“Você é um pai assim?”, por Amanda de Moraes

Há padrastos mais pais do que muitos pais. Estendo, em forma de texto. A paternidade envolve muitas responsabilidades e expectativas, que se diferem a depender do ângulo em análise. Aqui eu escrevo mediante o olhar de filha, que, com toda a certeza, é diferente de outros olhares.

Ao falar sobre pai, logo vem à mente cuidado e proteção. Seja porque a figura masculina ganhou essa conotação pela estrutura da sociedade, seja pela visão de um filho, indefeso frente ao mundo, que espera isso de um adulto… O ponto é que essas duas tarefas estão umbilicalmente ligadas ao conceito de paternidade.

Em princípio, a função protetora remete à segurança. Em um olhar longínquo e pedagógico, melhor seria o cuidado necessário para que as crianças forjassem asas fortes e articuladas, para os voos mais desafiadores.

Cuidar é preparar o filho para enfrentar à vida, que sabemos ter, vez ou outra, uma grande potência destrutiva (tristezas, perdas). Essa perspectiva não é uma ode ao pessimismo, mas suceder ao filho, tão somente, a visão unilateral da existência poderá atrofiar seus membros. Pior: não ajudará na caminhada se foram levados apenas no colo.

Haverá dores que pertencerão ao indivíduo, sem que o pai possa evitar. Um afago sempre ajuda. No entanto, maturidade e sabedoria vêm com a andança própria, de cada ser. A vida está longe de ser só flores (ouvimos essa frase mais do que os nossos sobrenomes); a rosa é bela, mas contém espinhos.

Se aos que confiamos os nossos cuidados não nos ensinarem sobre a realidade (como ela é), a vida, que adora pregar uma boa peça, terá de fazer o trabalho sozinha. Muitas vezes, não é das mais doces mestras.

O cuidado do pai em tornar um filho adulto se assemelha a um bom treinador. O campo, a vida. O atleta, seu filho. Essa referência não se relaciona às melhores escolas, os mais preparados cursos, um currículo lattes invejável, mas em saber transitar pela vida com a resiliência necessária para forjar, dentro de si, um ser humano cada vez melhor.

A função paterna está longe de ser limitada a fornecer prazeres e evitar dores. Cuidar e proteger é, antes de tudo, ajudar sua prole a ter pernas firmes para a caminhada, braços alongados para ajudar o próximo e um coração destemido que busca escrever a sua própria história.

Aos pais: chorem diante dos filhos; ensinem a dançar na chuva; mostrem toda a vulnerabilidade masculina. Homens também choram, e o mundo sabe disso. Esse campo, em breve, será de todos os filhos.

Eis uma das grandes missões dos pais: construir, mediante seus filhos, uma sociedade mais justa, equânime e pacífica. Aos pais conscientes do real conceito do educar a vida toda a minha admiração. E aqueles que ainda não: é sempre tempo de ler, aprender, corrigir-se, perdoar e ser feliz.

 

Amanda de Moraes Estefan é advogada, no Rio de Janeiro, e sócia do escritório Mirza & Malan Advogados. Ela é neta do ex-prefeito de Trajano de Moraes, João de Moraes.
Amanda de Moraes Estefan é advogada, no Rio de Janeiro, e sócia do escritório Mirza & Malan Advogados. Ela é neta do ex-prefeito de Trajano de Moraes, João de Moraes.

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