Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Durante muitos séculos, as doenças infectocontagiosas dizimaram milhões de vidas humanas por todo planeta Terra. Acreditava-se que o responsável era o meio ambiente, existindo a teoria dos miasmas.
Em Tóquio, em dois anos (1858-1860), de 100.000 a 200.000 japoneses sucumbiram vítimas do cólera. Em Londres, de 1853 a 1854, apenas dois anos, a mesma doença matou 10.739 moradores da capital inglesa. Outro exemplo é o que acontecia com a peste negra, no começo do século XIV, no oriente, em epidemia ocorrida na Mongólia, China, Síria, Mesopotâmia e Egito, que exterminou 24 milhões de seres humanos. A mesma doença, entre os séculos XIV e XVIII, fez desaparecer 1/3 da população da Europa. Calcula-se que no mundo, 75 a 200 milhões de seres humanos desapareceram vítimas dessa mesma doença. Outro terror da humanidade indefesa era a varíola que, em menos de um século (1896 a 1980), eliminou mais de 300 milhões de pessoas.
As estatísticas médicas mostram outros exemplos de doenças infectocontagiosas que determinaram enormes perdas humanas em todo planeta Terra.
Um médico inglês, Edward Jenner, que além de inteligente deveria ser possuidor de um grande espírito de observação, percebeu, em 1798, que os camponeses que ordenhavam vacas de leite, algumas vezes, se infectavam com lesões pustulosas do úbere das vacas, permanecendo imunes à varíola. Passou a inocular a secreção dessas pústulas bovinas em pessoas, através de pequenas escarificações na pele, observando que não se contaminavam, depois, com a varíola. Como o método usava secreção das vacas, recebeu o nome de vacina.
Surgiu, desse modo, a primeira vacina que passou a ser usada mundialmente, mas só em 1980 a varíola foi considerada erradicada. Praticamente duzentos anos depois da descoberta do Dr. Jenner.
Oitenta e seis anos depois, Louis Pasteur, na França, comunica a criação da vacina contra raiva, doença gravíssima e sem tratamento. Convém esclarecer que Pasteur não era médico e sim bioquímico e havia sido contratado pelos proprietários da indústria vinícola para estudar a causa da fermentação dos vinhos franceses, o que causava enormes prejuízos financeiros. Pasteur chegou à conclusão que a fermentação era determinada por seres microscópicos, as bactérias. A partir daí, passou a estudar a influência das bactérias e vírus como causa de doenças humanas e em animais.
No século XX, várias vacinas foram criadas em benefício da humanidade. Em 1921, os cientistas Calmette e Guérin criaram a vacina contra a tuberculose, conhecida como B.C.G., grande conquista para a medicina. Calcula-se que, de 1850 a 1950, um século, a humanidade perdeu 300 milhões de pessoas vitimadas pela tuberculose.
A ciência não para em suas conquistas. Emile Roux, em 1923, cria a vacina contra a difteria. Em 1944, é o ano da criação da vacina contra gripe que, anualmente, no outono, é aplicada nos idosos brasileiros, reduzindo o número de enfermos com gripe e suas complicações, como a pneumonia que levava muitos ao túmulo.
Outra vacina de resultado extraordinário em benefício da humanidade foi a vacina contra a paralisia infantil, criada em 1955 pelo Dr. Jonas Salk em forma injetável, passando a uso oral em 1960, graças aos trabalhos do Dr. Sabin.
Foram realizadas campanhas mundiais de vacinação contra a paralisia infantil durante cinco anos seguidos. No Brasil, em 1975, foram notificados 3.600 casos dessa terrível doença que invalidou fisicamente tantas crianças. Seis anos depois, em 1981, o número de notificações em nosso pais caiu para 122. Mundialmente, foi considerada uma queda de 99% dos casos. Deveriam ser colocadas em todos países do mundo, nas praças onde brincam as crianças, placas homenageando os Drs. Salk e Sabin, como grandes benfeitores da infância mundial.
No Brasil, a história das vacinas é extraordinariamente bela e dinâmica. No fim do século XIX e início do século XX, era a maior cidade brasileira mas, ao mesmo tempo, com péssimas condições sanitárias. No ano de 1891 só quatro doenças (malária, varíola, tuberculose e febre amarela) determinaram 13.000 óbitos em uma população de 800.000 habitantes, sem relatar outras causas de óbitos ocorridos.
Em 1903, o presidente da república Rodrigues Alves nomeia um jovem sanitarista brasileiro, que havia retornado de Paris, Dr. Oswaldo Cruz para assumir a Saúde Pública Federal com uma tríplice missão: 1) Extinguir a febre amarela, 2) Acabar com a peste bubônica e 3) Reformar o quadro sanitário federal.
A vacina contra a febre amarela torna-se obrigatória, gerando movimentos populares contrários a obrigatoriedade, ocorrem tumultos na cidade do Rio de Janeiro, controlados pela polícia e pelo exército.
Controlada a revolta da vacina havia um saldo de 31 mortos, 110 feridos, 1.000 presos e 500 degredados para o Acre.
Em 1907, a febre amarela estava dominada, a peste bubônica reduzidíssima e a reforma sanitária realizada.
Acredito que, depois de todos esses relatos, fica demonstrado que as vacinas representam uma grande conquista da humanidade, sendo o método capaz de conter a expansão das doenças infectocontagiosas criando anticorpos em nossos organismos.
Em 2019, com o aparecimento da pandemia por covid-19, a ciência colocou-se na luta em busca de uma vacina. Em tempo recorde de sete meses, a China havia conseguido a primeira vacina, seguida por outros países desenvolvidos tecnicamente como os Estados Unidos e a Inglaterra, começando a vacinação em muitos países.
Infelizmente, no Brasil, não aconteceu o mesmo processo. Em virtude da demora na aquisição das vacinas, a população demorou a ser vacinada, a doença encontrou livres caminhos na totalidade de estados e municípios federativos e os resultados aí estão: doentes com Covid-19 – 18.464.134; doentes recuperados – 16.148.897 (87,46%); e mortos – 514.593 (2,78%). Entre os mortos, parentes, amigos, vizinhos e conhecidos, enlutando todas as famílias brasileiras.
É inconcebível que, depois de três séculos da criação da primeira vacina pelo Dr. Jenner, ainda existam pessoas que não acreditam na ciência e nas vacinas criadas pela inteligência humana. PROTEJA-NOS, SANTO DEUS, DE TANTA IGNORÂNCIA!
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.