“Educação na era digital”, por Celso Frauches

O futuro não é mais como era antigamente.
Renato Russo

 

O mundo passa por momentos impensáveis há uns vinte anos. Experimenta a quarta revolução industrial, em pleno e rápido desenvolvimento, envolvendo todos os setores da economia e da sociedade. Nesse ambiente, o virtual passa a ter uma relevância inédita, com a internet e os avanços extraordinários das tecnologias digitais da informação e comunicação (TDICs), a internet das coisas.

A educação, em todos os níveis, não pode ficar alheia a essa revolução, repetindo fórmulas vigentes na terceira revolução industrial, ultrapassada há décadas.

Uma educação de qualidade tem o educando no centro do processo de aprendizagem e o professor como um orientador qualificado para auxiliar, colaborar e estimular os seus discípulos nesse processo em momentos de transformações. Ensinar também.

A Educação 4.0 exige uma gestão de líderes perfeitamente identificados com esses tempos inusitados e cada vez mais capacitados para a inovação disruptiva, o empreendedorismo, a economia criativa, antecipando-se às mudanças, com a oferta de cursos e programas de educação superior que atendam às novas necessidades da sociedade e do setor produtivo.

Como aumentar a produtividade, com menos evasão escolar e mais eficácia e eficiência gerencial acadêmico-administrativa, é o desafio que se apresenta inevitável para os líderes da gestão escolar e acadêmica neste ciclo da economia digital ou economia compartilhada.

A gestão vai abandonando o seu formato vertical para o horizontal, inclusivo, compartilhado, mediada pelas TDICs. A estrutura organizacional deve passar por mudanças radicais, compatíveis com os novos tempos que surgem com mais velocidade neste século 21, a Nova Era.

A qualidade da Educação 4.0, contudo, deve ser conduzida de forma simples, não importa a metodologia de aprendizagem adotada. Deve ser como ensina o mestre Rubem Alves[1]:

A qualidade que não seja meio para a felicidade é como panela importada que faz angu encaroçado. É melhor parar de importar panelas. É preciso desenvolver, antes, a capacidade de sentir prazer. Mas, para isso, as escolas teriam de ser diferentes, as cabeças dos pais teriam que ser diferentes, as cabeças dos professores teriam que ser diferentes: menos saber e mais sabor, como nos aconselharam Barthes e Borges [2], ao final de suas vidas.

Não bastam as TDICs, computadores, tablets, smartphones ou qualquer outro mobile que seja inventado para que a revolução da Educação 4.0 aconteça. E seja êxito completo. A educação trabalha somente com o ser humano. O seu “produto” final é um ser humano, educado, feliz, pleno para o exercício da cidadania, da profissão escolhida e influenciar a sociedade com o seu conhecimento.

 

Educação na era digital

 

O ser humano é criado para a felicidade, à imagem e semelhança do Criador. O gestor universitário, os educandos, educadores e os profissionais de apoio são seres que devem ter a felicidade como meta permanente. Trabalharem na atividade que seja prazerosa, plena de riqueza emocional e profissional.

E a aprendizagem do conhecimento e da felicidade é um espaço artesanal entre educandos e educadores, como ilumina o mestre Rubem Alves [3]:

Eu diria que os educadores são como as velhas árvores. Possuem uma face, um nome, uma “estória” a ser contada. Habitam um mundo em que o que vale é a relação que os liga aos alunos, sendo que cada aluno é uma “entidade” sui generis, portador de um nome, também de uma “estória”, sofrendo tristezas e alimentando esperanças. E a educação é algo para acontecer nesse espaço invisível e denso, que se estabelece a dois. Espaço artesanal.

A Educação 4.0 depende de educadores que saibam construir esse espaço artesanal, comprometidos com a aprendizagem e de gestores que liderem a si mesmos e sejam fonte de felicidade na tomada de decisões e na liderança para a construção, monitoramento e consolidação do projeto de cada escola e universidade. Instrumentos que devem ser elaborados a partir de estratégias que analisem o presente e investiguem o futuro, em todos os setores da sociedade, intra e extracampos.

Pois ser mestre é isso: ensinar o caminho da felicidade.

 

[1] ALVES, Rubem. Conversa com quem gosta de ensinar: (+ qualidade total na educação). Campinas–SP: Papirus, 2000, p. 135.

[2] Roland Barthes é autor do ensaio A Morte do Autor e Jorge Luis Borges de Borges e Eu.

[3] ALVES, Rubem. Conversa com quem gosta de ensinar: (+ qualidade total na educação). Campinas–SP: Papirus, 2000, p. 19.

 

Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.
Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.

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