TJRJ: uma pequena ‘cidade’ cercada de histórias e personagens que fazem um dos maiores tribunais do país funcionar

Equipe de serviços gerais que atua no 10º andar do Fórum Central

Equipe de serviços gerais que atua no 10º andar do Fórum Central

Foto de capa:equipe de serviços gerais que atua no 10º andar do Fórum Central

É uma legião de Cláudios, Valérias, Maria, Joãos, Luizas e tantos outros nomes. São esses personagens que fazem uma engrenagem maior que muitas cidades do país funcionar. São os funcionários do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro que, no dia a dia, mantêm a pleno vapor essa “cidade” viva e atuante, cravada em pleno Centro do Rio. Diariamente, circulam pelos corredores do TJRJ 12 mil pessoas, entre magistrados, servidores, advogados e quem busca justiça para suas demandas. O número de pessoas que circula pelo TJRJ é cerca de 11 vezes maior do que a população do município de São Sebastião do Rio Preto, em Minas Gerais, segundo o último censo do IBGE e que tem pouco mais de 1 mil habitantes.

Encantador de pássaros? No TJ tem…

O amor pelo seu ofício carregado no peito e um simples “bom dia” com o sorriso no rosto marcam o diferencial de um trabalho que muitas vezes passa despercebido, mas que tem uma importância enorme. São personagens marcantes e cada um deles tem sua história a contar. Aqui contaremos algumas delas, prestando uma homenagem a todos.

O encantador de pássaros e o começo da história. Nascido na cidade de Aquidabã, no interior de Sergipe, Cícero Rezende de Oliveira é orientador de tráfego, ator nas horas vagas, faz participações em novelas, peças de teatro e até em filmes. Mas, acima de tudo, um amante da natureza. E foi por conta desse amor que ele cuida, diariamente, de centenas de pássaros que buscam no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de janeiro um porto seguro. Cícero dá água e comida para os pássaros que sabem que no TJ eles terão um amigo que os acolhe. “Foi exatamente assim: eu estava na garagem e vi um pequeno canário em busca de sombra perto dos meus pés. Ele parecia debilitado, desnorteado. Passei a dar água, comida e frutas: são bem-te-vis, rolinhas, canários, marias-pretas e mais uma série de outros pássaros que vem até o tribunal”, diz Cícero, complementando. “Os funcionários, quando veem esses pássaros aqui, ficam felizes e sensibilizados. Me ajudam doando alimentos para eles. É uma rede de amor e de solidariedade com a natureza”, agradece Cícero, há dois anos na função de controlar o tráfego de carros e dos pássaros.

Mulheres guerreiras

Elas são guerreiras, saem de casa ainda no escuro, nas madrugadas e, sempre com o sorriso no rosto, nos brindam com a excelência de seu trabalho e histórias de vida marcantes. Isso sem perder a elegância do dia a dia, quando deixam de lado o uniforme azul de auxiliares de serviços gerais para seguirem na volta para casa mais lindas ainda, carregando o orgulho e a certeza de missão cumprida. Entre centenas de guerreiros e guerreiras está Ely Alves Cardoso. Todos os dias, essa carioca da gema, mãe de Anderson, avó de Guilherme, Gabriel e Ana Luiza sai de casa em Nilópolis, na Baixada Fluminense, e pega a primeira condução às 3h45. A segunda, por volta das 4h30, vai em direção à Central do Brasil e, dali, até o TJ, aonde chega por volta das 5h. Ely já foi caixa de supermercado, funcionária de fábricas importantes e trabalha desde 1978. Mas, ao longo dessa caminhada, ela traz uma certeza: fazer bem o seu trabalho, seja qual for, faz toda diferença. “Mostro aos meus netos onde limpo quando vejo o TJ na TV. Trabalho é uma honra. Quando você faz por amor, tudo flui. Quando vejo na televisão o Tribunal de Justiça e o local onde trabalho, eu digo para os meus netos: tá vendo aquele gabinete, a cadeira do presidente? Sou eu que limpo e falo isso com muito orgulho porque tenho orgulho do que faço. Procuro fazer o melhor. Não é porque usamos uniforme simples que não temos que ter postura. Amo trabalhar no TJ”, declara Ely.

De longe é possível enxergar o sorriso de Valéria Cristina de Souza. No TJRJ há 17 anos, ela traz alegria a todos a seu redor. Sua jornada começa cedo para encarar o trabalho desde as primeiras horas da madrugada. “Nem parece que vou encarar essa jornada. Gosto tanto de trabalhar aqui que me sinto bem só de chegar”, frisa Valéria.

Também como auxiliar de serviços gerais, Luiza Marieta dos Santos, pode ser vista diariamente no 10º andar do Fórum Central. Dona de tantas histórias, ela viu a modernização da Lâmina I e a construção da Lâmina II. Conhece todos os cantinhos, como faz questão de dizer. “Sabe, ao longo desses quase 30 anos, eu só posso dizer que tenho uma relação de amor com o tribunal. Já ganhei muita coisa aqui, mas a minha vidinha é essa. Como amo isso aqui”, diz, carinhosamente, Luiza.

E, no comando dessa turma, está a supervisora Simone Elias de Andrade, que garante ter mais agradecimento do que aborrecimento com os 26 auxiliares. “Sou muito orgulhosa da minha turma, assim como amo meu trabalho. Os meninos e meninas trabalham duro e só tenho elogios a todos”, diz Simone que, apesar da dura rotina de checar 14 andares sempre às segundas-feiras, mostra, no seu semblante, admiração e parceria por todos.

Há 55 anos, Sérgio Roberto Dias entrava pela primeira vez no prédio do Poder Judiciário fluminense. Até hoje não saiu. Ele é o funcionário mais antigo em atividade do TJRJ e pode ser visto religiosamente diariamente na 16ª Vara Criminal. Faltar, nem lembra quando isso aconteceu a última vez. “Sempre tratamos todos com muito respeito e é nossa função. Mas, hoje, voltando um pouco no tempo, lembro de como era boa a época em que os réus vinham para cá por furtos de TDK. Sabe o que é isso? Toca fitas de painel de carros”, conta o analista judiciário. Sérgio é, além de um arquivo ambulante, um servidor atencioso, carinhoso com todos e um homem extrovertido e atento. Sua memória musical é incrível, lembra das festas em que tocou e fez a pista ferver. Era DJ e chegou a se divertir nas mesas de som e a divertir muito quem frequentava suas pistas. Porém, é no seu trabalho que esse jovem funcionário, com uma disposição ímpar, principalmente em ajudar aos outros, dá uma lição de vida: 74? Que nada… parece que tem 47.

Sobe? Desce?

Sobe ou desce. Tanto faz. É com eles, os ascensoristas, que o público tem, muitas vezes, o primeiro contato ao entrar no TJRJ. E, se muitos procuram uma palavra amiga diante do nervosismo de uma audiência, com o Cláudio Vieira da Silveira, o Claudinho, certamente, encontram. Com 23 anos de trabalho felizes, Claudinho faz mágica. Se você entrar no elevador dele triste, sairá sorrindo. Alegre, disposto a ajudar, ele mesmo conta: “Adoro trabalhar com o público. Todo mundo tem percalços, dias maus e bons. Deixo meus problemas do lado fora e tento ajudar. Digo sempre: vai dar tudo certo! E, quando a pessoa está indo embora do tribunal, sorriso no rosto, eu já sei que tudo deu certo. E a pessoa me espera só para dizer isso e agradecer. Ganhei o dia”, diz Claudinho.

A importância da convivência

O presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, desembargador Ricardo Rodrigues Cardozo, lembra dos dias difíceis da pandemia e da importância do trabalho presencial e da convivência. “A volta ao trabalho presencial traz, além de uma melhor prestação jurisdicional para a população, uma convivência harmoniosa e até mais feliz para todos. Cada magistrado, advogado, servidores e funcionários que passam pelo tribunal diariamente têm sua importância e eu fico muito feliz de ver essa verdadeira cidade estar a pleno vapor”, afirma o presidente do TJRJ.

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