“Renascimento Cultural”, por Júlio Carvalho

Espetáculo de teatro é apresentado no Centro Cultural em Cantagalo

Durante muitos anos, Cantagalo foi um centro cultural de importância no estado do Rio de Janeiro, com vários cantagalenses se destacando em diversos ramos da atividade humana: medicina, direito, engenharia, jornalismo, literatura, vida militar, etc. Sem falar na riqueza cafeeira mantida pelos braços dos infelizes escravos africanos.

Na minha infância, ainda havia em Cantagalo companhia teatral, que apresentava peças interessantes, embora fosse formada por artistas amadores; ao mesmo tempo, Cantagalo era a única cidade da região que possuía o curso ginasial, convergindo para nossa cidade jovens dos outros municípios vizinhos. Todavia, com o passar do tempo, outras atividades lucrativas foram surgindo e a cultura começou a ser esquecida, embora a cidade possua três ótimos colégios estaduais: o Lameira de Andrade, o mais tradicional deles; o Maria Zulmira Torres, construído no governa do cantagalense Marechal Paulo Torres; e o CIEP João Nicolau Filho, criado em nosso município, no governo de Leonel Brizola, graças ao empenho do meu saudoso colega e amigo Dr. João Nicolau Guzzo. Sem citar os colégios particulares, como CEDUC e o Euclides da Cunha, que também se esmeram na preparação dos jovens alunos.

Cantagalo, através da sua história, sempre foi sede de jornais, defensores dos direitos do povo e das ideias políticas. Atualmente, possui o Jornal da Região que, apesar dos obstáculos encontrados por todos os jornais interioranos, permanece vivo, circulando por dez municípios, durante 37 anos, graças à tenacidade e verdadeira batalha diuturna de seus proprietários.

Durante vários anos, depois que Cantagalo criou a Secretaria de Cultura, parece que os titulares desse órgão municipal consideravam que cultura se limitava a shows com artistas caros que, depois de uma apresentação de duas ou três horas, retornavam ao local de origem, levando um bom dinheiro do município. É claro que música é cultura, mas a verdadeira cultura é muito mais ampla, envolvendo diversos ramos da atividade humana.

De algum tempo para cá, felizmente, parece que houve um despertar da cultura cantagalense. Em março de 2021, o Prof. Celso Frauches, depois de longa ausência, retornou a Cantagalo, criando o Instituto Mão de Luva, objetivando recuperar a memória de nossa querida terra natal, com estúdio para gravações e serviço de microfilmagem, tudo mantido com recursos próprios, num trabalho hercúleo.

No dia 17 de maio último, depois de cerca de quinze anos de marchas e contramarchas, vimos, com grande alegria, a inauguração do Centro Cultural Amélia Thomaz, obra que se tornou realidade graças a duas emendas parlamentares do ex-deputado Luiz Sérgio (PT), no valor de R$ 808.750,00, com contrapartida do município de Cantagalo em R$ 677.187,57.

Esta obra tão importante para a cultura de nossa comunidade, além de ser uma justa homenagem a uma mulher que dedicou toda sua vida ao ensino e à cultura, foi inaugurada no momento em que a Secretaria de Cultura de Cantagalo se encontra entregue a dinâmica Prof.ᵃ Andrea Reis que, desde a abertura do teatro, não cansa de providenciar eventos culturais.

No dia 31 de maio, foi a apresentação da peça teatral “As 3 Marias, de autoria do cantagalense Gabriel Naegele, filho do casal Prof. Desidério Naegele Rodrigues e Sr.ᵃ Vânia. Sucesso já apresentado em vários pontos do país.

No dia 2 de junho, foi a vez de um conserto sinfônico com nossa querida e centenária Sociedade Musical XV de Novembro, sob o comando do regente Marildo Feuchard, intercalando peças populares com clássicas. Espetáculo de total agrado do público presente.

No próximo dia 28, às 18 horas, no mesmo local, serão mostrados dois documentários de valor histórico: 1) O Barão de Cantagalo e a Fazenda Santana – Resultante de pesquisa do Sr. Álvaro Lutterbach junto ao Arquivo Nacional e a outras fontes; 2) A escravidão em Cantagalo: os modos de viver de 17 mil homens e mulheres escravizados – Trabalho de pesquisa da Sr.ᵃ Nice Erthal.

No dia 29, data da tradicional Festa dos Carecas, haverá uma representação teatral, no mesmo local, às 20 horas, com um grupo de Nova Friburgo, com a peça “A Promessa”. Quanto tempo não havia teatro em Cantagalo!

Ao mesmo tempo que o Centro Cultural Amélia Thomaz funciona a todo vapor, a Casa de Euclides da Cunha comemorou um ano de sua reabertura com um belíssimo espetáculo cultural ao ar livre, dividido em duas partes.

Na primeira, apresentação do Coral Madrigal do Villa, da Escola de Música Villa Lobos, do Rio de Janeiro, com excelentes cantores e maravilhoso coral. Emocionei-me com a potência de voz da Talita, jovem que deverá progredir na arte de cantar. Que Deus a proteja, bem como todos os que aqui alegraram nosso domingo.

A segunda parte foi um show com Biafra, Dalton e Nico Rezende. Tudo patrocinado pela Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro. O evento contou com as simpáticas presenças da secretária de Cultura Estadual, do presidente da FUNARJ e do deputado federal Áureo Ribeiro, um dos baluartes para a reabertura da Casa de Euclides da Cunha.

Como observamos, os meses de maio e junho assinalaram um verdadeiro renascimento cultural de Cantagalo. Que essas iniciativas se repitam durante o restante do ano para alegria e educação de todas as gerações cantagalenses.

 

Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo
Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo

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