Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Foto de capa: Serviço de Profilaxia da febre amarela: partida de uma turma para isolamento de um doente, 1904. Rio de Janeiro, RJ / Acerco Casa de Oswaldo Cruz
Em meados do século XIX, a cidade do Rio de Janeiro foi assolada por uma epidemia de febre amarela; os turistas deixaram de visitar a capital e a mortalidade, em trinta anos, atingiu mais de 7.000 pessoas, criando verdadeiro pânico na população. Praticamente nada se sabia sobre a doença, sua causa e transmissão, supunha-se que o contágio fosse direto de pessoa a pessoa; enquanto outros acreditavam na teoria dos miasmas, isto é, que o responsável pela doença fosse o ar atmosférico contaminado por elementos nocivos à saúde. O desconhecimento era total.
Amparado na teoria dos miasmas, a população procurava os locais de ar mais puro, limpo, sem doenças. Os nobres e os mais ricos fugiam para Petrópolis, os remediados para Nova Friburgo, enquanto a classe média baixa e os mais pobres permaneciam na cidade, esperando poder contar com a sorte, não sendo atingidos pela doença.
Por volta de 1875, a febre amarela apareceu em Cantagalo, começando por Santa Rita do Rio Negro (atual Euclidelândia) e, depois, no primeiro distrito. O temor dominou a população. Os dotados de recursos financeiros partiram para outras cidades, abandonando seu patrimônio; outros preferiram a zona rural, onde permaneceram isolados. Só os mais pobres e alguns corajosos continuaram na cidade. A febre amarela foi exterminando a população, quase todas as famílias perderam algum membro.
Algumas famílias foram para Nova Friburgo, para onde também se refugiavam os cariocas. Todavia, um jornal da cidade serrana publicou um artigo sugerindo a proibição da entrada de nossos conterrâneos, sem fazer menção aos que vinham do Rio de Janeiro, pois estes permaneciam durante todo o verão em hotéis ou em casas alugadas, com bons resultados econômicos para aquela cidade. Mais uma vez o interesse financeiro prevaleceu sobre o humanismo!
Consta que os intendentes, que correspondem hoje aos vereadores, desapareceram, também, da cidade. As vítimas da doença eram socorridas por alguns voluntários. A mortalidade atingiu um nível tão elevado que os sepultamentos passaram a ser em conjunto, em valas comuns. Pela manhã, o médico constatava os óbitos, os funcionários públicos recolhiam o cadáver, que era colocado em carroças tracionadas por burros, sendo levados para o cemitério e sepultados em valas comuns, cavadas por voluntários, funcionários públicos ou detentos da cadeia existente na cidade. A mortalidade foi tão alta que obrigou o poder público a construir outro cemitério, na margem direita da estrada São Martinho, depois da Chácara Queimada, cerca de 2 km do centro da cidade.
Na época, Cantagalo era um município em destaque na Província do Estado do Rio de Janeiro, todavia suas condições sanitárias eram precaríssimas, não havendo rede de distribuição de água potável nem rede de esgotos sanitários. Nas duas ruas principais (Direita e Santana), existiam valetas para drenagem das águas pluviais, que eram mal conservadas, permanecendo sujas com lixo, restos de alimentos e fezes humanas (conforme Dr. Clélio Erthal, CANTAGALO – Do surto da pecuária à industrialização do calcário).
Por outro lado, só existiam na cidade três chafarizes para distribuição de água para a população. Num trabalho penoso, as pessoas recolhiam água no chafariz mais próximo da residência para atender as necessidades domésticas.
Durante a epidemia, foi construído, atrás da Casa de Caridade de Cantagalo, em terreno elevado, um lazareto; prédio destinado a internar os doentes com febre amarela. Na minha infância, na década de 1940, quando comparecia àquele nosocômio em companhia de meu pai, ainda existia o velho prédio altaneiro, mas desativado.
Na penúltima década do século XIX, ao assumir a chefia da Intendência, o Dr. Francisco de Souza Gomes tomou uma série de providências, melhorando as condições sanitárias da cidade: o lixo das residências e a matéria fecal eram recolhidos em recipientes vedados e lançados na casa do despejo, construída na saída da cidade; por outro lado, as valetas da cidade passaram a ser limpas rigorosamente.
Finalmente, em 1894, com auxílio do governo do estado, foi inaugurado o serviço de distribuição de água potável. Recolhida nas nascentes dos Cambucás, no alto da Estrada da Batalha, a água era conduzida por tubulações metálicas até a caixa d’água construída em ponto elevado, onde existe até hoje, e dali distribuída a todas as residências.
Ao mesmo tempo, foi construída uma rede de esgotos sanitários em toda cidade, terminando na casa de despejo, onde passava por várias caixas de decantação, antes de ser lançado no córrego São Pedro, além dos limites da área urbana.
Na caixa d’água, em sua parte mais elevada, havia um ladrão que permitia que o excesso de água fosse encaminhado a uma caixa secundária, mais baixa. Essa, por sua vez, possuía um sistema de válvulas, que eram acionadas pelo peso de determinado volume d’água, permitindo a lavagem de toda rede de esgotos sanitários da cidade.
Com o crescimento da população urbana, a água dos Cambucás tornou-se insuficiente, obrigando o governo municipal, na década de 1960, a transferir sua distribuição para a CEDAE, que abandonou os Cambucás e passou a usar água tratada do rio Macuco; ficando a P.M. de Cantagalo com o serviço de esgotos sanitários.
Com os recursos financeiros que Cantagalo possui, atualmente, creio que deveria recuperar a captação dos Cambucás e voltar ao sistema de lavagem da rede de esgotos sanitários. Seria um método profilático e de evitar o terrível mau cheiro, exalado por alguns bueiros da cidade.
Um Comentário
Muito bem colocado Dr.Júlio. O mal cheiro e a falta de conscientização da população, deixa a cidade com mal cheiro na época da estiagem. Vamos lutar para que essa ideia vá a frente.