“Viajando no tempo – 1”, por Celso Frauches

Estou em Jabuticabalândia, o país das jabuticabeiras, uma árvore frutífera, nativa da Mata Atlântica. A sede da monarquia fica em Passárgada, onde viveu o poeta e escritor brasileiro Manuel Bandeira, após a sua aposentadoria. Fui visitar Passárgada, onde tem tudo, é outra civilização. Lá o monarca, Oslec Sehcuarf, é meu amigo. A convite dele, fui conhecer o mais novo invento do seu Ministério de Ciência e Tecnologia, dirigido por um astronauta russo, Socram Setnop. Lá também existe a Nasa, uma agência espacial, responsável pelas relações intergalácticas.

Planta da cidade de Cantagallo, 1922
Planta da cidade de Cantagallo, 1922

A Nasa de Jabuticabalândia conseguiu construir, ao longo de 55 anos, a máquina do tempo, ainda em testes. O monarca convidou-me a participar de um dos testes. Depois de treinado pela equipe da Nasa, chegou o meu momento histórico. Poderia viajar no tempo, passado ou futuro.

Após as instruções finais, digitei o ano – 1922 – e a localidade – Cantagalo -, minha terra natal, situada no Brasil, no Estado do Rio de Janeiro, na Região Serrana. Lá fui eu…

Ao chegar, fui à Prefeitura para me apresentar ao prefeito, Cel. Cézar Freijanes, também presidente da Câmara Municipal. Os meus trajes foram motivo de espanto para o prefeito e sua equipe. Mas isso foi apenas um detalhe. Em seguida, o prefeito me deu, simbolicamente, as chaves da cidade. Parti para um rolê pela cidade e para as vilas distritais, a fim de conhecer mais de perto Cantagalo, fundado por Manoel Henriques, conhecido por Mão de Luva, vindo das Minas Gerais, nascido na cidade de Ouro Branco.

Croquis do Municipio de Cantagallo, 1922
Croquis do Municipio de Cantagallo, 1922

Cantagallo (vou conservar a grafia da época, para dar maior autenticidade às minhas pesquisas) era banhado pelos rios Parahyba, Negro, Macuco, Grande e seus afluentes. A Estrada de Ferro Leopoldina cortava boa parte da cidade. No setor da economia, havia preponderância de grandes lavouras de café e cereais, criação de gado e uma importante indústria de laticínios.

O município de Cantagallo tinha uma área de 934 Km2, uma população de 37.112 habitantes. A sede, a cidade de Cantagallo, possuía 7.433 alqueires e 6.315 habitantes, localizada em uma altitude de 376m. A média de fortuna por habitante era de 477 $ 800. Reis era a moeda circulante.

A divisão político-administrativa do município contava com seis distritos: 1º – a sede; 2º – Santa Rita da Floresta; 3º – Cordeiro; 4º – Macuco; 5º – Santa Rita do Rio Negro; 6º – S. Sebastião do Parahyba. Suas divisas: ao Norte, em parte com o Estado de Minas Gerais, do qual é separado do Rio Parahyba so Sul, e em parte com o município fluminense de Padua; A Leste, com os municípios de Itaocara e São Sebastião do Alto; ao Sul, Francisco de Paula (hoje Trajano de Moraes) e Bom Jardim (ex-Vergel); a Oeste, os municípios de Duas Barras e do Carmo.

Vista da cidade de Cantagallo, em 1922
Vista da cidade de Cantagallo, em 1922
Cinema Elias
Cinema Elias

Segundo os registros da época, no “decurso do segundo império e nos anos iniciais da República, bastavam as palavras mágicas – Município de Cantagallo – para darem ideia da grandeza, vitalidade, riqueza e cultura de uma das mais celebradas regiões do Sul brasileiro, e cujo nome repercutia também pelo Brasil afóra […] Quanto á civilização e progresso, Cantagallo hoje nada tem a invejar de suas irmãs fluminenses, porventura mais populosas e mais ricas”.

Cantagallo já possuía “um importante templo catholico, o seu Parque encantador, as suas ruas asseadas, o seu belo Theatro, as suas lindas construções particulares, que vão pouco a pouco substituindo os vestígios do Cantagallo secular […]”. Era “um meio de saliente cultura intelectual”.

Governava o prefeito Cel. Cezar Freijanes, sendo juiz da Comarca “o integro magistrado fluminense dr. Luiz Gonçalves da Rocha” formado pela Faculdade de Direito de São Paulo. O Estado do Rio de Janeiro, cuja na capital era Nictheroy, tinha como governador o Dr. Paulo de Moraes Veiga (1978/1947), ex-aluno do Colégio Anchieta, de Nova Friburgo. Seu mandato foi de 1918 a 1922. Nasceu no município fluminense de São Francisco de Pádua, depois Trajano de Moraes.

Directoria do Gremio Euclydes da Cunha, em 1922
Directoria do Gremio Euclydes da Cunha, em 1922

A Exposição do disctrito de Cordeiro teve como criador Manuel Diaz Martinez. Uma iniciativa que teve sucesso e até hoje é importante centro de convenções para o município de Cordeiro, desmembrado de Cantagalo pelo Decreto-lei estadual nº 1.055, de 31 de dezembro de 1943.

Tive uma reunião com o Gremio Euclydes da Cunha, integrado pelos seguintes membros: Dr. Mario F. Oberlander – presidente; Dr. Octavio Land – 2º vice-presidente; Balbino Dias Vieira – 3º vice-presidente; Accacio F. Dias – 3º vice-presidente; Carlos Rosa – Thezoureiro; Juvenal Goulart – Bibliothecario; Cassio P. Barreto – orador oficial; Leopoldo Goulart – Conselho Literario; e Antonio Rocha. Foi uma reunião produtiva para um nascente centro de estudos e pesquisas sobre Euclydes da Cunha e sua importante obra literária e de engenharia. Um extraordinário repórter de seu tempo e de sua gente.

Assisti a um filme no Cinema Elias, uma imponente construção que se destacava na artéria principal da cidade. O filme da semana era uma comédia e drama dirigida, escrita, estrelada, produzida por Charlie Chaplin, interpretando o personagem The Tramp. No Brasil, recebeu o título de O Vagabundo.

Vista panorâmica de Cordeiro, 3° districto de Cantagallo à época, em 1922
Vista panorâmica de Cordeiro, 3° districto de Cantagallo à época, em 1922

Essa viagem no tempo à Cantagallo dos anos 20, do século passado, não cabe em um só artigo. Voltarei na próxima semana.

Celso FrauchesCantinho da poeta Amélia Thomaz
Neologismo

Não achei palavra alguma
Que pudesse interpretar
Meu amor. Inventei uma:
Foi o verbo “amadorar”.
(Extraído do livro Alaúde. Cantagalo, RJ: s/Ed., 1954, p. 9)

Celso Frauches é professor, escritor, pesquisador, ex-secretário Municipal de Cantagalo e consultor Especialista em Legislação

NOTA

Serviu de base para esta viagem no tempo o Album do Municipio de Cantagallo, organizado e sob a direção do Dr. Júlio Pompeu, 1922.

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