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Finalmente, depois de uma década e meia de marchas e contramarchas, não por culpa dos prefeitos, foi inaugurado, às 19 horas, do dia 17 último, o Centro Cultural Amélia Thomaz, na rua Maestro Joaquim Antônio Naegele. A demora foi consequência de algumas firmas construtoras, vencedoras das licitações, que não conseguiram cumprir as exigências contratuais.
Além de ótima presença de populares, compareceram vários secretários municipais, os onze vereadores, a vice-prefeita e o ex-deputado federal Luiz Sérgio, autor de emendas parlamentares que permitiram a execução do novo prédio. Com muita justiça, a solenidade foi iniciada com homenagens a este cidadão, recebendo da Câmara Municipal de Cantagalo uma Moção de Parabenização, de autoria do vereador José da Uta, assinada por todos os nossos representantes municipais.
Nessa parte inicial, houve uma grande lacuna, pois o nome da homenageada principal ficou esquecido; apenas o prefeito Guga de Paula teceu ligeiros, rápidos e superficiais comentários a respeito da extraordinária e notável prof.ª Amélia Thomaz, cuja vida foi totalmente dedicada à língua portuguesa e à educação de dezenas de gerações cantagalenses. Penso que ela deveria ser citada mais vezes, bem como seu notável trabalho em prosa e verso, que atravessou as fronteiras do Brasil, chegando ao Uruguai e à Argentina, países em que alguns autores mantiveram correspondência com a saudosa escritora cantagalense.
Quanto ao prédio, é de extraordinária beleza e luxo, estando situado atrás da Biblioteca Acácio Ferreira Dias. Dizem alguns que nesse local nasceu o Sr. Alberto Augusto Thomaz, primeiro prefeito de Cantagalo e pai da prof.ª Amélia Thomaz. Portanto, é um local, historicamente, riquíssimo.
A construção e os equipamentos custaram R$ 1.485.937,57; sendo R$ 677.187,57 de recursos da municipalidade e R$ 808.750,00 de duas emendas parlamentares do ex-deputado federal Dr. Luiz Sérgio, autor de outras emendas importantíssimas para Cantagalo, a quem o povo deveria ser eternamente grato.
O teatro tem o piso acarpetado em azul-marinho, com poltronas confortáveis de cor creme, ambiente climatizado, iluminação de ótima qualidade e própria para espetáculos teatrais, com amplo e excelente palco. Por citar o palco, é importante lembrar que a dinâmica secretária de Cultura, prof.ª Andréia Reis, preparou uma apresentação excelente para inauguração do palco, dividida em quatro etapas.
Na primeira fase, uma mini escola de samba infantil, com bateria, porta-estandarte, mestre sala e sambistas, Cantagalo do Futuro, contou a história de Cantagalo, com Mão de Luva, os povos que aqui chegaram e as riquezas do município.
A seguir, o poeta Xixa deu uma extraordinária apresentação de samba, com maravilhosas manobras de contorcionismo e equilíbrio manual do pandeiro, arrancando aplausos dos presentes.
A terceira fase ficou a cargo da prof.ª Anabelle Loivos Consídera, da prof.ª Gabriela Reis e da atriz Mary Ormonde, que apresentaram poesias da prof.ª Amélia Thomaz. Em seguida, a prof.ª Gabriela Reis prestou uma homenagem ao falecido Rafael Carvalhaes, artista, carnavalesco e ex-secretário de cultura, precocemente falecido.
Completando essa apresentação, a atriz Mary Ormonde declamou uma poesia em homenagem a artista cantagalense Rogéria; poesia baseada em música de autoria de Maurício e Mozart Freitas.
Encerrando a solenidade, o prefeito Guga de Paula entregou o pavilhão cantagalense ao ex-deputado Dr. Luiz Sérgio, simbolizando o agradecimento dos cantagalenses ao parlamentar que destinou diversas verbas ao município de Cantagalo.
A vida apresenta-nos algumas coincidências interessantes. Enquanto os vários oradores falavam, estive pensando que todos os obstáculos, ocorridos durante a construção do prédio, eram compatíveis com a vida da querida prof.ª Amélia Thomaz, pois ela não viveu em um mar de rosas, nem viajou em um céu de brigadeiro.
Filha do primeiro prefeito de Cantagalo. Sr. Alberto Thomaz, mais conhecido como Bebeto Thomaz, homem que renunciou ao cargo por não aceitar a corrupção, Amélia Thomaz viveu parte de sua vida na zona rural, inicialmente na Fazenda Bonsucesso, em Cordeiro, na época, segundo distrito de Cantagalo; posteriormente, na Fazenda Gavião Novo, hoje, Frigorífico do Cantelmo. Numa época em que os meios de comunicação e de transporte eram precários e as mulheres preparadas somente para o casamento, Amélia Thomaz superou todos estas barreiras, conseguindo aprimorar seus conhecimentos na língua latina, no desenho e, principalmente, no domínio completo da nossa difícil língua portuguesa, foi quase uma autodidata.
Além desses conhecimentos, Amélia Thomaz dominava, também, o espanhol e o francês, era um monumento de sabedoria, como poucos seres humanos conseguem ser.
A saudosa Amélia Thomaz foi adepta, na mocidade, do Partido Integralista, de Plínio Salgado, que tinha por lema Deus, Pátria e Família. Agremiação política da direita radical, que durante o Estado Novo tentou invadir o Palácio do Catete para depor Getúlio Vargas. O partido foi colocado na ilegalidade e os seus membros perseguidos, alguns presos e outros desaparecidos. Amélia Thomaz, nesse período, passou a ter uma vida difícil em Cantagalo, viajando para a cidade de Miracema, onde foi lecionar no colégio do prof. Sylvio Freire, que, segundo alguns daquela época, era da mesma tendência política da escritora cantagalense.
Retornando a Cantagalo, Amélia Thomaz criou, no porão habitável da sua residência, o Curso Amélia Thomaz, que preparava as crianças durante quatro anos (curso primário) para admissão ao ginasial. Ao mesmo tempo, passou a lecionar no Colégio Euclides da Cunha três matérias: português, desenho e espanhol.
Mais tarde, quando foi criado o Colégio Cenecista, lá estava a prof.ª Amélia Thomaz, ensinando português e desenho a juventude de Cantagalo.
Poetisa que escrevia com amor e com a alma, era, ao mesmo tempo, mulher de caráter inquebrantável, jamais se curvando às imposições dos que se consideravam mais fortes e prepotentes. Em suas magistrais aulas conseguia manter o domínio das turmas de jovens alunos que a temiam.
Na juventude, escreveu para a revista O Malho (Rio de Janeiro) e para diversos jornais. A prof.ª Amélia Thomaz deixou-nos uma riquíssima obra literária em verso e prosa; no primeiro grupo, encontramos: Jardim Fechado (lançado no Rio de Janeiro), Fonte de Aroma, Rosa de Jericó, Graal e Alaúde. Em prosa: Lameira de Andrade, Gente da Casa de Mão de Luva, Euclides da Cunha para Estudantes, O Mão de Luva, O Fundador de Cantagalo, sem contar artigos e poesias publicadas em jornais e revistas de várias cidades. Todavia, a maior obra de Amélia Thomaz foi a educação de múltiplas gerações que ela preparou para a luta diuturna, com suas aulas e seu exemplo de vida corretíssima em Cantagalo.
Em 15 de maio de 1968, foi nomeada pelo governador do Estado do Rio de Janeiro, o cantagalense Marechal Paulo Torres, primeira Diretora da Casa de Euclides da Cunha.
A prof.ª Amélia Thomaz foi agraciada com o título de Professor Emérito do Estado Rio de Janeiro, recebendo a medalha Euclides da Cunha.
Há muitos anos, em um artigo publicado no extinto O Jornal, Amélia Thomaz foi comparada ao poeta Olavo Bilac, pela beleza de suas poesias e perfeição em rimas e em métrica.
Deus permitiu que, durante onze anos, fosse aluno dessa professora (quatro no primário, quatro no ginasial e três no científico). Dela consegui sorver não só os ensinamentos mas também a firmeza de caráter. Considero a prof.ª Amélia Thomaz minha mãe espiritual, tamanho o contato e os ensinamentos que dela recebi.
Em 1965, retornei a Cantagalo, podendo retribuir, parcialmente, à querida professora, com assistência médica, o que ela me ensinou como mestre, até o seu falecimento em 19 de setembro de 1991. Aquela que cantou a natureza em versos e em prosa, faleceu na primavera, enlutando a cidade e deixando uma eterna saudade no coração daqueles que foram seus alunos.
Finalmente, a prof.ª Amélia Thomaz recebeu uma justíssima homenagem do poder público e do povo de Cantagalo.
Um Comentário
Faltou nessa inauguração do Centro Cultural uma exposição de artes plásticas, uma peça de teatro e um show musical. Não sei como é o cenário artístico de Cantagalo, mas acho que tem poucos artistas plásticos. Cordeiro deve ter mais, pela sua Tenda Cultural na exposição agropecuária.