Uma história corrigida

O aniversário de emancipação de Cantagalo vinha sendo festejado na data errada, em outubro em vez de março. A data – 9 de março – lembra a assinatura, pelo príncipe regente D. João, do decreto de 1814, criando a vila 28 anos depois da prisão do contrabandista português Manoel Henriques, o Mão-de-Luva, que montara acampamento no local com objetivo de extração ilegal de ouro.

Em 2005, primeiro ano de comemoração da nova data, foi realizada uma mobilização social de conscientização da mudança, que incluiu debates e a participação dos pesquisadores iniciadores do movimento. Os três pesquisadores – Clélio Erthal, Henrique Bon e Gerson Tavares – ainda afirmam que ainda há necessidade de reforçar a importância da mudança, que corrigiu um erro histórico de importância relevante para município e região, levando Cantagalo a se tornar uma das cidades mais importantes do estado. Por conta disso, na época, a Secretaria Municipal de Educação e Cultura instituiu que 9 de março passaria a ser o ‘Dia da Consciência Histórica de Cantagalo’.

Na opinião do pesquisador Henrique Bon, o erro teria começado em 1957, quando alguém resolveu instituir o 2 de outubro como data oficial, tendo parâmetro o recebimento do título de cidade, em 1857. “Era uma data redonda, o título completava 100 anos, e isso nos relegou a um erro histórico de fundamental importância, colocando o município mais antigo da região até mais novo do que os que vieram depois ou se emanciparam daqui, como Nova Friburgo”, explica Bon, que é autor do livro ‘Imigrantes’, que conta a colonização suíça da região, com destaque para Nova Friburgo, que se emancipou de Cantagalo a partir da colonização.

Clélio Erthal, em suas pesquisas para a compilação de dados para o seu livro ‘Cantagalo – da Miragem do Ouro ao Esplendor do Café’ (1998), foi o primeiro a levantar o questionamento. Erthal, hoje desembargador federal aposentado, não credita a fundação de Cantagalo a Mão-de-Luva. Em sua opinião, o contrabandista montou apenas um acampamento provisório e logo deixaria a região, se não fosse preso em 1786. Para ele, a instalação da vila teria se dado com a vinda para a região do Intendente Geral do Ouro na Capitania do Rio de Janeiro, Manoel Pinto da Cunha e Souza, com respaldo do Vice-Rei D. Luiz de Vasconcellos, em 2 de junho de 1787, o que daria a Cantagalo 225 anos de fundação, a serem completados em junho deste ano, embora essa data ainda não se refira à autonomia do município, que se daria com a emancipação, em 1814.

De acordo com Gerson Tavares, professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), as datas de 1814 e 1815 representam apenas mudança de status do núcleo urbano de Cantagalo, e não sua fundação. “De qualquer forma, o que buscávamos, conseguimos, que foi o reconhecimento do erro cometido ao longo dos anos e a oficialização da mudança”, disse.

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