Superthal e Caravana da Coca-Cola fazem noite mágica em Bom Jardim
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Sebastião José de Carvalho e Melo (1699/1782), o Marquês de Pombal e Conde de Oeiras, diplomata e estadista português, foi secretário de Estado do rei D. José I. Era uma figura carismática, mas controversa. A “ovelha negra” do império português.
A Infanta, todavia, pede ao Duque de Santo Tirso para participar de uma reunião “às 10 horas da noite, dia 28 deste mês de agosto (1758), na casa do Senhor Marquês Velho, e lá talvez encontre a solução para o problema que parece insolúvel”. O Duque confirma sua presença.
Acácio narra em minúcias, nominando todos os presentes, com a presença do Duque de Santo Tirso à reunião na casa de D. Francisco de Assis Távora (Francisco de Assis Baltazar José António Bernardo Tomás Gonçalo de Távora – 1703/1759). A reunião foi presidida pelo padre Gabriel Malacrida (1689/1761), jesuíta italiano, inimigo do Marquês de Pombal (*). O encontro tinha por objetivo “traçar o plano para afastar do poder o Ministro de D. José I, o Marquês de Pombal”. D. Manoel Henriques, após desancar o Marquês, conclui enfático: “Morte ao tirano!”. D. Maria não estava presente.
Segundo Acácio, em 13 de setembro de 1758, o Duque de Santo Tirso foi preso, “encarcerado nas masmorras de Belem” e a “a 11 de setembro de 1759, Santo Tirso é considerado réu do crime de lesa majestade” e é “privado de seus títulos nobiliárquicos, de suas ordens, e confiscados todos os seus bens, escapando do cadafalso por interferência, muito velada, da Princesa D. Maria, sendo apesar dessa alta proteção, condenado ao exílio perpétuo, nas longínquas terras da Colônia Brasileira”.
D. Maria, trajada com espesso véu, “nas vésperas do embarque para o degredo perpétuo, na longínqua colônia do Brasil”, tem com o agora plebeu Manuel Henriques, longos diálogos, segundo a fértil imaginação do historiador. A infanta diz a Manuel Henriques que “mais cedo ou mais tarde, serei a soberana deste reino, e desse momento em deante nada, absolutamente nada, na superfície da terra, impedirá a nossa união sagrada pelos laços do casamento”. Ante a incredulidade ou fraqueza de seu amado, D. Maria afirma-lhe:
– Usareis na destra, uma luva de couro, preta, esta que aqui vos entrego, que será sempre substituída quando rasgada ou inutilizada, por outra igual. Só a retirareis definitivamente da mão, para colocá-la desnuda e sem mancha pecaminosa na mão da rainha de Portugal, recebendo-a como esposa. Este crucifixo, relíquia de minha infância, será a vossa bússola nas horas amargas, fazendo-vos lembrar o poder da Fé. Guarde-o com carinho. Aqui tendes também esta bolsa cheia de dinheiro, não recuseis! Ides para uma estranha terra e necessitareis nos primeiros tempos, de recursos.
Manuel Henriques, imediatamente, afirma:
– Juro usar eternamente esta luva negra na mão direita e trazer sobre o peito esse crucifixo. Aceito a bolsa, apenas como empréstimo!
“Um beijo trocado por ambos, selou o juramento fatal”.
Na realidade, D. Maria não cumpriu sua palavra. Cerca de um ano depois, casou-se, com seu tio D. Pedro (Pedro III – 1717/1786), “quiçá levada pelos interesses da corôa ou pela diabólica política de Pombal”.
O cognome Mão de Luva foi dado a Manuel Henriques pelo comandante “do brigue Afonso de Albuquerque, o capitão Oliveira, um velho lobo do mar”.
Após desembarcar no Rio de Janeiro, Manuel Henriques, ao lado de seu parceiro Francisco de Paula, teria se ligado a dois aventureiros que iam garimpar ouro “nas proximidades de um riacho, que nasce nas cabeceiras da Serra do Queimado, além de Vila Rica”, nas Minas Gerais.
Após uma difícil jornada até as proximidades de Vila Rica, Manuel Henriques aparece como chefe de um grupo de garimpeiros a caminho das terras dos “certão ocupado por índios bravos”, posteriormente Cantagalo: José da Silva Leite e seu escravo Narciso, Pedro Vieira de Menezes, Antônio Novaes, Francisco Pegádo, Onofre Bernardes, Felício Martins e José Preto.
Acácio narra a trajetória de Mão de Luva em sua caminhada, passando pela Aldeia dos Coroados, “penetrando a mata fechada, à força de golpes de facão e de machados” até chegarem ao que seria a aldeia do Mão de Luva e seus companheiros de garimpagem.
Estabelecido entre as montanhas que circundam a nossa cidade, Mão de Luva foi edificando cabanas, com o auxílio de seus irmãos e do trabalho escravo.
Narra Dias sobre a chegada de Mão de Luva e seus companheiros à região dos “certão de índios bravos”, mais tarde conhecida como “Sertões de Macacu” ou Cantagalo:
“Penetrando a mata fechada, à força de golpes de facão e de machados, viram margens ponteagudas de extensa garganta, por onde as águas esprimidas se brutalizavam na nudez das massas de granito, numa carreira doida de monstros fabulosos triturando”. Embora a linguagem sugira algo grandioso, era um acidente geográfico natural a que Mão de Luva batizou de “Cachoeira do Ronca-Pau”, por suas características.
Notas
(*) Marquês de Pombal foi um nobre, político e diplomata português. Atuou como embaixador nas cortes inglesa e austríaca, foi Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Ministro do Reino. Pertenceu ao governo português entre 1750 e 1777.