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Planta da sede UOC – Clube da Colina – 1972
No início da 1963, quando retornei a Cantagalo, para exercer um cargo de confiança na Prefeitura, conheci o Walter Paulino. Conversávamos, entre outras coisas, sobre a possibilidade da construção de um clube para os operários e de baixo poder aquisitivo que não ocupavam uma posição confortável financeiramente na pirâmide social. Não tinham condições financeiras para frequentar o Cantagalo E. C., a AABB, por exemplo. Ele me levou a um terreno, onde hoje é uma tal de Rua Nova, servida por uma via asfaltada tomada por residências horizontais ou de vários andares, todas habitadas. Um bairro bem situado na geografia cantagalense. A chamada Rua Nova poderia muito bem receber o nome do Walter Paulino, o primeiro cantagalense que encontrou naquele local condições habitáveis, além da AABB, distante uns 500 metros do que seria um clube social popular. Não vejam essa questão com os cenários desta terceira década do século XXI. Pensem no cenário de sessenta anos atrás. A discriminação racial e financeira era muito mais forte do que hoje, quando a maioria absoluta sabe que a morte não escolhe raça ou cor. Do pó ao pó voltaremos todos, sem privilégios de qualquer natureza. Filosofia à parte, vamos ao que realmente interessa.
Apoiei e estimulei o Walter a procurar pessoas que pensavam como ele. Elaborei o projeto de Estatuto da UOC e ele começou a vender títulos de propriedade do clube, como forma de financiar a construção da sede própria. O meu tem o número 5. Ao final de 1966, retornei a Niterói. Não me lembro com foi o andamento da concretização do sonho do Walter. A minha memória não tem guardado histórias como a minha amiga Eny Baptista e o amigo Júlio Carvalho.
Ao voltar a Cantagalo, no final de 2020, para me casar com Angela e aqui passar o resto de minha existência, acabei por criar o Instituto Mão de Luva, para resgatar memórias e construir história, uma entidade sem fins lucrativos. Meses depois, o Instituto recebeu, do José Alberto d’Azevedo, filho do Jovelino, um acervo considerável. Dentre os documentos, veio um comunicado dos que resolveram criar, no local da UOC e com a aprovação daqueles que participaram dos ideais do amigo Walter, o Clube da Colina. Um parêntesis. Antes dessa história, creio que ouve uma tentativa de fusão da UOC com o Flamenguinho, mas, segundo sei, a “elite” do meu clube em Cantagalo não aprovou essa iniciativa. No acervo que o José Alberto entregou ao Instituto, encontrei um comunicado, de abril de 1972, da Comissão pró-construção da sede UOC sobre a edificação do Clube da Colina no local, incluindo uma planta do prédio. No dia 9 desse mês e ano, foi eleita e empossada a nova Diretoria, composta pelos seguintes membros: Sebastião Crespo, presidente; Argemiro Curty, vice-presidente; Desidério Naegele Rodrigues, 1º secretário; Francisco Camacho, 2º secretário; Alvina Viana, 1ª tesoureira; Celso Guimarães, 2º tesoureiro. Conselho Fiscal: Walter Paulino, Lacyr da Silva e Moacyr Gomes. Suplentes: Delacy Silva, Manir Pereira e Geraldo Nascimento. Na mesma oportunidade, foi eleita a Comissão Pró-construção da Sede, integrada por Jovelino d’Azevedo, presidente; José Américo Avelar Carvalho, vice-presidente; Geraldo Nascimento, 1º secretário; Martinho Barros, tesoureiro, e os membros Antonio Cardoso, Fernando Reis, Geraldo Rodrigues (Pelé), José de Oliveira Gomes (Juquinha) e Nigel Caruso Nara (apelidos no original). A sede teria um amplo salão, medindo 22 metros de comprimento por 11 metros de largura, com telhas vãs. A planta foi exposta “em local de destaque na cidade”. A Comissão prometia inaugurar a obra em junho de 1972, durante a tradicional Festa dos Carecas (que saudades desses tempos!) e dar ao operariado de Cantagalo “a sua independência no que tange a parte social e recreativa”.
Foi aberto um “Livro de Ouro” para o recebimento de doações. Há um acervo de lista de doações, à parte. Creio que, todavia, o empreendedor Jovelino enfrentou dificuldades na arrecadação. Há uma pequena nota, feita a mão, sem data, em que ele lista as dívidas “vencidas há seis meses”, com juros de 4% ao mês devidos “a particular”. Hoje seria, no mínimo, uns 15%… A dívida, sem juros, era no total de Cr$ 1.926.571,00 (um milhão, 926 mil e 571 cruzeiros). Mas não se espantem, essa moeda – Cruzeiro, Cr$ – teve a sua deterioração maior no governo Sarney e foi substituída, sucessivamente, por outras moedas, sendo padrão monetário do Brasil de 1942 a 1967, de 1970 a 1986 e de 1990 a 1993. Antes de 1942, vigorou o Real (plural réis), nome da unidade monetária usada no Brasil desde sua colonização pela Coroa Portuguesa, até 5 de outubro de 1942, quando foi substituída pelo Cruzeiro (Cr$) na razão de 1 cruzeiro por 1 mil-réis. Hoje, como sabemos, vigora o Real (R$). Convertido o Cr$ em R$ chegamos, segundo o Banco Central, a R$ 1.926,57.
Jovelino e Martinho assinaram uma circular, enviada para vários órgãos em Cantagalo, como a Coletoria Federal (que não existe mais), o Fórum e cartórios, Casa de Euclides da Cunha (que funcionava!), Câmara Municipal e muitos outros, solicitando angariar doações, “mesmo que pequena”, uma grande ajuda para se concretizar um velho sonho da classe operária de Cantagalo, a sua sede própria.
Nas mãos do empreendedor Jovelino, mesmo com as dificuldades características nesse tipo de empreendimento social, a construção teria que ser realizada. Por vários anos, funcionaram com sucesso a UOC e o Clube da Colina. Mas, o que é bom dura pouco, como é comum ouvirmos nas ruas e nas conversas entre amigos. O prédio ficou abandonado, servindo de local para algumas “aventuras” de jovens e adultos. Hoje é uma sombra do que foi. O sonho acabou. Pelo menos, o local não foi invadido para a construção de mais um “arranha Céu” em Cantagalo, onde a rede de esgotos sanitários não mais comporta esse tipo de edificação. Mas isso é outra história…