, mesmo nos momentos mais difíceis. Serei eternamente grato pela visita que fez quando eu estava preso em Curitiba. Fiquei feliz em reencontrá-lo na sua querida Itália”.

Durante a pandemia de Covid-19, procurando evitar o contágio e a propagação maior da doença, muitas empresas e diversos órgãos governamentais determinaram o trabalho nas residências, pela internet; o resultado da medida foi favorável, as empresas não deixaram de produzir e fizeram economia em papel, energia elétrica, café, alimentação, etc. O mesmo acontecendo com os governos, como mostraram as estatísticas da época.

No meu caso, como médico auditor da Unimed Serrana-RJ, meu trabalho se tornou mais produtivo; não ficando preso a horários de início e fim de cada etapa, trabalhava mais à vontade; quando cansava, dava uma parada, andava um pouco, retornando ao trabalho pouco depois. Se a temperatura estivesse muito elevada, trabalhava de bermuda, de chinelos ou descalço. Se preferisse, trabalhava à noite, com mais silêncio. Enfim, meu trabalho rendia mais.

Tudo isso graças ao trabalho à distância, o que demonstra que Domenico de Masi foi um sociólogo que andou à frente de seu tempo. Aguardemos a época em que suas ideias serão utilizadas em benefício dos trabalhadores, com melhores resultados para o trabalho. Será “o ócio criativo” que ele sempre defendia.

 

Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo
Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo

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