“A coragem de ouvir o que precisa para crescer”, por Jalme Pereira
Você já sentiu que estava fazendo um ótimo trabalho… até alguém dizer o contrário?
Lembro com clareza de uma situação no início da minha carreira em que me dediquei intensamente a um projeto. Dormia pouco, pesquisava tudo, entregava dentro do prazo — e me sentia orgulhoso do resultado. Quando terminei a apresentação, esperava elogios. Em vez disso, meu gestor disse, com um olhar sério: “Seu esforço é visível, mas você não ouviu o cliente. Ele queria outra coisa.”
Aquilo doeu. Minha primeira reação foi de negação. Depois, raiva. E só bem mais tarde veio o entendimento. Aquele feedback não era um ataque, mas uma oportunidade de crescer. Foi difícil ouvir, mas essencial para minha evolução. A partir daquele dia, decidi que ouvir o que os outros tinham a dizer sobre meu trabalho seria parte da minha rotina de crescimento.
O problema de fugir dos feedbacks
Muitas pessoas evitam feedbacks por medo do julgamento, do desconforto ou de ouvir algo que abale sua autoestima. Outras simplesmente acreditam que já sabem tudo o que precisam saber. Isso as impede de enxergar pontos cegos, de evoluir e de se conectar verdadeiramente com os outros.
Segundo uma pesquisa da Harvard Business Review, 69% dos líderes dizem que não se sentem à vontade para dar feedback — e 37% evitam fazê-lo por completo. Agora imagine o impacto disso: não é apenas sobre o que não se diz, mas sobre o que se deixa de aprender.
As consequências de não ouvir
Quem não busca feedbacks vive em uma bolha. Acredita que está no caminho certo, mas pode estar repetindo os mesmos erros sem perceber. Essas pessoas tendem a estagnar, se frustram com resultados abaixo do esperado e, muitas vezes, culpam os outros por não alcançarem seus objetivos.
Além disso, a ausência de feedback pode comprometer relações pessoais e profissionais. Quem não está aberto ao retorno dos outros transmite arrogância, insegurança ou desinteresse — mesmo sem perceber.
Por que é tão difícil buscar feedbacks?
Existem diversas razões emocionais e culturais que dificultam esse processo:
- Medo da crítica: associamos feedback a algo negativo.
- Baixa autoestima: qualquer retorno é percebido como ataque.
- Experiências passadas ruins: feedbacks mal dados deixam traumas.
- Crenças limitantes: “Se me criticarem, é porque não sou bom o suficiente.”
Passo a passo para pedir e usar feedbacks com inteligência emocional
Buscar feedbacks e aprender com eles é uma habilidade que pode — e deve — ser desenvolvida. Isso exige mudança de mentalidade, autoconhecimento e coragem emocional.
- Mude sua percepção sobre feedback: Encare como um presente, não um julgamento. Pergunte a si mesmo: “O que posso aprender com isso?”
- Escolha pessoas confiáveis: Procure quem conhece seu trabalho, quer seu bem e sabe se comunicar com respeito.
- Seja específico ao pedir: Em vez de “O que achou?”, pergunte: “Como posso melhorar minha comunicação com a equipe?” ou “Meu trabalho nesse relatório atendeu às expectativas?”
- Escute com atenção e sem se defender: Respire, anote, agradeça. Mesmo que não concorde, reflita depois.
- Aplique o que fizer sentido: Feedback não é uma ordem, mas um ponto de reflexão. Use o que ajudar você a evoluir.
- Crie uma rotina de feedbacks: Faça disso um hábito. Por exemplo, após reuniões importantes ou entregas de projeto, pergunte: “Tem algo que eu possa fazer melhor da próxima vez?”
Exemplo prático: Como Ana virou o jogo ao escutar sua equipe
Imagine Ana, uma coordenadora escolar que sempre achou que sua equipe era desmotivada. Ao pedir feedback em uma reunião individual, ouviu: “Às vezes, temos ideias, mas você não nos escuta. Parece que já tem tudo decidido.” Foi um choque para ela. Mas, a partir disso, mudou sua postura, abriu espaço para escuta e, com o tempo, viu o engajamento aumentar.
O que você ganha quando aprende a ouvir
Pessoas que desenvolvem essa habilidade:
- Evoluem mais rápido;
- Melhoram sua comunicação;
- Fortalecem relações de confiança;
- Passam a ser vistas como líderes acessíveis e abertos;
- Reduzem conflitos, pois aprendem a ajustar comportamentos;
- E, acima de tudo, se tornam emocionalmente mais fortes e seguras.
Torne-se um caçador de crescimento
Buscar feedbacks e aprender com eles é um exercício de humildade e força. Quem faz isso diariamente amplia sua visão, corrige sua rota e cresce não apenas profissionalmente, mas como ser humano.
Se você quer fortalecer sua inteligência emocional, comece hoje mesmo. Peça a alguém de confiança: “Se você pudesse me dar uma dica para eu melhorar, qual seria?” — e escute com o coração aberto. Você não vai se arrepender. O seu futuro agradece.