Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Certa vez, ao abordarem Rubem Alves na porta de um restaurante, dois vendedores do método leitura dinâmica fizeram a seguinte pergunta: “O senhor gostaria de ler em 20 minutos um livro de trezentas páginas?” O escritor respondeu: “Vocês estão loucos? O prazer requer tempo.”
Nesse momento, relembrei os tantos livros que passaram pela minha vida e deixaram saudade. A nostalgia não vem do check list daqueles que declamo ser conhecedora, até por um pouco de vaidade para ser mais precisa.
O saudosismo vem por causa do momento da leitura, da interação com as personagens, das meditações após um parágrafo afiado, do reflexo do meu ser retratado pelo autor. Para quem nunca sentiu, recomendo: a companhia de um livro é algo reconfortante.
Os filósofos, atemporais, estão por aí, nas páginas rasgadas de tinta, prontos para nos guiarem em momentos de angústia, levando a instantes de lucidez… ou puro desvario. O entendimento de seus ensinamentos demanda disponibilidade, algo desafiador em tempos de TikTok.
Os grandes clássicos não foram escritos da noite para o dia. O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë, foi gestado por 9 meses. William Golding escreveu o Senhor das Moscas em cinco anos. Victor Hugo demorou 12 longos anos para concluir a obra Os Miseráveis: um Jean Valjean não nasce em um piscar de olhos.
Na contramão, está o mundo fast-food, de pronta-entrega e, mais recente, de livros produzidos em instantes por Inteligência Artificial. Acredite: na livraria on-line, eles já são aos montes (gratuitos e pagos)! A cada minuto ou hora, um novo lançamento, seguindo os ritos chamativos no título: Os 10 passos para a felicidade; Como se tornar um bilionário em 1 mês; Fórmula para atrair o ex em 1 semana.
Um traço do mundo contemporâneo: a rapidez, o instantâneo, o descartável. Ter 25 anos, sem a casa própria, parece ser um escárnio. E a fortuna proveniente de investimentos em Bitcoin? Como ainda não a encontrei, já tendo chegado aos 19 anos de idade? Ah… não podemos esquecer os currículos com uma vastidão de trabalhos, em diferentes empresas, no início da carreira.
Se meu bom avô estivesse vivo, diria a estes tempos: “Querem todos, no desespero, chegar ao outro lado do rio, sem verdadeiramente atravessá-lo.”
Sendo assim, a solução seria voltarmos aos hábitos de outras gerações? Alguns, sem a ideia de que uma geração é melhor do que outra. Compreensão de texto, no Brasil, é uma matéria de fortes embates; sem a leitura plena, ou seja, dedicada e em hábito, como serão identificadas as intenções de uma ironia? Não há bom pianista clássico que tenha dominado, sem dedicação, o instrumento. A palavra é esse piano do dia a dia de um ser.
Voltando a Rubem Alves: “Quando pensamos que estamos ganhando tempo, na verdade, estamos estragando o tempo. A vida é para isso: gastar o tempo”. Para esta Páscoa, um convite: que livro demorado nos dará a satisfação da leitura?