“O Lençol de Turim – IV (Estudos Médicos)”, por Júlio Carvalho

Santo Sudário

Santo Sudário

No final do século XIX, em 1898, o fotógrafo amador, o italiano Secondo Pia, realizou a primeira fotografia do Sudário de Turim; apesar de não ser das melhores qualidades, a fotografia mostrou a primeira surpresa: a imagem do homem do lençol era um negativo, enquanto as manchas de sangue eram positivas.

Se o Sudário fosse uma fraude da Idade Média, qual artista iria realizar essa proeza, naquela época em que não havia nem fotografias?

No século XX, o sudário foi submetido a fotografias com técnicas modernas e apresentado na televisão com mais detalhes. A partir das imagens fotografadas, médicos de diversos países do mundo passaram a estudar o homem do sudário e as múltiplas lesões distribuídas pelo seu corpo, realizando uma verdadeira autópsia.

Um dos pioneiros nesses estudos foi o cirurgião Pierre Barbet, do Hospital São José, em Paris, e professor da Faculdade de Medicina da mesma cidade. Barbet realizou diversas experiências com cadáveres e, também, com alunos voluntários, chegando a várias conclusões.

Com os voluntários, fez algumas experiências, em que os mesmos permaneciam com os braços elevados, na posição do crucificado. No final de algum tempo, passavam a sentir dificuldade para respirar, concluindo o professor que os crucificados morriam por asfixia lenta.

O Prof. Barbet crucificou cadáveres com os cravos nas palmas das mãos, como é comum aparecer nas imagens religiosas; no dia seguinte, ao entrar no anatômico, encontrava o cadáver caído no chão, pois os músculos Inter ósseos das mãos, sendo muito delgados, rasgavam não suportando o peso do corpo. Concluiu que os cravos eram colocados nos punhos dos condenados, por onde passa o nervo mediano, causando dor insuportável.

Além dessas citadas, realizou outras experiências que o levaram a várias conclusões sobre os sofrimentos e morte dos condenados a crucificação.

Em 1935, publicou o livro Paixão e Morte de Jesus Cristo segundo o Cirurgião; primeiro trabalho que li sobre o assunto, em 1958; presente de minha saudosa cunhada Mirtes Marisa Ventura. A partir desse momento, tornei-me um apaixonado pela matéria.

Outro médico que se interessou pelo estudo do Sudário foi o francês Dr. Yves Delage, conhecido internacionalmente; era ateu e membro da Academia Francesa de Ciências. Dizia que o dia em que a humanidade deixasse de ser religiosa e acreditar em Deus, o mundo progredirá.

Durante dezoito meses, analisou a imagem do Sudário, auxiliado pelo biólogo Paul Vignon, usaram uma potente lente para aumentar as partes analisadas e o microscópio para exame dos mínimos detalhes.

No dia 2 de abril de 1902, Dr. Delage realizou uma conferência na Academia de Ciências de Paris sobre o Sudário e sua imagem. Sala cheia, com predominância de cientistas ateus que compareceram na esperança de que o Dr. Delage, também ateu, iria desmascarar definitivamente aquela grande farsa montada pela Igreja Católica.

Depois de demonstrar que comparando as lesões encontradas no Sudário com as descrições dos Evangelhos, concluiu que o homem do Sudário é Jesus Cristo.

Os cientistas ateus que se encontravam presentes passaram a vaiá-lo, com insultos e ameaças de agressões, obrigando-o a sair pela porta dos fundos da Academia de Ciências da França.

Dez dias depois o Dr. Delage, em um artigo na Revue Scientifique, justificando sua conferência, escrevia, entre outas coisas: “Ao falar deste tema, fui fiel ao verdadeiro espírito científico, procurando tão somente a verdade, sem me preocupar o mínimo possível se com isso podia prejudicar os interesses de alguma ideologia. Eu reconheço a Cristo como personagem histórico e não entendo por que há pessoas que consideram escandaloso o fato de que sigam existindo rastros materiais de sua vida”.

Em 1931, novas fotografias do Sudário foram realizadas pelo fotógrafo Giuseppe Ernie, com máquinas modernas que geraram imagens mais perfeitas e detalhadas, o que facilitou o estudo de médicos interessados no assunto em todo mundo ocidental, como os italianos G. Judica Cordiglia e Baima-Bollone, Hyneck (tcheco), o português Dr. Antero de Frias Moreira, do Centro Português de Sindologia, o espanhol Dr. Bernardo Hontanilla, os norte-americanos Dr. Robert Bucklin e Dr. Frederick T. Zugibe, PhD, MD, legista; no Brasil, o Dr. José Humberto Cardoso Resende, cirurgião plástico, e tantos outros que se dedicam a esse apaixonante estudo do Sudário, cuja imagem mostra as lesões corporais coincidentes com as que aparecem nos Evangelhos.

O Dr. Zugibe é autor de um livro de 438 páginas em que realiza verdadeira autópsia do homem do Sudário, em que contesta algumas teorias sobre o mecanismo de morte do condenado. É um trabalho técnico, árido e de leitura trabalhosa e até cansativa. Inicialmente, estava nas mãos de uma professora do litoral fluminense que o passou para uma colega de Cantagalo; as duas desistiram da leitura, sendo que a cantagalense me presenteou com o livro.

O médico espanhol, Dr. Bernardo Hontanilla, estudando a imagem do Sudário, declarou que ela exibe sinais de vida e de morte, lembrando a figura de um homem se levantando. Será o exato momento da ressurreição?

O Dr. Cardoso Resende tem alguns trabalhos sobre o assunto; li dois de seus livros: O Santo Sudário – Ciência e Fé, e Feridas de Jesus; trabalhos bastante interessantes. Baseado no Sudário de Turim; como cirurgião plástico, esculpiu a face de Cristo.

No dia 23 de novembro de 1973, na primeira apresentação do Sudário na televisão, assim se expressou o Papa Paulo VI: “A Face de Cristo, ali representada, se nos apresenta tão verdadeira, tão profunda, tão humana e divina, como em nenhuma outra imagem havíamos podido admirar e venerar. Qualquer que seja o juízo histórico e científico que exigentes estudiosos chegarem a manifestar sobre esta surpreendente e misteriosa relíquia, não podemos nos eximir de fazer votos para que, essa relíquia, sirva para conduzir aos visitantes uma observação sensível das linhas exteriores da maravilhosa figura do Salvador, senão que possa introduzi-los a uma mais penetrante visão de seu escondido e fascinante mistério”.

 

Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo
Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo

 

Leia mais:

“O Lençol de Turim – III”, por Júlio Carvalho

Ver anterior

Webinar das Cidades Digitais reúne prefeituras da Região Centro Norte

Ver próximo

Justiça acolhe pedido do MPF e determina que município de Saquarema regularize Portal da Transparência

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais Populares

error: Conteúdo protegido !!