Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
A caravana liderada por Carlos Elias Curty chega a São Sebastião do Paraíba.
Nasci e me criei em São Sebastião do Paraíba, na Fazenda Serra, do meu avô Américo Fernandes Frauches, neto de Jean Abram Frauche, um dos imigrantes suíços da Colônia Nova Friburgo que migrou para esse distrito de Cantagalo, em 1821. Com o falecimento do meu avô paterno, assumiu a gerência da fazenda meu pai, Henrique Luiz Frauches, por delegação de seus irmãos. Mais tarde meu pai adquiriu as frações da fazenda, objeto de inventário, onde fiquei até os onze anos de idade. Na Escola Estadual do Porto do Tuta fiz o curso primário, com a professora Neli Rodrigues Moreira da Costa, esposa do meu tio Acyr Ferreira da Costa, irmão de minha mãe.
Fui batizado na Igreja Católica, capela do Porto Marinho.
Criança, meus pais faziam compras na Vila, no armazém de Isaltino Cosendey e de Orlando Periard. Na casa de um dos dois, participávamos dos festejos de São Sebastião. Lembro-me da procissão, da presença sempre alegre do padre Crescêncio, e dos festejos pagãos, fogos, barracas de alimentos, do convívio com os nossos parentes e amigos que ali viviam.
Quando fiz pesquisas para escrever o livro A saga de Jean Abram Frauche – De Ursins (VD), Suíça, a São Sebastião do Paraíba (RJ), Brasil – disponível gratuitamente em www.andragogia.net.br -, encontrei várias Frauches trabalhando na comissão de festas, no início de 1900.
A Gazeta de Notícias, da província do Rio de Janeiro, noticiava, na edição de 5 de abril de 1894, que a festa dedicada ao “Martyr S. Sebastão”, na vila de São Sebastião do Paraíba, em Cantagalo, “será realizada no dia 3 de junho”, por motivos extraordinários. Na composição da comissão dos festejos, encontramos alguns membros da família Frauches, com o sobrenome grafado “Franches”.
A minha família, por parte dos dois ramos de imigrantes – portugueses, os Coelho da Costa, oriundo dos Açores, e o suíço, com Jean Abram Frauche, esteve presente e participou ativamente do desenvolvimento socioeconômico do distrito de São Sebastião do Paraíba, na agricultura e no comércio.
Neste 2023, residindo em Cantagalo, não resisti ao desejo de rever e participar, de alguma maneira, dos festejos de São Sebastião, no distrito que leva esse santo nome. Lá estivemos, Angela e eu, no dia 20 último, na abertura dos festejos. Presenciei, pela primeira vez, a chegada da cavalgada liderada por um cantagalense do Paraíba, o advogado Carlos Elias Curty, que vive em Barra Mansa, no Sul fluminense. Há mais de vinte anos, ele chega na vila, no dia 20, por volta das 13h, com os demais cavaleiros, sendo recebido por outros cavaleiros locais. Este ano, em palanque armado ao lado do coreto da praça, a caravana foi recebida pelas autoridades municipais, à frente o prefeito Guga de Paula, pelo presidente da Câmara, Ciro Fernandes, e outros vereadores, pelo padre Rodolfo da capela local e por outros membros da comunidade. O amigo Carlos Elias estava emocionado. Encerrada a solenidade, todos foram saborear um almoço servido por membros da Igreja de São Sebastião, no local onde nos meus tempos de criança funcionava o armazém e Izaltino e Orlando.
Mais tarde, participamos de outro evento, a solenidade de lançamento do novo livro de contos e causos da conterrânea Ismênia Melo – Lendas e contos desta região -, assistida por sua filha, e por seu irmão Jonas, artista plástico. Em 2018, a amiga Ismenia lançou o livro São Sebastião do Paraíba e sua história, repleto de informações que resgatam a história de um dos distritos mais importantes para o desenvolvimento de Cantagalo na Era do Café.
Ismenia dá-nos notícias dos imigrantes europeus que povoaram o distrito, tendo em vista as terras férteis para a agricultura, a abundância de águas pelos rios e córregos da região, sendo o Rio Paraíba do Sul o mais caudaloso, que alimentava as plantações de arroz, como o arroz anã, de Porto Marinho. Mas a cultura do café foi o carro-chefe para o progresso da região. Com o fim dessa era, os agricultores locais voltaram-se para a agricultura e a pecuária nascente.
Nesse livro, ficamos sabendo dos imigrantes suíços: Bard, Bon, Cosendey, Curty, Feuchard, Frauches, Graeff, Lugon, Lugon-Moulin, Muzy, Periard, Robadey, Tardin; os portugueses da ilha da Madeira e Açores: Abreu, Araújo, Bastos, Campos, Cardoso, Carvalho, Coelho, Couto, Cunha, Faria, Ferreira, Gonçalves, Guimarães, Leite, Martins, Medeiros, Mello, Moreira, Noronha, Oliveira, Pacheco, Parreira, Paula, Pereira, Pinto, Quindeler, Rabelo, Ramos, Rosa, Santos, Silva, Silveira, Sota, Souza, Stork, Teixeira. Os italianos Campanati, Gasliani, Falco, Sartori e Padovani e os franceses Munier e Bittencourt completaram essa plêiade de imigrantes que honram as suas origens pelo que fizeram e seus descendentes fazem por Cantagalo.
Ismênia nos conta da existência do Clube Ciência e Caridade e do Clube Republicano de S. S. do Paraíba, da época do Império, que tinha por objetivo a derrubada da monarquia e a Proclamação da República no Brasil. A sua diretoria era composta por ilustres membros da sociedade paraibana: Dr. Luiz de Suza Brandão, Augusto Vial Júnior, Eugênio Júlio Curty, Francisco Coelho Magalhães Sobrinho e Bernardo Pires Veloso. Esse grupo contou com o apoio do Barão de Cantagalo, Augusto de Souza Brandão.
A importância de SS do Paraíba, à época, pode ser compreendida com a elevação do povoado a Vila e, em seguida, a município, por decreto de 27 de outubro de 1890, do então governador Francisco Portela. Um Conselho de Intendentes foi nomeado para governar o novo município, desmembrado de Cantagalo. Era composto pelos seguintes membros: Luiz Gomes do Amaral, Francisco Coelho de Magalhães Sobrinho, Eugênio Júlio Curty, Júlio da Costa Feuchard e Antônio Joaquim Gomes Júnior. Todavia, dois anos depois, por atos do novo governador da província, José Thomaz de Porciúncula, SS do Paraíba voltou a ser distrito de Cantagalo.
Quem desejar conhecer melhor a história completa de São Sebastião do Paraíba deve ler os dois livros da amiga Ismenia Mello.