Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Por volta dos dezesseis anos de idade, tomei contato com a Trova pelas mãos, ideias e sonhos do amigo, jornalista, advogado e poeta Milton Nunes Loureiro. Um pouco à frente, trabalhei com ele na Delegacia de Polícia de Cantagalo. Ele escrivão e eu escrevente, em meado dos anos 50. As trovas – e especialmente as trovas dele – estavam sempre presentes em nossos papos transcendentais.
Eu jamais cometi um crime contra as trovas. Minha incompetência e incapacidade poéticas não permitiram. Pouco antes de seu desenlace, o amigo Milton Loureiro presenteou-me com as suas trovas, premiadas ou não. E pude recordar os bons momentos de nosso convívio em Cantagalo e rever uma de suas trovas preferidas:
Uma verdade patente,
que não tem contestação:
abrir ESCOLA é semente
que fecha muita prisão.
Bem mais tarde, fui levado de novo às trovas pelas notícias da abertura da nova edição dos Jogos Florais de Cantagalo, em março de 2016, na Casa de Euclides da Cunha. O convite partiu da competente batuta da amiga Ruth Farah, educadora, poeta, trovadora e ser humano como poucos.
Luiz Otávio, mais um poeta nascido na Vila Isabel, como Noel Rosa, dizia que “é através da Trova que o povo toma contato com a poesia e sente a sua força. Por isso mesmo, a Trova e o Trovador são imortais”. E Fernando Pessoa, Poeta Maior, consagra a Trova como “o vaso de flores que o povo põe à janela de sua alma”.
Aos meus ouvidos, mais afeito à prosa – em especial a dura prosa de projetos, relatórios, pareceres – a Trova soa como um ligeiro bálsamo, uma pausa para o devaneio e os sonhos, que não morrem nunca.
De retorno a Cantagalo, volto a ter contato mais próximo com as trovas. No lar, com a poeta Angela Araújo. Em sua trova, que também vai ilustrar este artigo, aparece a Mulher, com os olhos voltados para a Criação, que já estava quase pronta. Mas faltava algo…
Mulher – que obra bem feita,
Esculpida em oração…
Deus disse, ao vê-la perfeita:
Está pronta a criação!
No contato com os amigos antigos e recuperados nestes tempos de volta à terra, reencontro Eny Baptista, que ama trovas e trovadores. E, por ela, retomo às trovas da inesquecível professora Amélia Thomaz e de muitos outros cantagalenses que tiram da verve das trovas a sua inspiração.
Não é por acaso — acasos não existem — que o inspirado trovador Adib Richa poetou sobre ela:
Nas lindas noites de lua
Vejo o fulgor de uma estrela
Brilhar em homenagem sua
Pela vaidade de vê-la.
A Eny está selecionando trovas de autores cantagalenses para colocarmos na sala de recepção do Instituto Mão de Luva, na Rua César Freijanes. Creio que no final de fevereiro já teremos essa relíquia em nossas instalações.
A seleção está difícil pela quantidade de trovas de valores inestimáveis. Como esta, de outro notável trovador cantagalense, muitas vezes premiado – Lafontaine Villela, homenageando nosso maior escritor – Euclides da Cunha, tão sertanejo, tão universal:
Para nós é um regalo
Euclides tão brasileiro
Que tem casa em Cantagalo
E mora no mundo inteiro!
E trova em Cantagalo tem um caminho bem marcado e é impossível falar de trovas sem falar nela que, não só fez centenas delas, como merecidamente foi premiada em quase todos os Jogos Florais de que participou pelo Brasil, Ruth Farah Nacif Lutterbach. E com ela vamos deixando um fim provisório para um assunto tão bonito e que deixa tantas lacunas! Culpa do espaço!
Vi, em sonhos, a Mãe do Céu,
Ostentando, alvissareira,
Na cabeça, em vez do véu,
A Bandeira Brasileira!
Encerramos o assunto, por ora, não em trova, mas em prosa…
Cantinho da poeta Amélia Thomaz
Escravidão
Como um pássaro indefeso
No furor da tempestade,
Meu amor soluça preso
Nas grades desta saudade.
(Extraído do livro Alaúde (Cantagalo, RJ: Ed. Autor, 1954, p. 24))
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.