Contas de 2023 da Prefeitura de Carmo recebem parecer prévio favorável à aprovação
Lembro de um episódio que mudou minha forma de enxergar as pessoas. Eu tinha acabado de ser promovido e participaria da minha primeira reunião com outra equipe. Estava ansioso para causar uma boa impressão. Cheguei cedo, organizei meus papéis e as pessoas foram chegando. Entre elas, veio um jovem, com uma camiseta simples, mochila jogada no ombro e um andar relaxado demais para um ambiente formal. Me peguei pensando: “Sério? Parece que saiu direto da praia para a reunião.”
Durante os primeiros minutos, ele ficou calado. Enquanto os outros usavam palavras difíceis e expressões técnicas, ele só ouvia. Eu já tinha concluído: “Desinteressado, despreparado e provavelmente nem sabe o que está fazendo aqui.” Até que, em um momento de impasse, quando ninguém conseguia propor uma solução viável para o problema, ele levantou a mão, pediu licença e, com simplicidade surpreendente, desmontou o problema em três partes, mostrou o impacto de cada uma e sugeriu um plano de ação enxuto, criativo e eficaz. A sala ficou em silêncio. Era exatamente o que precisávamos — e ninguém tinha enxergado.
Fiquei envergonhado. Queria tanto parecer competente e fui rapidamente lembrado de que competência não se mostra pela roupa que usa. A melhor contribuição daquela reunião veio da pessoa que eu quase descartei com base apenas na aparência e comportamento. A partir desse dia, passei a observar mais e julgar menos. E percebi o quanto ganhei com isso.
Julgar Sem Conhecer é Como Ler Só a Capa
Julgar rapidamente é quase um reflexo automático. Nosso cérebro, para economizar energia, usa atalhos mentais e, assim, nos faz tirar conclusões com base em pouca informação. É como tentar entender um livro pela capa: você pode até acertar o gênero, mas jamais entenderá a história sem ler o conteúdo.
Segundo estudos, bastam 100 milissegundos para formarmos uma primeira impressão — e, muitas vezes, mantemos essa impressão mesmo diante de novas informações que a contradizem. A tendência ao julgamento rápido é real e automática, e deve ser reeducada.
O Custo Alto de Julgar Rápido Demais
- Pessoas rompem vínculos antes mesmo de construí-los.
- Desenvolvem preconceitos que limitam suas experiências pessoais e profissionais.
- Tomam decisões equivocadas, baseadas em impressões e não em fatos.
- Sentem culpa, arrependimento ou vergonha ao perceber que foram injustas.
- Perdem oportunidades valiosas de conexão, aprendizado e crescimento.
Por exemplo, ao julgar que um colega é “incompetente” por ter dificuldade com tecnologia, você pode ignorar que ele tenha décadas de experiência e um senso estratégico que falta à equipe. Ou, ao achar que uma pessoa calada é “antipática”, você pode deixar de conhecer alguém extremamente gentil e profundo.
Por Que Somos Tão Rápidos em Rotular os Outros?
- Falta de autoconhecimento: muitas vezes projetamos nos outros inseguranças ou experiências passadas.
- Pressa e estresse: quando estamos sobrecarregados, não queremos gastar tempo compreendendo o outro.
- Crenças limitantes: aprendemos desde cedo a associar aparência, fala ou comportamentos a determinados rótulos.
- Medo de se decepcionar: preferimos julgar logo para nos proteger emocionalmente.
- Ambiente competitivo ou tóxico: onde ser o primeiro a apontar falhas parece uma vantagem.
Passo a Passo para Escapar da Armadilha do “Julgador Interno”
A chave está em desacelerar o pensamento automático e substituí-lo por uma curiosidade ativa e consciente. Parar de julgar rápido exige treino, mas traz resultados surpreendentes.
- Reconheça o julgamento: sempre que notar um pensamento crítico surgindo (“essa pessoa é preguiçosa”, “ele é arrogante”), reflita por um instante. Exemplo: “Estou achando essa pessoa antipática. Por quê?”
- Questione a origem: pergunte-se se está baseando esse julgamento em fatos ou em suposições. Exemplo: “Ela está quieta, mas isso não significa que não seja simpática.”
- Considere outras possibilidades: pense em pelo menos duas interpretações diferentes para o comportamento observado. Exemplo: “Talvez ele esteja cansado, ou apenas introvertido.”
- Pratique a empatia: tente imaginar como é estar no lugar da outra pessoa. Exemplo: “Será que ela passou por algo difícil hoje?”
- Dê tempo: adie a conclusão. Espere mais interações antes de formar uma opinião definitiva. Exemplo: “Vou conversar com ela mais algumas vezes antes de tirar qualquer conclusão.”
- Desenvolva curiosidade genuína: substitua o julgamento por uma pergunta. Em vez de pensar “essa pessoa é estranha”, experimente “o que será que fez ela agir assim?”
O Que Você Ganha ao Trocar o Julgamento Pela Compreensão
- Relacionamentos mais sólidos e respeitosos.
- Decisões mais justas e assertivas.
- Mais abertura para a diversidade e a inovação.
- Leveza emocional, sem o peso da crítica constante.
- Líderes e colegas mais inspiradores e confiáveis.
Julgar é Automático. Compreender é uma Escolha
Julgar é humano, mas compreender é transformador. Que tal exercitar, a partir de hoje, a arte de observar antes de rotular? Em vez de fechar portas com julgamentos apressados, que tal abrir janelas para novas possibilidades? Na próxima vez que aquele pensamento crítico surgir, respire fundo, observe, questione — e escolha conhecer antes de concluir. Sua inteligência emocional agradece. E seus relacionamentos também.