“Um Belo Pontificado”, por Dr Júlio Carvalho

Tu és pedra e sobre esta pedra erguerei a minha Igreja” (Mt. 16,18). O Mestre escolhera o pescador para ser o chefe da Igreja por Ele fundada; homem rude, confuso, até violento em certos momentos, mas, ao mesmo tempo, humilde, capaz de se arrepender e chorar, reconhecendo a sua culpa. Foi o primeiro Papa, crucificado em Roma na sexta década do cristianismo.

Bento XVI fora o 265º religioso a ocupar a cátedra de Pedro nesta longa história de mais de 2000 anos da Igreja Católica Apostólica Romana; ao mesmo tempo, foi o quarto Papa a renunciar ao elevado e árduo comando religioso, levado pelo peso da idade.

Com a vacância da Cátedra de Pedro, havia uma grande expectativa no mundo de 1.200.000.000 católicos: quem seria o seu sucessor? Os dois últimos Papas foram excessivamente conservadores; aguardava-se que o próximo fosse mais progressista.

No dia 13 de março de 2013, estava trabalhando no salão da auditoria da Unimed de Nova Friburgo, junto com mais 14 colaboradores do setor; vários evangélicos permaneciam indiferentes à escolha, enquanto os católicos a todo momento procuravam saber alguma notícia do Vaticano.

No conclave de 2013, estavam presentes 115 cardeais, enquanto o Papa eleito deveria obter 2/3 dos votos dos presentes. Só na quinta votação apareceu na chaminé da Capela Sistina a fumaça branca anunciando a escolha do 266º sucessor de Pedro. Estava eleito o argentino Jorge Mário Bergoglio! Ao saber da notícia, pensei: logo um argentino! Povo tão cheio de orgulho! Enganei-me completamente.

Lendo sobre a vida do novo Papa, encontrei passagens belíssimas. Quando arcebispo de Buenos Aires, residia em uma casa comum, andava em transporte público, mantinha em uma rádio de Buenos Aires um programa junto com um rabino; era homem do diálogo e se dedicava à população pobre da capital argentina, frequentando as periferias onde habitavam os mais pobres.

Pela primeira vez, era eleito um latino-americano para o cargo mais alto do cristianismo. O novo Papa com um simpático sorriso disse: “Foram buscar um Papa no fim do mundo!”.

Pela primeira vez, era eleito um jesuíta, membro da extraordinária Ordem dos Jesuítas, criada por Santo Inácio de Loyola; oficial espanhol que ferido em uma batalha, depois de passar um ano internado em um hospital, abdicou da carreira militar, criando uma ordem religiosa a que deu o nome de Companhia de Jesus; que extraordinários serviços prestou e presta ao mundo e ao Brasil.

Numa de suas primeiras entrevistas, o novo Papa declarou: “Na eleição, eu tinha ao meu lado o arcebispo emérito de São Paulo, um grande amigo, Dom Claudio Hummes. Quando a coisa começou a ficar um pouco perigosa, ele começou a me tranquilizar. Quando os votos chegaram a 2/3, aconteceu o aplauso esperado, pois, afinal, havia sido eleito o Papa. Ele me abraçou, beijou e disse: ‘Não se esqueça dos pobres!’. Aquilo entrou em minha cabeça. Imediatamente me lembrei de São Francisco de Assis.”.

Na sua primeira manifestação como Papa eleito, na sacada do Vaticano, humildemente pediu que todos rezassem por ele.

Sua primeira viagem foi a ilha de Lampedusa, perto da Itália, onde desembarcavam os que fugiam da África e da Ásia Menor, buscando abrigo na Europa. Não eram bem recebidos e o Papa lá compareceu para mudar o acolhimento àqueles infelizes que colocavam a vida em alto risco na travessia do Mediterrâneo.

Outra viagem foi ao campo de refugiados em Levos, na Grécia; ao regressar, trouxe em sua companhia 12 refugiados sírios para que fossem acolhidos e assistidos em Roma. Tudo isso no momento em que vários países europeus fechavam suas fronteiras aos refugiados. Era o exemplo de amor ao próximo!

Sua preferência foi por viagem aos países africanos e ao oriente médio. Em 2021, visitou o Iraque e a Mesopotâmia, terra do patriarca Abrahão. Dialogou respeitosamente com a maioria xiita.

Ao ser eleito Papa, não aceitou morar no palácio apostólico do Vaticano, optando pela Casa de Santa Marta. Alegou que não queria ficar isolado, preferindo o diálogo com os funcionários daquela casa, onde celebra missa diariamente e faz suas refeições, sempre acompanhado. Por outro lado, dizem que foi um ato estratégico, pois nesta casa se hospedam os religiosos do mundo inteiro e o contato com eles é um meio do Papa saber a realidade do catolicismo em todo planeta.

Em sua encíclica Laudato Si (Louvado Sejas), o Papa Francisco mostra a importância da conservação do meio ambiente, nossa casa comum. Encíclica ecológica elogiada até por aqueles que não professam o cristianismo.

Em Fratelli Tutti (Todos Irmãos), o Papa prega a fraternidade entre todos os povos, uma vez que, criados por Deus, todos os seres humanos são irmãos.

Na encíclica Lumen Fidei (Luz da Fé), é demonstrada a importância da fé para cada ser humano.

Em 2013, no início do seu pontificado, o Papa Francisco visitou o Brasil para presidir a Jornada Mundial da Juventude, ocasião em que dois cantagalenses se destacaram. A logomarca do encontro foi de autoria de um cantagalense, Gustavo Huguenin, escolhida em Roma entre vários desenhos. Gustavo é filho dos amigos Silnei Huguenin e de Rosimeri Curty Huguenin.

O outro cantagalense é o Cel. Aviador Luiz Claudio Ottero, designado pela aeronáutica para pilotar o helicóptero que conduzia o Papa Francisco no Brasil. Nas comemorações dos 200 anos de Cantagalo, contou-me que o pontífice é uma pessoa maravilhosa, educadíssima e simpática, que lhe pediu para contornar o Cristo Redentor, pois queria ver o monumento símbolo do Rio de Janeiro de todos os lados. Luiz Claudio é filho de Luiz Ottero e de Arlete Cunha Ottero, que durante muitos anos residiram em Cantagalo.

Ao saber que Gustavo e Luiz Claudio tiveram participação ativa na Jornada Mundial da Juventude em 2013, me senti um homem abençoado por Deus, pois ambos nasceram no Hospital de Cantagalo, em minhas mãos.

O Papa Francisco fala em linguagem simples e direta ao povo, sendo logo entendido por todos; recentemente, em virtude de uma artrose do joelho, estava comparecendo às cerimônias em uma cadeira de rodas, o que fez surgir a notícia de que renunciaria, ao que ele respondeu sorridente: “O Papa dirige a Igreja com a cabeça; não com o joelho”.

O Papa Francisco entrará para a história da Igreja Católica Apostólica e Romana como: o 1º Papa latino-americano, o 1º Papa jesuíta e o 1º Papa com o nome de Francisco, e um dos maiores Papas do Cristianismo.

 

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.
Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

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