“A arte de transformar comportamentos em resultados parte 24: O poder devastador do feedback ofensivo”, por Jalme Pereira

Feedback ofensivo

Feedback ofensivo

Durante uma reunião de equipe, o gerente se dirige a um colaborador e diz: “Seu relatório está um lixo. Você só pode estar brincando se acha que isso é aceitável. Sempre faz tudo errado, nunca melhora. Não sei como você ainda está aqui.

Um pai vira para seu filho e diz: “Você é um vagabundo! Não presta para nada. Nunca vai ser ninguém na vida“.

Uma criança, cheia de entusiasmo, mostra seu desenho aos pais ou professores, esperando um elogio ou um feedback construtivo. Em vez disso, ouve comentários como: “Isso não parece nada” ou “Melhor tentar outra coisa, você não é muito bom em desenho.

Diálogos assim, recheados de julgamentos, opiniões, frustrações e desesperança, se enraízam no inconsciente das pessoas, principalmente quando proferidos por quem se ama ou admira. Geram crenças limitantes e causam danos duradouros à autoestima, confiança e motivação.

O impacto do feedback ofensivo

O problema é que o feedback ofensivo costuma ter um impacto devastador em qualquer pessoa e em diferentes ambientes. Afinal, somos, em grande parte, moldados pelos feedbacks que recebemos ao longo da vida. Eles criam crenças e padrões mentais inconscientes, influenciando nossas reações e decisões. Conheci uma pessoa que, após um curso que dei sobre feedback, ficou por algum tempo sentada, olhando para o nada, e disse: “Agora eu entendo o que ele fez comigo“. Ela se referia ao pai, que sempre lhe dizia que ela não conseguiria ser nada na vida. Esse tipo de feedback negativo tende a minar a confiança e a autoestima de uma pessoa. Da mesma forma, quando alguém se esforça para entregar um projeto e recebe críticas mordazes ou comentários sarcásticos, o resultado pode ser igualmente devastador, gerando:

1) Desmotivação e redução de produtividade: o feedback ofensivo desmotiva, reduzindo significativamente o entusiasmo e a produtividade. Pessoas desmotivadas não têm o mesmo nível de engajamento ou criatividade.

2) Aumento do estresse e ansiedade: comentários negativos e desrespeitosos podem aumentar os níveis de estresse e ansiedade, prejudicando a saúde mental e o bem-estar dos indivíduos.

3) Erosão da confiança e autoestima: a confiança e a autoestima são diretamente afetadas, tornando os indivíduos mais hesitantes e inseguros em suas ações futuras.

4) Deterioração dos relacionamentos: o feedback ofensivo pode deteriorar rapidamente os relacionamentos profissionais e pessoais, criando um ambiente de desconfiança e ressentimento.

Segundo uma pesquisa da Harvard Business Review, funcionários que recebem feedback ofensivo têm uma redução de até 40% em sua produtividade.

Exemplos de feedback ofensivo

O feedback ofensivo ocorre por diversos motivos, muitos dos quais estão relacionados à falta de habilidade de comunicação, emoções à flor da pele, ambiente muito competitivo, falta de respeito e empatia (desconsideração dos sentimentos dos outros), pressão, estresse e confusão entre feedback e crítica.

Para entender melhor, aqui estão alguns exemplos de feedback ofensivo:

* Críticas pessoais: comentários que atacam a pessoa em vez do comportamento ou do trabalho realizado. Exemplo: “Você é realmente incompetente.

* Sarcasmo: usar sarcasmo para criticar. Exemplo: “Parabéns, mais um trabalho mal-feito.

* Generalizações negativas: fazer generalizações que colocam em dúvida a capacidade da pessoa. Exemplo: “Você nunca faz nada certo.

* Humilhação Pública: criticar alguém na frente dos outros, causando vergonha e constrangimento.

Como evitar o feedback ofensivo

Para garantir que o feedback seja construtivo, é crucial adotar práticas que promovam o respeito e a compreensão. Aqui estão algumas estratégias:

1) Foque no comportamento, não na pessoa: em vez de “Você é incompetente“, diga: “O relatório que você entregou continha alguns erros. Vamos revisar juntos para identificar onde melhorar.

2) Use linguagem neutra e respeitosa: em vez de “Essa sua ideia é estúpida“, diga: “Acho que essa abordagem pode não funcionar por alguns motivos (citar exemplos). Podemos pensar em alternativas?

3) Seja específico e construtivo: ao invés de focar nos erros, ofereça sugestões específicas e construtivas. Destaque os pontos positivos e incentive o crescimento. Em vez de “Você sempre estraga tudo“, diga: “No projeto recente, houve problemas na execução. Vamos analisar o que deu errado e como podemos evitar isso no futuro.

4) Evite comparações: comparar alguém com outra pessoa pode ser extremamente prejudicial. Cada indivíduo é único e deve ser avaliado por seus próprios méritos.

5) Escolher o momento e lugar adequados: feedbacks delicados devem ser dados em um ambiente privado e de maneira respeitosa, evitando humilhação pública.

A prática constante de feedback respeitoso e construtivo fortalece os laços interpessoais e cria um ambiente mais produtivo e colaborativo. Ao evitar feedbacks ofensivos, promovemos um ciclo virtuoso de motivação e melhoria contínua.

Que tal começar, hoje mesmo, a refletir sobre suas práticas de feedback e a adotar uma abordagem que promova o respeito e o desenvolvimento mútuo? O impacto positivo dessa mudança será sentido tanto no ambiente de trabalho quanto nos relacionamentos pessoais.

 

Jalme Pereira é músico, palestrante, desenhista e trabalha na Universidade Veiga de Almeida (UVA)
Jalme Pereira é músico, palestrante, desenhista e trabalha na Universidade Veiga de Almeida (UVA)

 

Leia mais:

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