Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Minha avó tem 9 netos. Segundo ela, somos a razão do seu viver. Além de exímia cozinheira, vez ou outra ela vem com um conselho macio, daqueles que só o coração de vó sabe dar: “Minha neta, quando não puder correr, ande. Quando não puder andar, engatinhe. Se precisar ficar um pouco deitada no chão, que seja breve. Não fique parada.”
Mais novos, os nossos problemas são banais na maioria. Não para quem os sente. No entanto, para os que se encontravam entre os privilegiados na sociedade, as indecisões pairavam sobre o doce a ser comido, qual coleguinha da escola irá ser o par na festa junina ou se, no dia seguinte, fará sol, para brincar na rua.
Boletos, trabalho, família, responsabilidades… coisas de adulto. Olhando pelos óculos dessa realidade, tais questões infantojuvenis não parecem tão importantes.
Seja como for, desde cedo, somos obrigados a escolher. É uma imposição da vida.
Já que isso é intrínseco ao ser humano, a formação educacional deveria ter como pano de fundo a tomada de decisões. E, para agravar a complexidade dessa missão no planeta Terra, o “saber escolher” pode ser influenciado por muitas questões: família, cultura, valores, experiência pessoal.
Nessa sopa de letrinhas, a poesia da vida trará as rimas para a satisfação pessoal mediante a existência do discernimento: que influências devem permanecer? Quais outras devem ser revistas ou apagadas?
Só o próprio ser sabe onde a dói à alma. A felicidade, por mais que seja compartilhada – somos seres sociais –, é um caminho solitário, por ser guiado por um GPS particular: o coração.
Talvez as escolas devessem ter uma matéria a mais: a que ensina a não deixarmos a alma esgarçar. Que faz com que aprendamos a usar o sistema de navegação que nasce conosco e nunca nos abandona, e que mostra que a vida nunca descomplica. O momento certo sempre será agora. Bem… assim ensinam os chamados estoicos.
Saber quando uma roupa velha, que não nos cabe mais, precisa sair do armário; entender que a vida, que escolhemos há tempos, pode não nos servir mais e… entender ser necessário seguir.
É preciso lembrar as palavras de Heráclito: “Ninguém entra duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontram as mesmas águas, e o próprio ser que entra já se modificou.” Admito: a filosofia é algo das veias de minha amada avó.
Seguir uma outra rota, quando o coração para lá apontar, é valer a própria vida. Os outros… Ah, o que eles pensam? Isso sempre pertencerá somente a eles.
Em frente sempre será necessário, como ensinou a cozinheira mestra de seus nove netos. No entanto, vento contrário ao rosto, decepções em tempestade, perdas ácidas, despedidas e tantos outros desafios, por ser obediente ao “seguir em frente”. Não seria mais preventivo ficar?
É aí onde talvez esteja você, amigo leitor, nesta semana final de novembro, dias antes de um novo Natal. Sente-se acuado? Doerá? Alguém está prestes a ir embora? A fé lhe falta? E os boletos que citei? Andam penosos? Tenho uma ousada resposta, com a gentileza da permissão: não me ouça. Ouça a si. Vá, se quiser. Fique, se puder ser ainda mais feliz, com a ética e as virtudes que a sua amada avó (ou aquela mulher que você considera), num dia, ensinou. O que ela diria? Como ela o acolheria? Se ela estiver aqui, confesse-se. Se não estiver, lembre-se. Porém, nunca traia o que lhe fará feliz. Nem um passo para trás se a sua intuição diz que assim-assado você será…
Vá!