Sociedade Musical 15 de novembro: 100 anos de muitas histórias

CÉSAR MANSUR

Através de uma rápida pesquisa, vamos, aqui, tentar contar a história da Sociedade Musical 15 de Novembro.

Diz a história de bandas do município de Cantagalo-RJ que, até o início do século XX, havia aqui duas bandas de música: A 7 de Setembro e a Flor de Maio, que eram duas bandas políticas.

A 7 de Setembro pertencia ao grupo político de Dr. Honório Pacheco, que, segundo contam, era um político temperamental e, em certos momentos, até violento.

A Flor de Maio era do partido de Dr. Júlio Santos, político completamente diferente do seu adversário. Dr. Júlio Santos era calmo, ponderado e nunca tomava atitudes violentas.

Embora houvesse muita rivalidade entre as duas bandas, que eram de muita qualidade, havia uma pequena superioridade para a Flor de Maio, que reunia maior simpatia popular.

Lembram os mais antigos que, em dias de retreta da Flor de Maio, as moças da sua torcida saiam às ruas vestidas de azul e branco e, nos dias da 7 de Setembro, as moças adeptas desta vestiam-se de verde e amarelo.

No período de 1913 a 1914, aconteceu uma verdadeira decadência das duas bandas, que encerraram, definitivamente, suas atividades, embora houvesse um grande grupo de músicos que não se conformaram com aquela situação.

Numa bela manhã de 15 de novembro de 1914, Edmo Ferreira da Silva, Horácio Araújo, Isolino Alves (pai do saudoso músico e maestro Celso Alves e do também ex-músico e diretor João Alves), Joaquim Pinto Gomes; Alfredo Teixeira Torres; Paulo Keller e outros amantes da música, que sempre se reuniam no bar do Sr. Eudorico Alves, o ponto de encontro da sociedade cantagalense (hoje, onde é a loja da Riedy, em frente à delegacia) e, após muita conversa, sob a liderança do Sr. Guilherme Sauerbronn, alemão, aqui residente, industrial, proprietário de uma cervejaria, resolveram que, naquele momento, estava fundada a SOCIEDADE MUSICAL 15 DE NOVEMBRO, nome escolhido pelo grupo em alusão à data cívica.

Na mesma reunião, foi escolhido para maestro o músico Domingos José Cidade e, em seguida, saíram todos visitando e convidando todos os músicos para participassem daquele movimento, no que foram atendidos, acontecendo, então, naquela tarde de 15 de novembro de 1914, à base de muito entusiasmo, sem ensaios, sem repertório previamente escolhido e à paisana, a primeira apresentação da nova banda de música.

O primeiro presidente, após a gestão do Sr. Guilherme Sauerbronn, foi o síriolibanês Elias Antônio Yunes. Depois, vieram: Dr. Joaquim de Souza Carvalho Júnior (mais de uma vez), David da Costa Lage (também reeleito); Walter Tardin; Rodolfo Tardin; Walter de Almeida Soutelino (também músico); Dr. Francisco Leite Teixeira; Carlos Gomes Pereira (por diversas vezes) que também era músico; Edmo Japour (reeleito), Nacib Mansur (músico), Manoel Martinez Corbal (reeleito). Nacyr Aiub Nacif; Jorge Ernesto Pinto Farah. Sérgio Campanate (músico); Jorge Ferreira, Nacib Miguel Mansur e, atualmente, novamente o músico Sérgio Campanate.

Devemos, aqui, abrir um parêntese para destacar, com muita justiça, a atuação do casal Manoel Corbal e Elvira de Castro Corbal que, realmente, foram os que mais ajudaram a Sociedade Musical 15 de Novembro com a doação do terreno e ajuda substancial na construção da nossa antiga sede, além de atendimento a toda espécie de solicitação, inclusive com a doação de 40 fardas.

Muitos passaram pela regência da Sociedade Musical 15 de Novembro. Alguns não por muito tempo, por motivo de mudança para outros municípios. O primeiro maestro foi o músico Domingos José Cidade, de 1914 a 1925.

Em 1925, tendo em vista séria crise financeira, já não era possível trazer maestros de outros municípios. Mesmo assim, nossos abnegados músicos não desistiram e, no mês de junho, na Festa do Sagrado Coração de Jesus, estreava como regente o músico Edmo Ferreira da Silva, que, infelizmente, veio a falecer no dia 26 de dezembro de 1930.

Após 30 dias de respeitoso luto, reiniciadas as atividades com o contramestre Izolino Alves, que regeu até março de 1931, quando, a serviço, foi transferido para o município de Campos, indicando para assumir seu posto o músico e contramestre Carlos Gomes Pereira.

Ao voltar a residir em Cantagalo, Izolino Alves reassumiu, por duas vezes, a regência da banda, em substituição ao então maestro Carlos Gomes Pereira, por problemas de saúde, que, ainda em 1931, foi obrigado a se ausentar pelos mesmos problemas, deixando em seu lugar o Sr. José Naegele, que só deixou a regência quando de sua mudança para Niterói, reassumindo, então, mais uma vez, a batuta, o inesquecível e, até hoje respeitado músico, maestro, compositor e arranjador, Carlos Gomes Pereira.

Em 1974, ao se aposentar, o então maestro Carlos Gomes Pereira indicou para substituí-lo o contramestre Celso Alves, que foi auxiliado pelo também músico e maestro Celso Guimarães, até que, por motivo de saúde, foi obrigado a se ausentar, ficando, então, a batuta, com o maestro-arranjador Celso da Silva Guimarães.

ALGUMAS HISTÓRIAS QUE MARCARAM

Ainda em 1974, foi criado um grupo de trabalho composto pelos músicos João Alves, Celso Guimarães, José Lack Dias e Nacib Mansur, com a finalidade de ajudar a direção executiva na solução de pequenos problemas internos e de menor gravidade, que, por ventura, surgissem. A partir da criação desse grupo, a Sociedade Musical 15 de Novembro, que, até então, se apresentava apenas em nossa cidade e distritos, começou a participar dos recém-criados concursos de bandas civis, do Mobral. O 1º foi realizado no município de Miracema-RJ, onde, sob a regência do maestro Celso Guimarães, a nossa banda foi a grande campeã, classificando-se para a segunda fase, realizada na Quinta da Boa Vista, no município do Rio de Janeiro, e, embora não tenha se classificado para a outra fase, foi eleita a de melhor e de maior comunicação com o público, pela crítica jornalística que cobria o evento.

No segundo concurso, realizado no município de Bom Jesus do Itabapoana-RJ, aconteceu a nossa grande decepção pela falta de seriedade dos jurados, que, mesmo comprovadamente estando a nossa banda classificada e designada para concorrer naquele polo, não deram notas para a nossa apresentação, alegando ser a 15 de Novembro, de Cantagalo, de nível muito superior às outras participantes e, portanto, sendo considerada hors concours. Este fato gerou à nossa diretoria e grupo de trabalho certo desânimo e descredibilidade quanto à organização daquele concurso, fazendo com que houvesse um afastamento, até que, quando da realização do polo em nosso município, mesmo com a organização do concurso tendo negado o pedido de participação como hours concurs, a diretoria da banda resolveu que, por uma questão de ética e até por ser anfitriã, participaria sem maiores pretensões, e foi tão boa, tão destacada a performance, que saímos, mais uma vez, vencedores e classificados para a segunda etapa, realizada no Clube Municipal da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde conseguimos o honroso terceiro lugar dentre tantas renomadas bandas do nosso estado. No ano seguinte, fomos premiados com um honroso terceiro lugar.

Os vários e belíssimos troféus conquistados pela nossa honrada agremiação musical acham-se expostos em nossa sede.

Além destas, a nossa Sociedade Musical 15 de Novembro teve outras destacadas atuações e, aqui, vale lembrar que, através do nosso músico e então comunicador César Mansur, fizemos a abertura do Programa ‘Aqui e Agora’, na extinta TV TUPY, do Rio de Janeiro, ao vivo, e, no mesmo dia, nos apresentamos no Campo de São Bento, em Niterói, a convite do prefeito daquele município, Dr. Valdenir Bragança.

Também em Muriaé-MG, atendendo a honroso convite, nos fizemos presentes ao Encontro de Bandas promovido pela Prefeitura daquela cidade, e, no ano seguinte, nos apresentamos na Feira da Bondade, na mesma cidade, a convite de uma rádio local.

Em Bom Jesus do Itabapoana, mais uma vez nos destacamos com sucesso na Exposição Agropecuária daquele município. Divulgamos, ainda, o nome do nosso município, através da música, na Vila Pereira Carneiro e Jardim São João, em Niterói-RJ.

Marcante também foi a nossa apresentação de gala nas escadarias da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, contratados que fomos através da Funarte.

A Sociedade Musical 15 de Novembro se apresentou, ainda, no Sambódromo, no Rio de Janeiro, onde, dentre 50 bandas presentes, fomos um dos destaques no encerramento.

Pelas sempre belíssimas apresentações, seja na qualidade de repertório, dos músicos, no comportamento, etc., nossa banda sempre foi muito requisitada para abrilhantar as festas nos mais distantes rincões no nosso estado e de Minas Gerais, a exemplo de: Trajano de Moraes, Valão do Barro, Visconde de Imbé, São Fidélis, Sapucaia, Porto Velho (MG) e outras.

As histórias mais antigas nos foram narradas através de conversas com os srs. Nacib Mansur, Walter de Almeida Soutelino, João Alves, Celso Alves, Carlos Gomes Pereira e outros, além de ser eu, testemunha ocular e participante de algumas nos, pelo menos, últimos 57 anos.

Ao encerrar essa narrativa, na qual, com maior tempo de pesquisa, com certeza muitas coisas poderiam ser acrescentadas, espero que todos se conscientizem que “MÚSICA NÃO TEM FRONTEIRAS”. Por isso, é importantíssimo que exista maior intercâmbio de músicos entre bandas, que uma ajude a outra e, principalmente, haja maior participação e envolvimento do povo em geral, para que possamos manter viva a chama da nossa cultura, e que não se acabem as bandas do interior.

Aproveito para, com muito carinho, agradecer a um por um dos meus colegas de estante da 15 de Novembro e de outras bandas que aqui estiveram dando-nos o prazer de um convívio sadio e de amizade e, com muito carinho, ao Grupo Amigas da Banda, aos prefeitos e secretários que, ao longo desses anos, nos deram apoio, e a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realização deste centenário.

Parabéns à atual diretoria pela inauguração e atualização da GALERIA DOS MÚSICOS IMORTAIS, DIRIGENTES, MAESTROS, MÚSICOS QUE POR AQUI PASSARAM E MÚSICOS ATUAIS. Parabéns, saudosos músicos, maestros e dirigentes que por aqui passaram! Parabéns músicos, maestros, dirigentes e agregados que aqui se encontram! Parabéns Sociedade Musical 15 de Novembro pelos 100 anos!!

Cantagalo, RJ, novembro de 2014.

*César Mansur é músico e diretor da Sociedade Musical 15 de Novembro.

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